Capítulo 1

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Pov Kira

Gritei, sentindo uma dor terrível dilacerar meu ventre. O sabor metálico invadiu minha boca, era o indício do sangue que escorria. Meu corpo foi lançado para frente, implorando por socorro em meio ao caos. Enquanto a alcateia da Lua Negra lutava contra seus inimigos, ninguém parecia notar que a filha do alfa Kairos estava em perigo.

Minha última lembrança foi observar o lobo de pelagem negra se aproximando rapidamente. Seu peso me atingiu violentamente, empurrando-me para o desconhecido. Tudo o que recordo é meu corpo girando no ar, antes de colidir brutalmente com uma rocha pontiaguda. Desde aquele dia, a escuridão se tornou minha única companhia. Eu me tornei a filha cega do afa.

Entre as sombras que dançam sob o luar, testemunhei os anos fluírem, marcados não apenas pelo eco dos gritos de guerra que despedaçaram a Lua Negra, mas pela amarga solidão que se instalou em meu ser desde que a escuridão devorou meus olhos.

Um véu de abandono me envolveu quando me tornei prisioneiro da escuridão, afastando amigos e confiantes como se eu fosse uma maldição a ser temida. Aqueles que outrora compartilhavam risos e promessas se dissiparam na penumbra, deixando-me à mercê de um vazio gélido.

Restaram-me apenas Anne, cuja lealdade resistiu ao teste implacável do tempo, e Richard, cuja coragem é forjada na ferocidade das batalhas contra os Lycans. Em um mundo mergulhado na escuridão, eles são as únicas luzes titubeantes que guiam meus passos incertos.

Enquanto as sombras se enroscam ao meu redor, sussurrando segredos antigos e promessas de ruína, eu me agarro a eles como âncoras em um mar tempestuoso, buscando abrigo na amizade que permanece como uma frágil chama na escuridão implacável da Lua Negra.

— Hoje é o grande baile de acasalamento. Soube que o belo Richard, lhe chamou para acompanhá-la.

Sorrio, sentindo os fios do meu cabelo sendo separados conforme eu o escovo. O cheiro de rosas frescas, da fragrância de Anne invade o ambiente.

— Sim. Estou muito entusiasmada. Minha loba e eu, sabemos que ele é o nosso companheiro. Acredito que essa noite será para confirmar as minhas suspeitas.

— Você está apaixonada não é mesmo?

— Estou. Dou um longo suspiro. — Confesso que temia que ninguém pudesse me amar por conta da minha condição. Penso em Richard. — Eu confio completamente no meu bravo guerreiro, eu sei que jamais iria me enganar, ou jurar falso amor. Sabe, Anne... Dentro de mim, sei que ele me ama e que viveremos unidos, meu companheiro e eu, como a deusa Luna deseja.

— Eu fico imensamente feliz com isso.

Ela me ajuda a me preparar para a festa. Eu poderia me vestir sozinha, mas para uma pessoa com deficiência visual, era importante ter alguém para auxiliar nessas ocasiões. Era engraçado ser maquiada por outra pessoa, e não enxergar o resultado. A minha confiança em minha melhor amiga era imensa. Eu sabia que iria arrasar tanto no cabelo como na maquiagem.

Junto as sobrancelhas sentindo o vestido curto me apertar. Desse modo Richard irá pular a etapa do baile de acasalamento, me levando direto para sua cama.

— Não está curto demais?

— Está na medida correta.

— Correta para o quê? Eu não quero aparentar segundas intenções.

Sinto seu bufar. Provavelmente está revirando os olhos nesse exato momento.

— Você está linda, é isso que importa.

//

Eu não estava à vontade naquela festa. Anne, estava ao meu lado, Richard em outro, mas a sensação que percorria o meu peito eram que todos estavam rindo de mim. Eu esqueci daquela sensação quando ele me ofereceu um copo, segundo ele, de coloração roxa. Eu jamais havia bebido em toda minha vida, ponderei a ideia, e acabei aceitando.

— É a mulher mais bela do baile, sabia? Ele falou ao pé do meu ouvido, me causando arrepios. Senti quando seus lábios finos, tocaram aos meus. Isso me constrangeu. — Não vejo a hora de estarmos sozinhos e eu poder ver o que tem debaixo desse vestido.

Meu rosto se apertou, eu estava envergonhada e levemente exitada. Continuei tomando daquele líquido. Incrivelmente ele estava me deixando mais alegre e desinibida. Por longos segundos, dancei com Richard. Eu esperava que ele dissesse aquelas duas palavras, "minha companheira", mas nada emitiu. Aparentemente eu não era sua companheira, isso me entristeceu. Continuamos dançando, até que minha cabeça se pôs a doer. Parecia que um piano havia sido arremessado sobre ela.

— Eu preciso ir ao banheiro. Sussurrei para Anne.

— Você quer que eu vá para lhe acompanhar?

— Somente me deixe na porta e eu sairei sozinha.

Conforme o meu pedido, ela me deixou ao banheiro. Ao sair do reservado, joguei um pouco da água em meu rosto. Confesso que a bebida havia me deixado zonza. Balancei a cabeça dispensando a dor que latejava.

Eu precisava dessa festa. Não podia deixar que dores banais me desviassem do meu objetivo. Eu voltarei aos braços de Richard e irei declarar o meu amor para ele. Independente da nossa ligação, eu quero ele como o meu companheiro de vida, e assim será.

Retornar sozinha para pista de dança não foi uma tarefa fácil. O aglomerado de pessoas me fazia ser empurrada, como um fino papel. Eu já não sabia mais onde estava, até que entrei em um corredor. Tateei as paredes, a fim de encontrar a saída. Antes que eu fosse embora, gemidos baixos chamaram atenção.

Andei alguns passos, sentindo os sons mais fortes. Eu não podia enxergar, mas eu sabia que aquele cheiro de rosas frescas eram de Anne. Sorri brevemente. Ela vai me ajudar, pensei. Outro cheiro familiar invadiu o meu nariz. Ervas e canela eram odores oficiais de Richard.

— Anne... Richard.

— Kira! Ela falou.

— Não é nada disso que você está pensando!

Com alguns passos para trás, eu girei o meu corpo e corri o mais rápido que pude. Queria fugir de todo aquele sentimento de traição que me percorria. Eu não queria saber de mais nada, a não ser correr até esquecer os maus pensamentos, que insistiam em me fazer imaginar a cena anterior.

Fui surpreendida ao sentir o meu corpo tombar em uma parede dura. Antes que eu caísse ao chão, uma mão forte segurou a minha cintura. O meu corpo se arrepiou por completo. O cheiro de madeira e pinho exalou. Eu tinha convicção que poderia sentir aquele odor por um bom tempo e não me enjoar.

Arfei quando meu corpo foi erguido, me forçando a ficar em pé. Aquela mão grande e áspera arranhou a minha cintura me causando arrepios em lugares inimagináveis. Ergui a mão direita a fim de saber o que estava em minha frente. A pele quente emitiu vibrações entre meus dedos, causando um pequeno choque surpreendente.

Seu peito parecia uma pedra, como o seu abdômen. Deixei os meus dedos explorarem. Senti os fios lisos do seu cabelo, eram macios e longos. Suas orelhas estavam queimando, seu nariz arrebitado apontava para a lua, boca de linha fina e pelos rasos compunha a face. Novamente desci as mãos. Retirei imediatamente quando notei que estava pelado evidenciando sua excitação.

— Minha nossa!

Coloquei as mãos na boca. Eu ouvi a sua risada de escárnio. Eu não sei que acontecia comigo, senti vontade de tocar novamente, me controlei. Ele puxou minha cintura com força, fazendo-me arfar. Aquele corpo quente colado ao meu estava me causando uma série de sentimentos. Eu sentia o seu hálito de menta aquecer o meu nariz.

Meu ventre se contorceu, esquentando a divisão entre minhas pernas. A sensação de adrenalina fazia o meu corpo arder em chamas. Eu estava perdidamente atraída por aquele homem. Com toda certeza eu estava louca, não sabia se era por conta daquela bebida de líquido roxo, ou a raiva da traição.

A minha atitude em seguida quebrou todas as regras do protocolo. Avancei em seus lábios, sedenta por aquele homem. Nossos corpos ferveram, explorando cada parte um do outro. Ele estava com fome, como se se eu fosse a sua próxima refeição, querendo me devorar por completa.

Ao final da noite, eu cometi a maior louca da minha vida mudando toda a minha história. Eu entreguei minha virgindade para um desconhecido.

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A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora