Não demorou muito para que eu estivesse sendo levada para o meu novo dono. Enquanto os cavalos guiavam o caminho, eu refletia na minha vida. Poderia ter sido tudo diferente se Tyson não tivesse agido de um modo tão ruim comigo. Poderia me amar, como todo companheiro com sua mulher, mas ele preferiu me trair, e continua me traindo dia após dia.
— Bem-vinda ao Reino de Gardênia.
Revirei os olhos ao escutar o oficial. Tudo que eu queria era minha paz novamente, e eu sentia não podia conquistar, estando tão longe do meu filho.
— Olá. O meu nome é Ketlin, uma das criadas do senhor Gael.
Logo assim que desci as escadas da carroça, fui recepcionada pela mulher de cheiro doce como mel. Chegava a ser tão enjoativo, que tive que virar levemente o rosto para o lado.
— Então você que vai ser a nova criada?
Sua voz soou com ironia. — Não é possível, enfim. Entre ao seu quarto, se apronte, pois logo mais eu retornarei para buscá-la.Em um piscar de olhos, fui conduzida até um dos quartos, que provavelmente se localizava no porão. Sabia que eu havia vindo para ser escrava, não alguém da família real. Teria que me importar, e faria isso somente para tentar ganhar a liberdade, e ir em busca do meu filho.
Um tanto frustrada, tateei as paredes até encontrar o banheiro. A roupa que eu usava estava pendurada no box. Demorou em média 1 hora para que eu terminasse de me aprontar. Coloquei a saia alta, a blusa de manga com alguns botões, e saltos baixos. No cabelo enrolei em um coque, para não me atrapalhar na faxina, ou seja lá o que eles quiserem que eu faça.
— Está pronta, querida?
Eu estava detestando às vezes que me chamavam de querida.
— Sim.
Caminhei ao seu lado, enquanto ela instruía o que eu deveria fazer. O primeiro era encerar todo o sótão, acredito eu que isso estava incluso o seu quarto. Fiquei a limpar por horas um local com aquele mesmo cheiro doce da mulher. Mais um carrasco em minha vida. Bufei enquanto continuava a limpar.
— Não é muito educado que a senhorita revire os olhos. Caso o rei lhe encontre algum dia, não gostará nada da sua ousadia.
Eu sorri de lado.
— É mesmo. E o que você acha que ele faria contra mim?
Disse sabendo que nada poderia ser capaz. Eu sou uma loba, que não tem medo da morte, e nem das pessoas que as causam.
— Poderia colocar a sua cabeça em praça pública. Então nunca mais você veria as pessoas que ama, e as pessoas que você ama nunca mais saberia notícias suas.
Respirei forte, segurando a minha fala. Novamente eu pensei em Logan. Não posso agir com rebeldia, e ser acometida com o castigo tão cruel. Meu filho não pode crescer sem mãe, criada por aquele monstro chamado Tyson.
— Sua obrigação agora, é fazer a comida dos funcionários. Isadora, é uma senhora de 60 e poucos anos, ela guiará os seus passos. Com licença.
Não podia enxergar, mas imaginava que Ketlin estava a empinar o nariz. Soberba! Em todos os anos que residi na alcateia de meu pai, jamais agi com soberania, mesmo sabendo das minhas condições. Para mim, todos éramos iguais, até mesmo o homem com o menor título, ao Alfa da alcateia. Pena que para algumas pessoas isso não funciona desse jeito.
— Kira?
Ouço a voz de uma senhora. Automaticamente sorrio. Não sei se era coincidência ou não, mas a sua voz e seu cheiro me lembrou muito o de Carlota.
— Você é Kira, loba de Lua Negra. Não é mesmo?
Algo dentro de mim se acende. É como se eu estivesse em meu lar. Sorrio de imediato e abraço a senhora. Tenho certeza que ela foi pega de surpresa, nem mesmo eu imaginava abraçá-la. Retorno a minha posição.
— Desculpe por isso. Você me lembra uma pessoa que foi muito importante na minha vida. Enfim. Meu nome é Kira, estou ao seu dispor.
— Você não tem que trabalhar para mim, mas sim, para o rei Gael. Ela riu. —Você é muito bonita. Não deveria estar trabalhando como criada em uma cozinha esquecida como essa.
— Me diga o que eu tenho que fazer.
— Pode começar a lavar a louça.
Enquanto eu lavava os pratos, sentia que ela não parava de olhar para minha face.
— Me desculpe perguntar, você também me parece familiar. Por um acaso, Carlota trabalhou para você?
Eu abri o sorriso.
— A senhora conheceu Carlota?
—Claro! Ela é minha irmã!
Eu não me contive, novamente abracei a mulher. Sabia que em nenhum momento a Deusa luna havia me abandonado.
— Ela me fala tão bem de você, como é doce e agradecida pela vida. Fala como se fosse a sua mãe, e eu tenho por mim que ela gostaria de ser.
— Eu também gosto muito dela.
— Que grande coincidência! Olha, Você pode me pedir o que quiser. Você é como se fosse a minha sobrinha, filha da minha irmã. Eu gostaria de lhe ajudar com o que quer que fosse.
Levantei a sobrancelha, não havia muito o que ser feito.
— Eu realmente não sei. Meu pai me vendeu para esse rei Gael, agora estou ao seu dispor. O que ele quiser fazer comigo, fará. Serei escrava do meu senhor.
— Não. Isso não é vida para você, uma jovem que tem tanta vida pela frente. Ela pausou por alguns instantes, creio eu que estava pensando em algo. — Já sei uma forma de lhe ajudar. Você não precisará ficar limpando pratos, esfregando no chão e arrumando quarto de empregada de insolentes.
— Como assim?
— Amanhã terá um baile com todas as mulheres da região, as mais elegantes. O rei Gael está solteiro, a procura de uma esposa. Você não é casada, não é mesmo?
— Não.
Lembro-me de Richard. Aquele casamento não foi consumado, ele não é válido.
— Então hoje à noite, um pouco antes da festa acontecer, eu irei lhe preparar para o grande baile. Roupas, perfumes, joias. Você será a grande atração do momento.
— E por que isso tudo?
— Para você ser a nova rainha de Gardênia.
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A companheira cega do alfa
Hombres LoboKira é uma loba comum, filha de uma alfa, anseia para encontrar seu companheiro. Em um dia fatídico, na batalha épica comandada pelos Lycans, ela é atingida brutalmente, isso a leva a uma cegueira total. Anos depois ela sofre uma desilusão amorosa...