Capítulo 46- Armadilha de Kairos

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Eu enxergava! Mesmo que fosse vultos modelados, eu podia enxergar! Não sabia o que estava acontecendo comigo, mas eu amava a minha nova versão. Sentia-me mais forte, preparada, poderia enfrentar qualquer ser em todo o mundo. E o primeiro seria o meu próprio pai. Batendo as patas ao solo, em uma corrida implacável, eu avancei sobre o seu corpo. Havia sido um salto primordial. Com o impacto rolamos ao chão, com os dentes agredindo um ao outro.

Não era porque o meu sangue possuía o seu, que eu iria ceder ou ser menos eficaz. Kairos havia deixado bem claro a sua posição, e não era ao meu lado. Eu precisava proteger o meu companheiro e minha alcateia. Lua Negra deixou de ser a minha casa há muito tempo, e se for preciso doarei a minha vida para salvar a alcateia dos Lycans.

Ele me atacava de um jeito frio, sem medir o tamanho de sua força. Eu fazia o mesmo. Nossos ataques eram brutais, desferindo as garras um no outro em cortes intensos e invasivos. Mesmo que ele fosse maior, e a sua força dobrada de tamanho, ele estava cansado. Em um curto espaço de tempo eu perfurei toda a extensão de sua barriga, deixando em pele viva em exatamente quatro cortes profundos.

O seu rosnado foi intenso. Eu sabia que logo iria revidar. Ele era o alfa, por isso acreditava que eu não duraria muito tempo. Logo ele levantou, eu percebi a fúria estampada em sua face. Ele rosnava, olhando-me com um olhar assassino, como alguém que ele quisesse exterminar, do mesmo jeito que olhava para o alfa Tyson.

Então ele avançou. Eu fechei os meus olhos acreditando que o meu fim seria aquele. Algo aconteceu. Quando imaginei que seria atacada por Kairos, foi ele que recuou ao sentir o impacto do golpe de Tyson. Ele se colocou em minha frente. Ele me salvou!
Senti que outros lobos se aproximaram, e dessa vez não eram de Lua Negra. Os Lycans expulsaram os rivais, eles se assustaram quando perceberam que o número era superior ao seu.

Senti quando o perfume de meu pai cada vez ficava distante. Ele também havia recuado, isso era um alívio para o meu coração. Eu me transformei em minha versão mais fraca, deixei o meu corpo frágil cair ao chão. Estava sentindo-me arrasada, fisicamente e mentalmente. Não era fácil atacar alguém da sua própria família, ele não havia me deixado outra escolha. Era sua vida ou a minha, infelizmente ninguém saiu morto.

— Kira!

Mãos firmes suspenderam o meu corpo, e me envolveram em um abraço apertado. Era o pai do meu filho. Mesmo que eu não quisesse me render as suas investidas, eu não consegui deixar de retribuir o abraço. Os meus pensamentos estavam atordoados, como uma espécie de quebra-cabeça faltando uma peça. Eu chorei em seu ombro, igual quando eu era criança e me consolava com Carlota.

— Eu o feri gravemente.

— Ei! Você não tem culpa de nada. Todos nós vimos que ele estava com sede do seu sangue. Se eu não tivesse me colocado em sua frente, com certeza o alfa Kairos não teria pena, seu corpo estaria estirado ao chão.

— O que mais me incomoda é tentar entender o porquê ele me odeia tanto. Desde criança, eu queria que ele prestasse atenção em mim, que me amasse com todo o seu coração. Eu não tive o amor que deveria, e agora eu estou me questionando se o problema sou eu.

—Não! Não pense isso. O seu pai nunca foi um bom homem. Sempre demonstrou ser um lobo de respeito, mas no final demonstrava sua verdadeira face.

Eu me afastei minimamente de seu corpo. Sequei as lágrimas, e o questionei de onde conhecia o meu pai. Queria saber o que de fato ocorreu para fazer uma ligação entre os dois.

— Eu não posso lhe contar.

—Eu prometo que não vou dizer para ninguém.

—Eu realmente não posso lhe contar. É um assunto muito delicado, que envolve toda uma família. Essa revelação pode mudar o rumo da história, e eu não quero que de algum modo possa me interpretar mal.

Eu abaixei o olhar. Estava cansada dessa merda toda. Só queria ir embora e encontrar o meu pequeno Logan. Senti quando as suas mãos acoplaram em minha face. Ele subiu minimamente, e ficou acariciar os meus lábios.

—Você é a melhor pessoa que eu já conheci em toda minha vida. Não fique triste se às vezes eu lhe escondo algumas informações. Faço isso somente porque eu sei que algumas delas irão lhe fazer mal.

— É para o meu bem, certo? Eu estou cansada de vocês quererem me proteger como se eu fosse um bebê de 2 meses. Eu sou uma mulher adulta. Balancei a cabeça. — Quer saber? Que se dane você, e toda sua alcateia. Eu só vim para revelar que há um caçador a sua procura.

Eu não esperei ele falar, girei o meu corpo e caminhei de volta à floresta.

— Volte aqui! Eu não terminei de falar com você. Onde pensa que vai?

— Para um lugar bem longe de você. Por favor, se há algum sentimento bom por mim e pelo meu filho dentro do seu coração, não me siga.

Eu voltei a caminhar, dessa vez eu sentia que ele não me seguia. Depois de mais ou menos meia hora relembrando tudo que ocorreu, eu estava cansada. Sentei na ponta de uma pedra e deixei o peso do meu corpo relaxar em cima de minhas pernas. Nesse exato momento ouvi o barulho das folhas a balançar. Inicialmente eu acreditei ser somente um vento passageiro. Aconteceu de novo. No mesmo momento eu entendi que era alguém a me vigiar.

— Quem está aí?

Eu levantei, tentei sentir vibrações ou perfumes, nada senti. Andei alguns passos para trás, com a certeza que alguém estava esperando para me atacar. Era o meu pai, não tinha dúvidas. Girei o corpo para fugir, uma dor imensa se fez presente quando atingi um corpo de estatura alta e com músculos fortes.

— Tenha bons sonhos, querida.

Uma pancada na cabeça, e eu apaguei.

A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora