❣️
Eu acreditava que estávamos bem, que finalmente a atmosfera que nos envolvia estava mais calma. De certo modo, estava. Gael me retirou da prisão e me reintegrou ao convívio com os outros humanos. Era como um favor que ele havia feito, e eu não gostava nada disso. Eu não era um animal de estimação que se leva de um lado para o outro e, quando não se quer mais, se descarta. Nem com os animais se deve fazer isso.
Enquanto saboreava a carne suculenta de cordeiro servida no almoço, senti os passos pesados se aproximando.
— Então quer dizer que meu filho te perdoou. Ele é muito piedoso e te deixou poucos dias naquela prisão. Se fosse eu, teria deixado por meses.
Revirei os olhos.
— Ainda bem que você não é ele. Por favor, já fizeram o que quiseram comigo, inclusive me colocando em um ringue para lutar com leões. Não acaba essa rivalidade inexistente entre nós duas? Não há motivo para isso.
— Não. Só ficarei satisfeita quando você desaparecer da minha vista. Eu juro que farei da sua vida uma perturbação tão grande que você se arrependerá de ter se casado com meu filho.
Ouvi passos se aproximando novamente. Pelo cheiro, percebi que era Gael. Surpreendentemente, outra pessoa estava com ele; pelo cheiro enjoativo que invadia a sala, era Ketlin.
— Como foi o passeio com seu companheiro? — ela me perguntou. Naquele momento, tive a certeza de que foi ela quem contou ao príncipe sobre o que eu havia feito. — Espero realmente que Gael não a perdoe desta vez.
— O que você tem a ver com isso?
Eu não gostava nada daquela sala. Pela voz imponente de Ketlin, era possível perceber que ela não estava ali apenas como empregada. Juntei as sobrancelhas ao ouvir uma cadeira sendo arrastada; ela estava se sentando ao meu lado.
— Agora eu sou a dona desta casa. O príncipe está comigo, e logo você estará na rua.
Com as mãos juntas sobre a mesa, questionei Gael. Realmente não gostava daquela garota, e, se fosse possível, não gostaria que ela estivesse ao meu lado.
— Você pode mandar ela se retirar da mesa, por favor?
Ele demorou a responder, suspirou profundamente e logo compartilhou seus pensamentos.
— Não. — Inclinei a cabeça. — Ketlin agora faz parte da família. Temos um passado juntos, e decidi assumi-la. Espero que não se importe conosco.
O som de desdém saiu de meus lábios. Como assim? Ele queria ter duas esposas? Levantei da cadeira e joguei o pano sobre a mesa.
— O que está acontecendo? Não pode assumir outra mulher tendo uma esposa. Está me traindo com ela?
— Isso não é uma traição, Kira. Isso é o troco. Você esteve com seu amante à noite; por que eu não poderia estar com o meu?
Ouvi a risada de Ketlin. Isso me causou um ódio profundo.
— Agora você terá que dividir tudo comigo: seu quarto real, as mordomias da casa e o príncipe.
Minha mente estava consumida pela revelação devastadora que acabara de descobrir: Gael, meu marido, estava me traindo com Ketlin, a mulher que agora estava sentada à nossa mesa com uma confiança irritante.
Não consegui mais me conter. Meus dedos tremiam enquanto me levantava, e cada passo em direção a Gael parecia pesar uma tonelada.
— Como você pôde, Gael? Minha voz, apesar de trêmula, cortava o silêncio como uma faca afiada. — Você me trai com ela?
Ketlin tentou manter o sorriso, mas seu olhar começou a vacilar.
— Kira, não é tão ruim como pensa.
Ele começou, tentando manter um tom calmo que só aumentava minha frustração.
— Não é o que eu penso? As palavras saíram com uma rispidez cortante. — Você se deita com ela, e se deita comigo. Faz juras afirmando me amar, sendo que tudo é uma grande enganação.
A reação de Gael foi instantânea. Ele levantou-se de forma brusca, seu rosto vermelho de raiva e constrangimento.
— Chega! Kira você está fora desta casa agora! Sua voz ecoou pela sala, impondo um silêncio pesado sobre nós.
Eu estava chocada e tentando manter uma aparência de dignidade.
—Você não pode simplesmente.
— Saia! Gael interrompeu, minha voz não permitindo contestação. — Não quero mais te ver aqui!
A sala parecia girar ao meu redor enquanto escutei a risada de Ketlin e da minha sogra. Meus olhos se encherem de lágrimas, mas ela rapidamente limpei e me dirigi para a porta. As palavras de Gael e o som do trovão lá fora me pareciam um eco distante, enquanto eu assistia à cena se desenrolar.
A porta se abriu com um estalo seco, e a chuva gelada imediatamente me arrepiou. O som da água caindo pesadamente na noite escura era quase ensurdecedor. O impacto da noite fria e da chuva que agora a envolvia parecia ser um reflexo sombrio da minha vida que desmoronava.
A porta se fechou atrás com um som definitivo, e o silêncio que restou ao lado de fora era ensurdecedor. Eu sabia que havia guardas em volta do meu corpo, somente para averiguar que eu não escapasse. Gael queria me deter, me castigar, me forçando a dormir ao lado de fora, na chuva, no frio, somente porque eu não concordei com as suas atitudes.
Abraçada o corpo eu sentei no chão. Silenciosamente, eu pedi para que a deusa Luna me libertasse daquele martírio. Seria tão mais fácil Se a vida fosse como era antes. A minha loba queria gritar, correr mais depressa possível. Eu não podia enxergar a, mas ela me avisava que havia cinco guardas me cercando.
"Essa é sua oportunidade Kira. Eu estarei com você. Se quiser avançar, vamos avançar."
Eu parecia uma garota medrosa. Ao mesmo tempo em que eu queria fugir, enfrentando aqueles guardas, eu temia pela minha vida e de Tyson.
"Eles estão rindo de nossa cara, enquanto pegamos essa chuva violenta. Se não for agora, quando?"
Lua me dava uma carga de adrenalina sem igual. Eu não queria pensar em mais nada. A raiva que estava dentro de mim, ao imaginá-los festejando a minha desgraça, se apoderou do meu ser. Aquilo não iria ficar assim. Com toda minha força, eu enfrentei os guardas.
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A companheira cega do alfa
Manusia SerigalaKira é uma loba comum, filha de uma alfa, anseia para encontrar seu companheiro. Em um dia fatídico, na batalha épica comandada pelos Lycans, ela é atingida brutalmente, isso a leva a uma cegueira total. Anos depois ela sofre uma desilusão amorosa...