— Tyson
Ela chorou e automaticamente eu olhei para os seus olhos vermelhos e amedrontados. Deixei aquele corpo caído ao chão e segui em direção a ela. Eu temia que o infeliz houvesse conseguido lhe fazer mal, mas felizmente parecia que ele não teve tempo de finalizar a sua intenção.
— Tyson.
Eu agachei a sua altura e permiti que ela abraçasse o meu corpo. Poderia ser uma loba, contudo o seu corpo estava como um de vampiro, sólido, amedrontado. Suas mãos tremiam, juntamente com toda a sua extensão. Eu podia ouvir os barulhos dos seus batimentos cardíacos, o que me causou arrepios. Precisava cuidar dela.
A peguei por baixo, e levantei o seu corpo, deixando sobre o meu colo. Agora eu não poderia retornar para casa, pois o meu sangue ainda estava fervendo e mataria possivelmente a primeira pessoa que visse em minha frente. Decidi continuar caminhando até entrar em uma casa abandonada ao meio do campo. Era de um casal de lobos que se mudaram recentemente assim que a mulher descobriu que estava grávida.
Ela não queria criar o seu filho na alcateia de Lycans, pois nos rotulava como insensíveis. Ela temia que eu pudesse chamar o seu filho para que fizesse parte do corpo de combatentes, e talvez isso acontecesse dependendo da força do pequeno lobo. Com a minha fêmea em mãos, entrei na casa, avistei o sofá vermelho um tanto velho, e a depositei naquele local.
— Tyson.
Incrivelmente, era somente isso que ela sabia dizer. Era gostoso ouvir o meu nome em sua voz, mas não naquelas condições. Se eu tinha um coração, naquele momento ele estava comprimido ao ver ela tão fragilizada. Eu levantei e tratei de pegar um copo de água para que ela pudesse se acalmar. Assim que bebeu, ela começou a desacelerar o seu coração. Foi o momento em que decidi perguntar o que de fato havia acontecido.
— Ele tentou abusar de mim, ele tentou...
Ela queria falar, porém suas falas eram atropeladas por sua emoção.
— Shiu. Eu já entendi. Não precisa falar mais nada. Abaixei a cabeça por alguns segundos. — Eu sabia que aquele homem era um infeliz, confesso que não imaginei que ele faria isso, principalmente por ser a companheira do Alfa. Ele causou a própria morte.
Levantei com o ódio submergindo novamente o meu ser.
— A vontade que tenho é voltar naquele local e espancá-lo, até que os seus ossos virem pó, e façam parte da sujeira da terra. Mesmo que ele esteja morto, eu voltarei. Eu não bati o suficiente.
— Não! No momento em que eu iria virar o meu corpo para ir embora, ela correu e colocou as suas mãos em meu braço direito. — Por favor, não faça isso. Você já acabou com ele, está tudo bem.
— Não! Gritei e retirei o meu braço. — Não está tudo bem. Ele queria abusar do seu corpo, retirar a sua inocência, que só pertence a mim. Somente eu posso tocar em você, entendeu?
Acabei me exaltando sobre quem não deveria. Ela abaixou o tronco como forma de rendição. Eu balancei a cabeça e repassei as minhas falas. A minha companheira era frágil como um copo de cristal, que facilmente era quebrado.
— Não queria gritar com você.
Ela subiu os olhos.
— Tudo bem. Estou acostumada com a humilhação e o desprezo.
Eu me sentei na poltrona em frente ao sofá. Não conseguia dormir. Eu precisava fazer a sua guarda, até que amanhecesse. A observando em um sono profundo, eu esperei pacientemente até que o sol renasce novamente. As luzes entraram ao cômodo, iluminando a face de Kira. Definitivamente ela era a mulher mais linda que eu já conheci.
Ao contrário das mulheres humanas, das quais precisam de maquiagens bruscas para apresentar beleza, Kira é naturalmente bela. As maçãs de seu rosto são coradas, esculpidas como se fossem feitas em um papel carbono. Balanço a cabeça. Desde quando me tornei um detalhista?
— Bom dia. Ela despertou. Respondi com um breve aceno de cabeça. Não tínhamos tempo para nada. Eu precisava voltar para alcateia, e afirmar de uma vez por todas que a minha companheira merecia respeito.
//
Com todos reunidos na sala de lutas, eu comecei o meu sermão.
— Estou profundamente bravo com todos vocês. Ninguém aqui se opôs a vontade da minha mãe. Vocês poderiam ter impedido que Kira fosse expulsa, mas não fizeram.
— Alfa. Um dos meus lobos inclina o corpo a minha frente. — Nós acreditávamos que não poderíamos passar por cima da palavra de Elizabeth. Nos perdoe, por favor.
— Como você me disse. Eu sou o alfa. Vocês devem respeito a mim, obediência a mim, e na minha ausência ao meu Beta. Mas por incrível que pareça ele não era o meu lobo de confiança. Para quem pergunta por William, ele está morto, sendo assassinado por minhas próprias mãos.
Um grande tumulto se faz presente. Todos estão se questionando o que aconteceu para que eu pudesse chegar naquele momento. Mandei que todos se calassem, pois eu ainda não havia acabado de discursar.
— Ele foi desrespeitoso com minha companheira. Isso é tudo que vocês devem saber. Se outro lobo ousar em faltar com respeito com Kira, a humilhando, desprezando, ou até mesmo ignorando as suas falas, terá o mesmo destino que o William.
Pausei por alguns instantes.
— Não me interessa o que vocês pensam sobre a minha relação com ela. Isso não me importa. O único que quero é respeito. Enquanto forem respeitosos com ela, eu serei leal com vocês até o final. Estamos entendidos?
Todos abaixaram a cabeça em forma de obediência. Olhei pelo canto dos olhos e percebi um breve sorriso de Kira. De algum modo ela estava orgulhosa de mim. Tudo estava bom até o momento em que minha mãe resolveu abrir a boca e acabar com o início do meu clima romântico com minha companheira.
— Iremos respeitar a sua companheira Alfa, mas o que faremos quando Leona voltar?
Reprimi os lábios, com um imenso ódio ao peito. Minha mãe não sabe a hora de calar a boca. Kira estava olhando com estranheza.
— Quem é Leona?
Vote!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A companheira cega do alfa
Loup-garouKira é uma loba comum, filha de uma alfa, anseia para encontrar seu companheiro. Em um dia fatídico, na batalha épica comandada pelos Lycans, ela é atingida brutalmente, isso a leva a uma cegueira total. Anos depois ela sofre uma desilusão amorosa...