Capítulo 70- Acidente no parapeito

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— Grávida?

Sinto a sua voz mais densa do que antes. Não é fácil dizer para uma pessoa que você está grávida, uma mudança radical em toda a sua vida, mas ele não deveria se preocupar, o filho não era dele.

— Quantos meses?

— Talvez dois.

— Caramba... Mesmo que esse filho não seja meu, eu teria que inventar alguma desculpa para que as pessoas acreditem que seja o meu filho.

Inclinei a cabeça. Pisquei os olhos rapidamente, tentando assimilar o que ele queria dizer.

— Você fingirá que é o pai do meu filho?

— É claro! Diz com firmeza. — Se você irá se casar comigo, não posso deixar margens para que a mídia manipule a situação, e lhe coloque como uma prostituta, uma mulher qualquer.

Esse era o meu medo desde o princípio. Que as pessoas começassem a falar mal de mim quando descobrissem a gravidez. Não poderia esconder por muito tempo. Tendo alguém ao meu lado para assumir a paternidade que não é dele, é de se admirar. Minha face estava triste, eu tinha vergonha de mim mesma. Vergonha do meu passado, de ter novamente um filho do alfa que foi companheiro de minha mãe. No fundo, eu ansiava que alguém realmente um dia pudesse me amar verdadeiramente e amar o filho que estou esperando.

Erguendo a minha cabeça, o príncipe acariciou meu maxilar. Eu senti a profundidade do qual ele me olhava, pois as suas vibrações eram fortes. Virei o rosto não queria que sentisse pena de mim. Surpreendentemente ele me puxou para um abraço, eu não hesitei.

— Eu não sei as mágoas do passado, não sei o que traz em seu coração, mas eu te prometo que enquanto estiver ao meu lado, eu lhe protegerei.

Senti um alívio tremendo em meu ser, uma segurança que nem ao menos meu companheiro havia me feito sentir. Aconcheguei a minha cabeça em seu peito, sentindo as suas carícias em meu cabelo. Era estranho demais estar tão próxima de alguém que eu não tinha intimidade. Incrivelmente ele me fazia bem. Afastou minimamente os nossos corpos. Alguns fios do cabelo ficaram presos aos seus, isso me fez estar bem próximo a ele. Eu podia sentir a sua respiração atravessar a minha. Decidi dar um passo para trás.

— Não se preocupe, não encostarei um dedo em você, sem a sua permissão.

Eu sorri timidamente e inclinei a cabeça em agradecimento. Ele segurou a minha mão direita e me conduziu ao lado de fora. Eu respirei fundo e pisei ao salão, no mesmo momento os flashes começaram.

— Você é a nova noiva do lord Gael? Quando se conheceram? De qual reino a senhorita pertence?

Eram muitas perguntas e eu estava apreensiva com que iria responder. Senti que sua mão repousou sobre a minha, passando segurança que tudo ficaria bem. Deslizando levemente a língua sobre os lábios, tomei posse de uma coragem inexistente e comecei a falar.

— Meu nome é Kira. Eu sou de Lua Negra. Há muitos anos os nossos pais nos prometeram em casamento. Iremos nos casar. Não há mais o que falar.

— Como o senhor explica isso? Algumas semanas atrás todos os sites diziam que iria se casar com Verônica Armoni. Agora aparece com uma desconhecida, afirmando que ela é sua prometida. O que o senhor tem a declarar sobre isso?

— Uma insanidade! Percebo a voz de uma mulher ecoar ao fundo da sala. — Meu filho só pode estar louco! Retirem tudo o que ele disse, eles não irão se casar.

Nem preciso dizer como tudo terminou. A vergonha estampou em minha face, e caminhou comigo até que eu saísse daquela sala. Os guardas de outra hora me ajudaram a subir as escadas na sala principal e caminhar até o meu quarto novo. O cheiro de madeira maciça invadiu as minhas narinas. Eu sabia que estava em um lugar esplêndido, mas precisaria tocar em cada detalhe para enxergar.

— Então você se chama Kira, e é de Lua Negra. Será que na sua cidade imunda, não te ensinaram a não darem em cima de homens comprometidos?

Senti o cheiro doce e enjoativo. Pelo caminhar da conversa, entendi que se tratava de Verônica. Caminhei dois passos em sua direção e ergui minha face. Não deixarei mais ninguém pisar em mim.

— Eu não tenho nada a ver com isso, mas se ele quis se comprometer comigo, e lhe deixar, deve ser porque você não é boa o suficiente para ser a princesa de Gardênia.

Ela sorriu.

— Isso só pode ser uma piada. Eu conheço o meu noivo, e sei que ele jamais se relacionaria com alguém em suas condições.

— Eu não tenho vergonha da minha condição, sou cega, sim, posso dizer que enxergo melhor que você. Enxergo a sua alma e veja o que é podre.

— Se você sabe que sou má, não deveria se colocar na minha vida. Eu realmente posso transformar a sua vida em uma desgraça. Posso descobrir o seu ponto fraco, e lhe ferir com isso.

Logan...

— Melhor que você vá embora. Tenho certeza que o príncipe não vai gostar nada se souber que você veio me incomodar em meu quarto.

— Seu quarto? Ela sorri. — Quando Gael terminou o relacionamento comigo e inventou esse baile, eu fiquei indignada. Não entendi como poderia ser tão estúpido em terminar um compromisso de anos, selado por nossos pais.

Cansada de seu discurso, eu caminhei até o parapeito. Senti o vento me guiar e me chamar até ele.

— Ele não podia ter feito isso comigo.

Eu estava ignorá-la completamente.

— Você não está me ouvindo? Com agressividade ela puxou o meu braço direito. — Eu quero que você vá embora imediatamente de Gardênia, senão o seu filho será morto.

Ergui uma sobrancelha. 

— Como sabe de Logan?

— Você acha que eu não sei quem você é? Uma filha rejeitada pelo alfa, após uma gravidez inesperada, fruto de uma relacionamento duvidoso com o ex companheiro de sua mãe. Sim, eu sei de tudo. Ambiciosa e gananciosa. Se tornou uma escrava no reino de Gardênia, e agora se torna noiva do príncipe.

— Quem te disse isso?

—Não interessa. Somente quero que vá embora imediatamente.

— E se eu não for?

Ela suspirou pausadamente. Era perceptível as vibrações negativas do seu corpo. Percebi que não precisava temer. Os repórteres ainda estavam na mansão, poderia ficar despreocupada, ela não tentaria contra minha vida.

—Então ser obrigada a matá-la.

Fui surpreendida quando ela apertou os meus braços querendo me jogar do parapeito. Eu não queria que minha loba surgisse, pois a minha intenção não era machucá-la. Pedi para que parasse investidas, mas ela não me ouviu. Eu tentei impedir, eu juro que tentei impedir, mas em um passo em falso, ela tropeçou, seu corpo foi arremessado a mais ou menos 10 m de altura. As minhas mãos estavam tremendo, coloquei em cima da boca tentando abafar o meu grito. Não demorou muito para eu sentir cheiro de sangue devido ao meu faro apurado.

Ela estava morta.

A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora