A companheira cega do alfa

Capítulo 36- Mistérios de uma bruxa

Kira

Era difícil entender o que Christopher queria comigo. Um relacionamento que surgiu de uma desavença amorosa e agora parecíamos um casal que se conheciam há décadas. Nossa cumplicidade acima de tudo era o mais interessante em nossa relação. Ele cuidava de mim e do meu filho com um zelo ímpar. Isso me fazia desconfiar qual era o seu real sentimento. Piedade ou um futuro romance? Isso ainda era um mistério.

A senhora que abdicou do seu espaço para nos acomodar, estava mais caridosa, havia ocasionando uma bela intimidade entre nós. Parecia sermos uma família. Confesso que de começo eu havia desconfiado. Uma idosa possuindo uma espingarda não era comum. Pelo menos não para mim, que não convivi com as minhas avós. Somente idealizava aquelas de livros infantis que deixavam um biscoito achocolatado com um leite quente ao lado da cama. Enfim, acho que Carlota me enganava.

— Onde está Christopher? Perguntei assim que acordei estranhei que ele não estava ao meu lado da cama. — Pensei que ele tivesse na cozinha com a senhora.

— Ele acordou bem cedo e foi caçar. Aparentemente ele gosta muito de você. Eu não acordaria por nada de madrugada para procurar comida para outra pessoa. Ela sorriu.

— Eu também acho. Sorrindo, eu caminhei até a cadeira mais próxima e me acomodei. Ela me ofereceu alguns biscoitos e um café bastante quente. — A senhora sabe mesmo cozinhar. Os biscoitos estão frescos e o café na temperatura ideal. Tenho certeza que Logan irá amar as gotas de chocolate.

— Ele acordou ainda agora, comeu um pouco e voltou para o quarto. Comentou que esses biscoitos eram seus favoritos. É verdade?

— Sim!

Eu sorri em resposta. Eles estavam idênticos aos que Carlota cozinhava. Parecia que essa senhora sabia o meu gosto pessoal, até mesmo o queimado nas bordas estava impresso em seus biscoitos.

— Que bom que gostou.

Uma curiosidade se fez presente. Eu queria muito saber sobre a vida da senhora. Ela me disse um pouco dos seus filhos e dos seus netos, mas quase nada sobre ela. Como eu não tinha nada de importante para fazer, decidi perder alguns minutos a conversar.

— Como eu disse, sou uma mulher sozinha cercada de bichos da floresta. Eu tenho um gato que vira e mexe está passeando por aí. Ele perturba os outros animais e depois volta para sua casa. Todos fazem isso não é mesmo?

— Sim. Afirmei fingindo entender a sua analogia. — E os seus filhos? Eles visitam a senhora ocasionalmente?

— Eu só tenho um filho. Ryan aparece às vezes. Principalmente quando ele está fissurado em algo. Quando começa uma empreitada em seu trabalho, dificilmente para antes de conseguir. Ele é obstinado.

Eu junto as sobrancelhas. Alguma coisa não está certa nessa história. Ela havia me dito ter filhos, agora afirma ter somente um só. Eu também não compreendi as suas comparações e diálogos mal colocados. Essa mulher é um mistério, que eu estou começando a desconfiar.

— Eu vou buscar algumas maçãs frescas. Sei que é a fruta preferida do seu filho, não é mesmo? Eu concordei. — Até mais querida.

Ela fechou a porta e me deixou sozinha na sala de estar. Curiosa para saber um pouco mais da anciã, eu caminhei até uma das gavetas do balcão, tentei abrir, porém, elas estavam trancadas. Merda. Havia percebido que ela guardava um molho de chaves atrás da porta dos fundos. Caminhei até o local e voltei com as chaves em mãos.

A todo instante eu tentei abrir, parecia que nenhuma delas abria as gavetas. Joguei a chave ao chão. Decidi pegar o martelo que ela usou, para pregar o balcão na noite anterior. Tentei identificar onde poderia ter guardado e logo encontrei abaixo da mesa. Aparentemente ela não se importava em guardar em locais reservados. Com um solavanco eu arremessei o ferro. Balancei a cabeça. O único que consegui foi fazer barulho e despertar Logan.

— O que houve mamãe?

— Eu sei que eu não tenho poderes e nem sou uma loba incrível. Apesar disso, eu confio no ser que gerei. Então eu peço que você se transforme em seu lobo, e com toda a sua força quebre essas gavetas.

— Por que destruir as gavetas da senhora simpática?

— Porque eu acredito que ela está escondendo algo de nós. Ande! Aproveite que ela se retirou e quebre essa gaveta com um só golpe.

Ele me obedeceu. Consegui ouvir quando se transformou em seu lobo, e em um piscar de olhos a gaveta foi quebrada. Aliás, ele destruiu todo o armário. Eu sorri brevemente e agradeci aos deuses por terem me presenteado com um filho tão competente. Eu pedi para que pudesse ler todas as cartas e tentar identificar algo que pudesse nos dar pistas sobre quem realmente era aquela senhora.

— Ela foi casada, tem uma foto dela e de um homem abraçados. Em outra tem algumas crianças do meu tamanho. Agora essa está um pouco estranha, mamãe.

—O que você está vendo?

Ele ficou alguns segundos sem reação.

— O que há, Logan?

— Tem um homem com uma espingarda, igual ela estava naquele dia. Os dois estão parados olhando para frente e segurando uma espingarda.

— Caçadores. Provavelmente ele é o filho dessa louca. Eu sabia que alguma coisa estava errada nessa história. Acredito que eles sejam caçadores de lobisomens. Por isso ela permitiu que passássemos a semana.

— Tem outra foto que ela está com amigas velhas, que nem ela.

Ele disse ter virado a foto, e ter visto algumas palavras escritas que juntas formaram uma frase.

— Para minha amiga Lilian. Que a nossa amizade nunca morra. Bruxas de Felmond.

Eu arregalei os olhos. Estávamos na casa de uma bruxa. Agora tudo fazia sentido. Ela disse que o seu filho aparecia ocasionalmente, e era destemido quando trabalhava. Ele era um caçador, e ela uma bruxa.

— Christopher. Sussurrei. — Precisamos sair daqui.

Eu puxei Logan para podermos escapar. Estava claro que aquela mulher queria nos matar, só restava saber em qual momento. Assim que tentamos a porta da frente percebi que ela estava trancada. Então corremos até os fundos, estava aberta! Assim que saímos, novamente senti aquela sensação de assombro.

— Vocês acham mesmo que vão escapar?

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