Eu estava presa em minha própria armadilha. Se eu não tivesse caminhado sozinha pela floresta, com certeza eles não me pegariam. O que eu poderia fazer? Permanecer no mesmo local que o meu companheiro? Não. Eu não admitia a vida de esbórnia que Tyson aderiu. Regressar seria como se eu concordasse com tudo que ele fez comigo, teria que aceitar o seu jeito mesquinho e controlador. O que me restava era aceitar o meu destino.
— Kira! Meu coração disparou quando ouvi a voz de Carlota. Mesmo com dois homens segurando os meus pulsos, eu me soltei e corri em direção a voz. Nos abraçamos. Aquele cheiro de cookies amanteigados invadiu-me. — Eu estava com tanta saudade.
Não precisavam os dizer uma só palavra para expressar o nosso sentimento. Aquela era mulher que cuidou de mim, Minha segunda mãe. Está longe por meses fez crescer ainda mais o meu amor e meu respeito por ter doado a sua vida por mim. Eu amo de todo o meu coração.
— Minha menina. Não sabe o quanto eu fiquei apreensiva quando fugiu. Você está bem? Alguém te machucou?
Ela dizia enquanto alisava os meus cabelos. Talvez sua preocupação era pelo fato dos meus olhos inchados. Deixei as lágrimas escorrerem, novamente a abracei. Era tão bom encontrar alguém que realmente gostava de você, somente por quem você era. Não com nenhum tipo de intenção, ou querendo ganhar algum proveito.
— O que fizeram com você?
Eu senti quando se aproximaram do meu corpo. Eles estavam prontos para me puxar de volta e talvez me levar para algum cativeiro. Carlota interveio colocando o seu corpo a frente do meu, me protegendo como uma verdadeira mãe faria.
— Vocês não irão tocar nela.
— Estamos somente cumprindo ordem.
— Ordem de quem? Deixem a menina em paz. Acabou de chegar, ela precisa descansar!
— O alfa quer que a mantenhamos presa. Talvez ela possa fugir novamente, e se isso ocorrer, talvez não sejamos piedosos. Somente queremos cumprir o nosso dever.
— Eu não estou nem um pouco interessada no que o alfa mandou. Em sua ausência, eu sou responsável por essa criança, então não queira colocar a sua vontade sobre a minha. Depois eu me resolvo com Kairos. Com licença.
Então ela segura os meus ombros, e juntas adentramos a casa que eu imaginei nunca me despedir. Derivado do cheiro predominante, recordações aparecem para me assombrar. Lembro-me daquele dia em que o meu pai proferiu palavras terríveis, e empurrou o meu corpo mesmo comigo estando grávida de Logan. Somente de pensar o meu estômago se contrai. Eu não acreditava que ele era tão ruim a esse ponto.
— Ele me detesta, Carlota. Não consigo entender como um pai menospreza um filho como ele me menospreza. Parece que eu sou como um pedaço de papel qualquer que ele amassa e descarta quando bem quiser.
— Não diga isso. Seu pai te ama. O único problema é que ele não sabe demonstrar esse amor.
— Não! Não tente mudar os fatos. A forma que me expulsou, e agora como me trata, mostra o que de fato sente por mim. Eu só gostaria de saber o porquê disso. Será que o meu nascimento foi um fardo tão grande para suportar?
Eu fico sem a sua resposta. Ela suspira pausadamente, logo sinto que deposita um copo de vidro sobre o balcão e um líquido é derramado sobre ele.
— Cookies amanteigados com leite. Igual quando você era criança.
Elevo os biscoitos a boca, está uma delícia, derretendo. Ao segundo eu molho com um pouco de leite, relembrando o sabor da infância. É tão bom quando boas recordações surgem. Eu não me distraio com isso. Assim que acabo de experimentar o terceiro cookie eu volto a questionar Carlota.
— Por acaso você sabe porque o meu pai me detesta? Novamente o silêncio reina, dando indícios que ela sabe de algo e não quer me contar. — Por favor, eu preciso que você me explique o que está acontecendo.
— Seu pai se apaixonou por sua mãe, um amor avassalador, que atravessou barreiras e obstáculos. Posso dizer que não era para ficarem juntos. Com um pouco de insistência, eles conseguiram, você nasceu e fim da história.
— Eu não acredito nisso. Sei que tem algo que aconteceu, algo que mudou toda a história e você não quer me contar.
— Não tem mais nada para saber.
— Carlota...
Ouvir novamente o seu suspiro pesado. Parecia em uma luta interna contra a verdade e a mentira. Eu continue firme com a ideologia que ela estava mentindo. Sentia que algo muito grave aconteceu nessa história.
— Uma tragédia, Kira. Algo que nem mesmo eu, quero recordar. Isso mudou todo rumo, e com certeza mudou a forma que o seu pai lhe enxerga. Se não fosse por isso, eu tenho certeza que ele te amaria incondicionalmente.
— E o que houve?
Eu sentia que ela estava pronta para me responder. Xinguei diversas palavras quando outra pessoa adentrou ao ambiente impedindo que ela revelasse o tal segredo. Pelo cheiro eu desconfiava ser do meu pai, estava misturado com a essência de terra molhada.
— Por que não está no cativeiro?
— Estou onde deveria estar. Na minha casa.
Lua Negra é minha alcateia.— Lua Negra era sua alcateia, até que você decidiu engravidar e dar à luz ao seu filho pertencente a matilha rival. Um bastardo que jamais será reconhecido como o neto do alfa Kairos.
Eu segurei a minha fala, para não desrespeitá-lo.
— Me diga o que o senhor quer comigo. Porque me sequestrar e querer me trancar em uma cela? Pelo simples prazer de me ter ao seu domínio?
— Eu posso lhe deixar livre para se aventurar como uma libertina que é. Poderá encontrar o seu filho, até mesmo se envolver com o alfa Tyson. Eu pouco me importo. Mas antes disso você terá que me fazer um grande favor.
Eu ergui minha cabeça, ciente que não seria um acordo fácil. Não importava. Eu faria de tudo para conseguir estar livre e procurar o meu filho.
— O que você quer?
— Que você se case com Richard, o seu ex-noivo.
Vote!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A companheira cega do alfa
WerewolfKira é uma loba comum, filha de uma alfa, anseia para encontrar seu companheiro. Em um dia fatídico, na batalha épica comandada pelos Lycans, ela é atingida brutalmente, isso a leva a uma cegueira total. Anos depois ela sofre uma desilusão amorosa...