A companheira cega do alfa

Capítulo 86- Encontro às escondidas

O frio daquela noite parecia cortar minha pele como lâminas afiadas, mas o calor da lareira na cabana de Tyson mantinha o ambiente acolhedor, quase sufocante. Nossa conversa não havia terminado. Ao me recordar daquela carta sobre seu relacionamento com minha mãe, a sensação de tristeza voltou a me visitar. Eu me afastei dele quebrando a conexão que tínhamos feito.

Ele se aproximou, deixando sua presença preencher o espaço, trazendo memórias antigas à tona. Eu senti um frio na espinha, um desconforto que nunca havia sentido antes.

— Kira, por que se afastou? ele perguntou, a voz grave ecoando no silêncio da cabana.

Olhei para ele, tentando encontrar uma resposta que fizesse sentido, mas a verdade era que nem eu sabia ao certo.

— Eu... só precisava de respostas, Tyson. Murmurei, as palavras saindo mais frágeis do que eu pretendia.

Ele suspirou. As suas passadas eram desconfortáveis, como se ele soubesse o que eu estava pensando.

— Respostas. Repetiu, com um tom amargo. — Você sabe que algumas respostas são melhores não serem ditas.

Um silêncio pesado caiu entre nós. A única coisa que eu conseguia ouvir era o estalar da lenha na lareira e o som da minha própria respiração.

— Você matou a minha mãe?

Finalmente, ele se virou para mim, as vibrações carregadas de algo sombrio, uma dor que ele tentava esconder.

— Kira.

— Sei que foi o companheiro dela. Isso é louco, mas o pior é a duvida do que realmente aconteceu em sua morte. Meu pai disse que eu fui a culpada, mas me pergunto se ao lado dessa mentira que descobri, tenham muitas outras.

— Kira, você precisa saber a verdade. Ele começou, e o meu coração acelerou. — Sua mãe... a morte dela não foi um acidente.

Eu senti um arrepio percorrer meu corpo.

— Então você admite?

Ele deu um passo à frente, a sombra do passado refletida em seu olhar.

— Claro que não! Seu pai, Kira. O Alfa Kairos... ele é o verdadeiro culpado. Ele matou sua mãe.

As palavras de Tyson me atingiram como um golpe no estômago. Por um momento, fiquei sem ar, o mundo girando ao meu redor.

— Não... não pode ser. Meu pai... ele jamais faria isso.

— Eu sei que é difícil de acreditar, Kira. Mas você precisa encarar a realidade. Ele insistiu, a voz dele misturando raiva e frustração. — Eu estive ao lado da sua mãe por anos. Eu a amava, e eu sei que Kairos também a amava. Mas o poder, o desejo de controle... isso mudou tudo. Ele não queria que ela fosse feliz comigo.

Eu balancei a cabeça, recusando-me a aceitar.

— Você está mentindo. Sussurrei, as palavras saindo quase inaudíveis.

Tyson avançou mais um passo, sua mão tocando meu braço, o calor dele contrastando com o frio que se espalhava por dentro de mim.

— Kira, eu jamais mentiria para você sobre algo assim. Eu queria protegê-la, mas agora você precisa saber a verdade. É o único jeito de você entender o que realmente aconteceu.

As lágrimas ameaçavam cair, mas eu as contive. Minha mente estava em caos, tentando processar o que acabara de ouvir. Como poderia acreditar em Tyson? Mas, ao mesmo tempo, como poderia ignorar o peso da dor em suas palavras?

— Por que você está me dizendo isso agora, Tyson? perguntei, a voz embargada.

Ele me soltou e deu um passo para trás, como se a proximidade fosse demais para ele suportar.

— Porque você merece saber. Porque é a única maneira de você encontrar a paz e a verdade sobre a morte da sua mãe.

Fiquei "olhando" para o fogo, as chamas refletindo os turbilhões de emoções dentro de mim. Não sabia se podia acreditar nele, se podia confiar em alguém que foi tão próximo da minha mãe e agora parecia querer destruir a imagem do meu pai. Mas algo na voz de Tyson, na dor que ele carregava, me fazia hesitar.

A cabana parecia se fechar ao nosso redor, a madeira velha rangendo sob a pressão das verdades não ditas. Eu sabia que, depois daquela noite, nada seria o mesmo.

— Porque não disse desde o começo a verdade. Você sabia de tudo, e mesmo assim quis esconder.

— Porque eu sabia que a sua reação não seria boa. Vai apesar de tudo, não queria que sentisse ódio pelo seu próprio pai. Entenda, Kira. Se eu menti, foi para o seu bem.

Novamente ele tentou se aproximar, eu dei um passo para trás evitando nosso contato. Meu peito rasgou, sentindo que tudo estava revirado. Ao fundo eu sabia que não podia confiar em meu pai, que ele era capaz de tudo, até mesmo de me machucar, mas não desconfiava que seria capaz de acabar com a vida de minha mãe.

—O que você vai fazer agora?

Ele me perguntou. Eu tentava acalmar o meu coração, que batia descompassado. O que eu iria fazer? Estava cercada por pessoas que só queriam o meu mal. Não poderia voltar para casa, nem para alcateia do meu companheiro. Tudo estava muito confusa, e eu estava com medo do que iria acontecer ao meu futuro.

— Eu não sei. Acredito que seja melhor eu voltar para o reino de meu marido.

Minha mente estava perturbada, eu realmente não estava conseguindo pensar, e me preocupava com Logan. Há muito tempo estávamos distante, imaginava o que seria de sua juventude ao descobrir todos os segredos ocultos dessa família.

— Não faça isso, por favor eu te peço. Não faça isso. Esse homem não te merece, demonstrou inúmeras vezes que não te ama.

— Você me ama? Acho que não. Senão eu teria mentido para mim como todos fizeram. Deixei um suspiro pesado esvair de meus lábios. —eu preciso dormir, deixar com que esse dia passe, aí pela manhã eu decido o que fazer.

— Fique no meu quarto, eu ficarei na sala cuidando de você, velando seu sono.

Eu ignorei completamente o que ele disse. Tatiei as paredes até encontrar o quarto, que percebi ser dele através do seu cheiro. Deitei ao colchão, torcendo para aqui no amanhã seguinte, eu acorde entende que tudo isso foi um pesadelo. Assim eu espero.

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