Capítulo 83- Fuga inocente

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Kira

Meu clone chegou à porta da casa de Tyson e, após um breve hesitar, entrou. Ele estava ali, como sempre, com a mesma expressão endurecida que eu conhecia tão bem. As luzes baixas do ambiente jogavam sombras profundas em seu rosto. Assim que entrou, Tyson se levantou abruptamente, seus olhos brilhando com uma fúria contida.

Eu sabia que estava chateado por eu não ter comparecido ao nosso combinado. Era impossível, Gael havia me colocado como prisioneira, mas Tyson não sabia dessa informação.

— Kira? — ele perguntou, a voz carregada com uma mistura de surpresa e raiva. — Era para ter vindo mais cedo, agora os guardas estão nos cercando de todos os lados. Se queria ficar com o seu príncipe, deveria ter dito.

— Tyson, eu precisava te ver. Não é o que você pensa. — tentei me aproximar, mas ele deu um passo atrás.

— O que o príncipe Gael fez agora? — perguntou ele, o tom de voz agonizante. — Ele a está mantendo prisioneira? Ele está te ameaçando de alguma forma?

— Não, não é isso. — minha voz soou mais calma do que eu me sentia. — Ele só não quer que eu vá. Mas isso é o que eu preciso fazer. Você precisa entender, Tyson.

Tyson avançou, sua raiva visível.

— Entender? Entender que você quer ficar com um príncipe, enquanto eu estou aqui, lutando por você? Eu devia ir atrás dele, resolver isso por mim mesmo.

Eu sabia que as palavras não seriam suficientes para acalmá-lo. O sentimento de traição e dor dele era profundo, e era necessário mais do que explicações para desfazê-lo. Então, resolvi agir. Sem palavras, aproximei-me e toquei o rosto de Tyson, os olhos cheios de uma sinceridade que só um clone poderia expressar.

— Tyson, eu nunca quis te machucar.

Com um movimento suave, comecei a me aproximar, meus lábios encontrando os dele. O beijo foi intenso, carregado de emoções reprimidas e memórias. Era um gesto de despedida, mas também de uma conexão que, apesar das circunstâncias, ainda permanecia entre nós.

Quando me afastei, o olhar de Tyson estava mais suave, confuso. Ele parecia lutar com seus sentimentos, mas a raiva havia diminuído.

— Kira, eu... — começou ele, mas as palavras não vinham.

— Por favor, Tyson, confie em mim. O que tenho com Gael é complicado, mas é o que eu preciso. Você merece algo melhor, alguém que possa estar ao seu lado sem reservas.

Eu disse o que minha consciência me obrigou. Gael não iria aceitar essa fuga. Eu tinha certeza que iria mandar nos matar. Logan não poderia ficar sem pai e nem mãe. Essa era a minha preocupação, o meu filho.

Ele respirou fundo, o olhar distante, como se estivesse tentando processar tudo o que acabara de acontecer. Finalmente, ele apenas acenou com a cabeça, um gesto silencioso de aceitação e dor.

— Vá embora, Kira. Vá fazer o que precisa fazer.

Eu me virei e saí da casa, sentindo uma mistura de alívio e tristeza. O clone retornou ao meu corpo adormecido, e eu acordei sentindo o peso das emoções intensas da noite. Era um passo necessário, mas o custo emocional era alto. A batalha interna continuava, tanto para mim quanto para Tyson.

//

O quarto estava silencioso, com o luar filtrando-se pelas cortinas e lançando sombras suaves sobre as paredes. Eu estava deitada na cama, com o olhar perdido. A noite anterior fora um tormento emocional, e a presença de Gael ao seu lado parecia distante, uma sombra ameaçadora em vez de um consolo.

Gael entrou no quarto, sua presença era uma tempestade de emoções contidas. Ele havia escutado rumores e sentia a presença de algo desconfortável no ar. Seus olhos estavam fixos em Kira com uma intensidade inquietante, seus passos pesados enquanto se aproximava da cama.

— Kira, precisamos falar. — Sua voz era fria, carregada de uma raiva que estava prestes a transbordar. — Ontem à noite, você saiu. Eu sei que foi encontrar Tyson.

Kira se endireitou na cama, o coração apertado ao ver a fúria nas palavras de Gael. Ela tentava manter a calma, mas as palavras dele a atingiram como facas afiadas. Eu sabia que alguém tinha contado, e tinha certeza que era Ketlin.

— Gael, você tem que entender. Eu precisava resolver algumas coisas.

— Resolver? — a voz dele se elevou, o tom desdenhoso e doloroso. — Você acha que pode brincar com os sentimentos das pessoas assim? Deixar um homem se consumir por sua presença e depois voltar para mim como se nada tivesse acontecido? Você acha que sou um tolo?

A dor nas palavras de Gael era palpável. Eu tentei conter as lágrimas, lutando contra o peso das acusações.

— Não é assim. Eu...

— Não há nada que você possa dizer para mudar isso. — Ele interrompeu, a raiva tornando-se quase tangível. — Se eu não tivesse ouvido que você estava saindo para encontrá-lo, eu poderia ter acreditado em suas palavras. Agora eu só vejo traição.

A acusação fez o meu coração acelerar. Ela sabia que precisava agir rapidamente para evitar que Gael tomasse decisões drásticas. Me aproximei, disse com a voz firme apesar da emoção.

— Gael, pare. Não faça nada precipitado. — disse ela, colocando uma mão sobre o braço dele para acalmá-lo. — Eu entendo sua raiva, mas eu vou ficar com você. Eu amo você e quero construir um futuro juntos.

Eu precisava enganá-lo. Iludi-lo ao dizer que ficaríamos juntos, mas esse era o único modo de acalmar a sua ânsia.

A voz de Gael estava carregada de confusão e incredulidade. Ele parecia hesitar, os músculos tensos enquanto lutava contra o desejo de explodir de raiva.

— Você realmente acha que pode dizer isso e tudo ficará bem? — Sua voz era um sussurro carregado de dor.

— Sim, eu acredito. — disse Kira com firmeza, os olhos fixos nos dele. — Porque o que eu sinto por você é verdadeiro. Eu me afastei para entender melhor o que quero e preciso, e o que eu quero é estar com você.

Gael fechou os olhos por um momento, lutando para controlar a raiva e a dor.

— Se você está falando a verdade... — a voz dele estava baixa, cheia de uma tristeza reprimida. — Então me prove que está comprometida.

Eu me aproximei mais, envolvendo os braços ao redor do pescoço de Gael, sua presença um misto de conforto e determinação.

— Eu estou comprometida. Vamos superar isso juntos.

Ele me abraçou com força, seu corpo relaxando enquanto a raiva dava lugar a uma tristeza profunda. Eu senti o peso da tensão se dissipar lentamente, sabendo que ainda havia muito a ser resolvido, mas, por enquanto, havia uma pequena esperança de reconciliação que o iludia a acreditar que tudo estava bem.

— Não me deixe, Kira. — Ele sussurrou, a voz quebrada. — Não me deixe enfrentar isso sozinho.

Eu respondi com um beijo suave, uma promessa silenciosa de que estávamos juntos na batalha que tínhamos pela frente. O quarto estava mais tranquilo agora, com a atmosfera pesada lentamente se dissipando. Eu sabia que a verdadeira luta estava apenas começando.

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A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora