Capítulo 79- Sangue de Gardênia

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Kira

O príncipe estava devastado e eu não estava diferente. Assim que soubemos do que aconteceu, eu não hesitei em pegar emprestado o celular de Carlota e ligar para o alfa. Aquilo não podia ocorrer, pessoas inocentes estavam morrendo por conta de uma briga boba. Eu não admitia que o meu direito de escolha estava sendo desafiado por dois homens que nem sequer sabia se me amavam.

Ele afirmou com todas as letras que não iria recuar caso eu não voltasse para alcateia dele. Eu também não iria voltar atrás com a minha decisão. Ao fundo, sabia que esse era um método do alfa de me intimidar, manipular as minhas emoções para que eu concordasse com o que ele queria.

— Raios! Ouvi o soar de um aparelho batendo ao azulejo. O príncipe estava ligeiramente nervoso. Era possível escutar os sons da raiva acometida saindo por seus lábios. — Ele me paga! Isso não irá ficar assim!

Eu caminhei até ele. A minha intenção era ajudá-lo a se acalmar, mas a sua retirada brusca afastando a minha mão, foi o suficiente para me fazer recuar.

— Tenha calma.

— Como? Hein! Como? O seu alfa de merda, destruiu com tudo. Ele acabou com o meu reino em um piscar de olhos, sem dar margens para defesa.

Eu apertei os lábios.

— Você não tem noção, Kira. Todos os holofotes estão virados para minha direção. Ordenei que todos os meus soldados dos mais velhos aos mais novos, atacassem o acampamento de Tyson. A metade voltou, e a outra metade morreu.

Separei os lábios minimamente, espantada com a sua revelação. Imaginava quantas famílias estavam a chorar naquele exato momento. Coloquei o dorso da mão a boca, impactada ao imaginar a crueldade que foi cometida. Eu nunca irei perdoa-lo.

— Isso não ficará assim. Eu enviarei todas as autoridades possíveis até ele. Arregalei os olhos. — Se for preciso eu inicio uma guerra mundial. Eu não irei sossegar enquanto não obtiver o corpo daquele desgraçado em minhas mãos.

— Calma, não precisa ser assim.

— Está me pedindo calma? A gargalhada que soltou me constrangeu. — A mesma proporção que está me fazendo mal, será a mesma que irei utilizar. Irei torturá-lo até a morte.

Eu senti o meu ventre se arrepiar. Talvez tenha sido o bebê que está em minha barriga, ou somente o medo de ter o meu companheiro assassinado pelo meu marido.
Eu senti quando as suas mãos tocaram nas minhas. Ele juntou com as suas e colocou acima do seu peito.

— Agradeço muito por estar ao meu lado. Acredito que eu não conseguiria seguir em frente se não tivesse a minha esposa por perto, o meu combustível. Eu tenho certeza que Tyson irá pagar caro por tudo que está fazendo conosco. Fique despreocupada.

Ele beijou a minha testa.

— Tudo bem, Gael.

//

Eu não poderia permanecer impassível, esperando o mal acontecer. Eu sabia que era errado, que eu estava desafiando as leis e as autoridades, mas eu tinha que me encontrar com o alfa para clamar que pudesse recuar e acabar com essa guerra. Eu não queria que mais pessoas pagassem por erros não cometidos, e acima de tudo, eu não queria que o pai dos meus filhos morresse na batalha.

Eu estava no jardim secreto do palácio, o lugar que sempre me oferecia um alívio temporário das tensões e intrigas da corte. O sol estava se pondo, lançando uma luz suave sobre as flores e arbustos, e eu me sentia desolada, sabendo o que precisava dizer.

Tyson estava ali, diante de mim, seu coração carregado de esperança e desespero. Sentia seu coração bater forte, cada batida uma lembrança do peso da decisão que eu tinha pela frente.

— Tyson, eu preciso que você vá embora. Eu disse, a voz quase quebrando. — É o melhor para todos nós.

Ele deu um passo mais perto, suas mãos tremendo ligeiramente.

— Kira, por favor, não diga isso. Podemos encontrar um lugar onde não precisaremos nos esconder. O que importa é o nosso amor e o futuro do nosso bebê.

Eu o olhei espantada. Óbvio que ele sabia da gravidez e paternidade, era o alfa e podia sentir as vibrações, sabia tudo o que acontecia comigo. Tentando ignorar a dor que suas palavras me causavam, eu caminhei até ele. Meu coração estava dividido entre o desejo de correr para ele e a necessidade de permanecer onde estava.

— Não é assim que as coisas funcionam. Este reino... este casamento... há muito em jogo aqui. Eu realmente gosto de Gael.

Tyson agarrou minha mão com força, sua tensão em uma mistura de desespero e determinação.

— Não é apenas por conta do casamento. Pense na sua vida, a nossa vida. Não podemos viver longe um do outro, nós nos amamos. Pense no nosso filho, Kira.

Senti uma onda de emoções misturadas e sabia que precisava de tempo para processar tudo. Com um esforço, soltei sua mão.

— Não estou pedindo nossa reconciliação imediata. Eu sei que te magoei demais quero reparar todo o meu dano. Volte comigo para alcateia dos laicos. Esse reino não é para você. Em nossa casa, pode ser que realmente é, e não tem que fingir amar alguém que não ame.

Eu juntei a sobrancelhas. Depois dos acontecimentos recentes, era mais do que óbvio que eles iriam caçar os lobos.

— Eu... eu preciso pensar. Há muito em jogo e eu não posso tomar uma decisão agora.

Tyson se afastou lentamente, seu corpo se tornando uma silhueta distante enquanto ele se virava para partir. Por sua respiração pesada, sabia que sentia dor e resignação.

Quando ele desapareceu pela porta do jardim, percebi um movimento estranho, um som pela floresta. Ketlin, a governanta da casa, estava escondida atrás de um arbusto, percebi pelo seu cheiro enjoativo. Não havia dúvida de que ela havia ouvido toda a conversa.

Ela saiu do jardim com uma rapidez que denunciava sua intenção. Seus passos eram decididos, e eu soube que a mente dela estava trabalhando a todo vapor, arquitetando planos que poderiam muito bem ser minha ruína. Fiquei ali, sozinha, com a sensação crescente de que as sombras ao meu redor não eram apenas do entardecer, mas também das intrigas que se aproximavam.

Eu me perguntei se conseguiria encontrar uma saída para a situação em que me encontrava, enquanto as complicações de minha vida se acumulavam ao meu redor. Questionei a mim mesma se gostava de Gael suficiente para permanecer em seu reino. Eu não sabia a resposta.

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A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora