Capítulo 28- Montes Claros

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Alguns dias se passaram depois que o lobo brindou a minha vida. Confesso que fiquei um pouco amedrontada com medo do que poderia acontecer. Christopher estava brincando com fogo, e se assim continuasse, logo ele se queimaria. 

Eu estava contente, pois era a primeira vez que eu voltava a sorrir novamente. Parecia que conforme a minha amizade com o Beta florescia, o sorriso que antes se fazia presente em meu rosto voltasse. Eu havia voltado aos meus quinze anos, quando alguns meninos me cortejavam, com a intenção de se casar com a filha do Alfa. Sorrio sem vontade. Os meus ganhos, são equiparados as minhas perdas.

Hoje era um dia atípico. Juntamente com o restante da família, eu fui convidada para um fim de semana em Montes Claros. Tyson havia conquistado o território que tanto almejou, e por isso faria uma viagem com todos os membros em uma espécie de comemoração.

Nós estávamos distantes, parecia sermos dois estranhos e eu detestava isso. A todo momento eu percebia que o alfa queria se aproximar, como ter feito questão que estivéssemos sozinhos com o nosso filho enquanto ele dirigia até o local. Mesmo que estivéssemos mudos, o seu afeto em colocar sua mão esquerda em cima da minha perna, me demonstrou que talvez estivesse arrependido pelo que fez.

Juro que nesse momento meu coração balançou. Será que eu estou enganada em evitá-lo a todo instante? Isso está nos afastando, e esse é um comportamento que desagrada à Deusa lua. Com um suspiro pesado, eu saltei do carro, ajudando Logan a sair do grande e confortável automóvel do Alfa. Esperei o suar dos passos do lobo para que pudesse me direcionar ao interior do local. Eu respirei fundo quando senti eucalipto atravessar as minhas narinas. Eu amava o cheiro de natureza, e a brisa fria que adentrava sobre mim trazia um ar aconchegante.

— Está com frio? Ele sussurrou quando abracei o meu corpo. — Se quiser eu posso te esquentar.

Segurei os meus olhos em respeito a sua liderança. Revirar os olhos para o alfa não era nada bom.

— Eu só quero saber onde eu posso deixar os meus pertences. Meu filho e eu temos que nos banhar e trocarmos as roupas.

— O quarto de Logan está localizado no andar inferior. Ficará com as outras crianças do bando, onde há uma sala de jogos, e tudo que ele possa usar de entretenimento.

— Eba!

Nem preciso dizer o quanto meu filho ficou contente. Ouvi seus passos apressados a descer a escada.

— Meu filho não ficará comigo?

— É óbvio que não. As mulheres ficam com seus homens. Você estará em um dos quartos principais dividindo a sua cama comigo, onde uma companheira deve estar com o seu marido.

Surpresa com a novidade, arregalei os olhos.

— Não. Você não me disse que iríamos dividir o mesmo quarto. Eu me recuso a deitar na mesma cama que a sua.

A gargalhada que ouvi me deixou envergonhada. Novamente aquela sensação acometeu sobre mim. Eu detestava ficar constrangida e era isso que ele queria. Que eu me sentisse inferior a ele.

— Você não tem que querer nada, pequena garota. Não interessa o querer de outro alguém a não ser do seu Alfa. Me obedeça. Suba as escadas, tome um banho, e a noite me espere da maneira que eu gosto. Disposta para mim.

Eu balancei a cabeça e sem pensar muito subi as escadas. Por que eu estava sentindo nojo do meu companheiro? Eu não sabia se era a sua fala esdrúxula ou aqueles sons de seus delírios sexuais que ainda não saíam da minha mente.

Entrei em um dos quartos não me importando qual era, e fechei a porta trancando por dentro. Deixei as minhas malas ao chão e tateei os móveis até chegar na cama onde repousei o meu corpo cansado. A imagem do alfa desapareceu em minha mente quando lembrei de Christopher. Ele também veio na viagem, e eu temo o que possa fazer.

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A noite chegou, após um longo banho coloquei um vestido de alças longas, e desci as escadas. Estranhei a ausência de barulho. Parecia que somente eu estava naquele local, escutando os meus pés aterrarem na madeira fria. Até que escutei uma melodia suave, que aparentemente era blues tocada ao piano.

Continuei a descer, e comecei a andar em direção ao som. Tyson estava lá, eu sentia o seu cheiro. Ao chegar perto do instrumento, eu deixei o meu corpo repousar na madeira. Com a cabeça repousada nas mãos, eu fiquei por longos minutos a ouvi-lo tocar uma música lenta e harmoniosa.

— O que é isso? Eu perguntei assim que ele acabou. Disse quando algo gelado cutucou os meus dedos. Era uma taça de champanhe. — Eu nunca bebi álcool na minha vida.

— Para tudo tem uma primeira vez.

Disse segurando a minha cintura. Arfei quando ele me puxou para perto e me envolveu com seus lábios. Senti quando sua língua pediu passagem em minha boca, e como uma iludida eu permiti. Ele parou por alguns segundos, e voltou deixando o líquido gelado me invadir. Eu bebi o sabor amargo do champanhe. Mordi o lábio inferior, com a certeza que aquela atitude era extremamente sexy e convidativa.

— Como você pôde sentir, não há ninguém nessa casa. Eu queria que essa noite fosse especial, por isso pedi para que todos voltassem apenas amanhã.

— Logan. Onde está?

— Com pérola. Uma das professoras da alcateia. Ele suspirou pesado. — Não vamos pensar em nosso filho agora. O dia de hoje é exclusivo para relembrarmos os momentos que estivemos a sós. Sabe, Kira. Eles foram os mais especiais da minha vida.

— Comparado com as outras?

Eu erguei uma sobrancelha.

— Do que você está falando? Sabe não haver mulher nenhuma além de você. Enfim. Essa noite não é para brigarmos, mas sim aproveitarmos a nossa companhia.

Eu preferi não permanecer com as intrigas. Queria falar tudo o que Christopher me mostrou. Preferi omitir essa informação.

— E o que tem para comer? Eu perguntei, pois a minha fome estava presente.

— Hoje é um dia especial. Vamos direto para a sobremesa.

Eu senti o sussurrar de sua voz. Andei um passo para trás quando ele avançou. Minhas costas esbarraram no piano. Ele estava próximo de mais.

— E qual é a refeição? Eu gaguejei ao perguntar.

— Você.

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A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora