A companheira cega do alfa

Capítulo 38 - Senhor Leopoldo

Kira

Que maluquice eu havia aceitado em fazer? Bom, não havia outra escolha. Aquela mulher estava com ódio visível em sua fala. Ela não iria nos deixar sair vivos daquela casa se não fosse o caçador a fazer a proposta. Entre a minha vida ou deixar que todos perecessem, eu preferia me sacrificar sozinha.

Christopher estava impossibilitado de qualquer reação, eu sentia o som da respiração batendo lentamente, o que me fez entender que ele estava imerso em tranquilizantes. Agachei a altura do meu filho e o abracei. Logan já iria completar sete anos e estava mais do que na hora de aprender a sobreviver na floresta.

— Eu te amo meu amor. Assim que a mamãe conseguir escapar, voltarei para os seus braços.

— Não faça isso, por favor. Não obedeça esse homem.

— Eu sentirei sua falta, filho. Faça tudo que Christopher mandar. Eu tenho certeza que você conseguirá sobreviver, pois em sua veia corre o sangue de um Lycan. Sussurrei a última parte.

Eu beijei a lateral de sua cabeça, e caminhei com o caçador. Por dentro eu me senti uma inútil, incapaz de proteger o meu próprio filho. Havia o deixado para trás com a incerteza de que ficaria bem. Infelizmente eu estava com as mãos e os pés atados, sem esperança de reação. O que me restava era seguir aquele homem e saber as suas intenções comigo. Não seria difícil adivinhar.

 Ele parecia ser um exímio caçador de lobos, determinado e focado. Consigo imaginar o meu corpo sendo exposto para milhares de outros caçadores. O meu interior se arrepia com a possibilidade de isso acontecer. Para falar a verdade, no final de tudo eu não me importo se isso ocorrer. Somente em saber que Logan estará seguro, é o que me basta.

— Você não me falou sobre a sua vida. De qual região você vem? Qual alcateia?

Eu fiquei por alguns segundos a pensar se eu poderia revelar estar escapando dos Lycans. Não sabia se ele era inimigo deles, então preferiu omitir o fato.

— Lua Negra.

— Ah, alfa Kairos. Há muitos anos entramos em uma batalha. Consegui derrotar alguns, infelizmente não fui bem-sucedido como eu gostaria. Talvez você não se recorde.

— Eu não me recordo de mais nada desde que perdi a visão. Continuamos a caminhar e uma pergunta martelava minha mente. Com um pouco de coragem eu falei. — O que planeja fazer comigo?

Eu escutei o longo suspiro.

— Eu não sei. Na realidade, eu não entendo porque eu ordenei que me acompanhasse. Seria bem mais fácil que eu acabasse com a sua vida e de sua família. Algo dentro de mim me ordenava para capturá-la.

Ele parou no meio do caminho. Senti quando as suas mãos encostaram em minha pele e isso me assustou. Ele encostou o seu polegar em minha boca e massageou.

— Será que você me esconde algo?

A minha respiração ficou desregulada. Eu não sabia se era por conta da nossa aproximação, ou por ter a certeza que eu realmente estava escondendo algo.

— Algo está gritando em minha mente que eu preciso que você permaneça ao meu lado. Como se uma ligação me trouxesse em sua direção. Talvez seja você que eu estava esperando.

Então ele se afastou. Juntos continuamos a caminhar até que chegamos em seu carro. A tensão estava irradiando o meu corpo. Era a primeira vez que eu estava ao lado de um caçador, aliás, de um homem totalmente desconhecido, que o único que eu tinha certeza era que amava matar os lobos. Saindo de seu carro, ele me conduziu até a entrada do hotel. Depois da recepcionista dizer "Seja bem-vindo de volta, senhor Leopoldo" com a voz mais enjoada do mundo, subimos pelo elevador e logo chegamos ao seu quarto.

— Fique à vontade querida, Kira, esse quarto é seu. Tenho algo para lhe mostrar. Abracei o meu corpo com temor. — Esse é o meu cartão. Quero que você desça até o saguão e peça para lhe levar ao shopping. Quero que compre algumas roupas porque essas que está usando são sujas e farrapadas.

Eu me lembrei que eu estava usando apenas um vestido de cor lilás com alguns cortes referentes a fuga anterior. Naquele instante em que rolei ao solo e desferi contra a árvore, uma parte do meu vestido rasgou. Por um momento me senti constrangida por isso.

— Eu irei sair, pois tenho algumas reuniões com os meus sócios. Além de caçador, também sou empresário e preciso manter as aparências. Ah! Por que estou lhe revelando isso?

— Irei ficar sozinha?

— Quer ficar comigo? Gostou tanto assim de mim que não quer ficar sem a minha presença?

Eu revire os olhos.

— Não revire os olhos para mim, mocinha.

Um frio percorreu o meu estômago. Ele falava sério, assim como o alfa Tyson quando me repreendia. Eu não sei porque, mas a rouquidão da sua voz estava pressionando o meu ventre. Era sexy e, ao mesmo tempo, persuasiva.

— Eu posso tocar em seu rosto para enxergar a sua feição?

Eu precisava identificar quem era o caçador. Era também uma forma de desviar a sua atenção da minha rebeldia. Ele andou alguns passos em minha direção. Segurou as minhas mãos e colocou por cima de seu rosto. A primeira coisa que senti foi o roçar da sua barba rala. Ela pinicou em minhas mãos. Logo eu estava verificando o seu nariz, o desenho das sobrancelhas e das orelhas.

— Sua orelha está quente.

— Eu sou um homem quente.

Eu engoli a seco e continuei a tocá-lo. Andei com um polegar alisando a sua boca. O desenho era como o de uma criança em formato de coração. Desci as mãos e toquei em seus ombros, eles eram largos. O seu corpo era robusto, estava revestido por uma camisa de pano fino. Por conta disso era possível sentir os seus músculos bem marcados.

— Hm! Soltei um grito preso a garganta quando ele puxou a minha cintura. — O que está fazendo?

— O que você está fazendo. Tocando em meu corpo como se quisesse averiguar se eu sou um homem sexy. Como já viu, eu sou o melhor que você já encontrou em sua vida.

Deixei um riso debochado escapar. Além de arrogante, é um boçal.

— Até logo baby. Te encontro a noite, esteja pronta.

— Pronta para que?

— Vamos jantar.

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