Capítulo 67- Uma inimiga

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Meu coração palpita descompassado, minha respiração se colocou desregulada enquanto eu sentia aquele homem me envolver com suas mãos grossas, elas arranharam a minha pele, fazendo-me sentir arrepios incomuns. Retirei aquela mão dos meus braços, e virei o meu corpo rapidamente. Eu não podia olhar para o seu rosto, mas sentia o seu hálito quente, sabor menta transpassar o meu.

- Qual o seu nome?

A sua voz era incrivelmente sexy. A rouquidão era mais. Isso me causava arrepios. Eu estava sem ação, parada a sua frente. Tentava falar, mas as palavras não deslizavam em minha língua.

- Poderia ser educada em me responder o seu nome?

Ajeitei o meu corpo, ganhando uma postura esguia. Empinei o meu nariz querendo transparecer segurança. Por dentro, eu estava com o corpo trêmulo, medindo as palavras para que ele não se enfurecesse e me colocasse na forca.

-Eu me chamo Kira, meu senhor. Eu inclinei o pescoço e desci o tronco minimamente para reverencia-lo. - Estou ao seu dispor para lhe servir.

Nada ele respondeu, meus olhos estavam fechados enquanto eu ainda estava na posição inclinada. Senti quando as suas mãos tocaram em meu rosto, subindo minimamente a mandíbula. Isso me forçou a encarar novamente. Eu estava completamente arrepiada, não sabia se isso era bem-vindo.

- Kira.

O meu nome deslizou como algodão doce pela sua boca. Era a primeira vez que dizia o meu nome e incrivelmente as bochechas coraram. Eu sentir minhas mãos formigarem, como daquelas sensações de borboleta no estômago.

- Você é a filha do Alfa Kairos? Concordei. - Eu não acredito! Eu lembro de você quando era apenas uma criança. Com seus cabelos loiros esvoaçados, corria pelos jardins com os outros da sua idade.

- O senhor se lembra de mim?

-Sim! Em uma das várias visitas que o meu pai lhe visitava. Lembro-me que ele queria oferecer a sua mão para mim, oficializando a união das alcateia. Obviamente depois que você completasse 18 anos. Os anos se passaram, e ele não cumpriu a promessa.

Eu sorri novamente quando ele passou a mão pelo meu cabelo. O sentimento de constrangimento me atingiu. Era estranho estar em sua presença, ele me despia com seus gestos, como se me despisse sem retirar a minha roupa.

- Então você foi um homem de sorte.

- Como assim?

- Não está óbvio? Ninguém se interessaria por alguém que não pode enxergar, mesmo que eu consiga exercer muitos afazeres sozinha, eu ainda continuo cega.

Abaixar os ombros derrotada. Tudo que eu queria era somente voltar para onde eu nunca deveria ter saído, a floresta. As mãos grossas tocaram em minhas mãos. Assustei-me, dando um passo para trás. Ele pegou em minhas mãos, e colocou em seu rosto. Entendi que era somente para que eu pudesse enxergar através do tato.

Aos poucos eu fui analisando o seu rosto, ele possuía uma face sem barba, a boca que tinha, desenhava em um traço reto e perfeito. O seu cabelo era como seda, os fios curtos envolveram os meus dedos. Passei pela ponta do seu nariz, bochechas e parei em sua boca. Retirei rapidamente com medo de estar aparentado outra intenção.

Fui surpreendida quando ele puxou a minha cintura e juntou os nossos corpos. Nossos rostos estavam muito próximos do outro, isso era nada bom.

- Você me dá a honra de uma dança?

- Não deveria. Eu sou apenas uma empregada, que estou servindo ao senhor. Eu devo voltar para a festa, e trabalhar como me ordenaram.

- Eu ordeno que você dance comigo.

Mordi o lábio inferior e acatei o que ele queria. Aparentemente Gael não era um homem sério, pois a sua voz saiu com um pouco de ironia. Então juntando nossas mãos, começamos a dançar.

- Seja bem-vinda à Gardênia.

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Lembro-me daquele dia como se fosse ontem. A voz aveludada do príncipe Gael me causou arrepio. Tudo que eu queria era não ter fugido quando ele me pediu a segunda dança. Não achei correto tendo em vista que ele se casaria com uma moça de outro reino. Sim. Soube que uma mulher chamada Verônica está a nos fazer uma visita. Ela é a noiva do Príncipe Gael.

Também me recordo de termos nos esbarrados pelos corredores outro dia. Ele havia caído de cavalo, sua mão estava ensanguentada, soube pelo cheiro. Rapidamente eu reuni os utensílios para vedar a sua mão, fazendo um belo curativo. Ele me agradeceu e não nos encontramos mais.

- Isadora! Você me fez passar uma vergonha enorme. Lord Gael está comprometido com outra mulher, vai dizer que não sabia.

- Não! Ele não me disse nada. Eu também fiquei surpresa com essa visita da senhorita Verônica. Essa mulher não é bem-vinda. O seu pai é um homem deplorável que desde sempre quis invadir Gardênia.

Juntei a sobrancelhas.

- Porque ele iria aceitar a presença da filha desse inimigo?

- Homens sendo homens. Eles precisam manter harmonia. Preferem entrar em um acordo, do que causar uma guerra que possa prejudicar os dois reinos.

Ela passou por um instante.

- Que pena, Kira. Eu realmente acreditei que ele pudesse gostar de você na primeira vista. Quem não gosta? Você é uma menina doce, de coração puro, alma verdadeira.

- Isadora... Caminhei até ela e a abracei. -Para de me arrumar pretendentes, eu não estou procurando nenhum.

//

A casa estava novamente a correria de sempre. As mulheres ouriçadas, andando de um lado para o outro. Muitas delas queriam somente uma oportunidade para ser a pretendente do lord Gael. Eu percebi as conversas, principalmente o jeito na qual se referiam a mim. Como a pobre cega.

- Você ficou sabendo? A louca da Isadora acreditou que aquela menina poderia roubar o coração do Príncipe. Jamais ele trocaria sua noiva por uma qualquer, além do mais sendo cega.

Assim que deixei uma bandeja em cima do balcão, ouvi as meninas cochicharem na dispensa.

- Ele nunca se interessaria por uma sem graça. Acredito que homem nenhum. Elas sorriram. - Pobre cega.

//

Todas estavam parados para escutar o discurso do Príncipe Gael. Encostada em uma das paredes, esperava pela hora que ele fosse anunciar a sua noiva como a sua futura esposa.

- Obrigada pela presença de todos. Por muito tempo eu tentava encontrar alguém para caminhar ao meu lado. Uma pessoa de caráter, digna e de coração bom. Acredito que eu encontrei.

A sala foi repleta de salva de palmas. Aparentemente todos estavam contentes com a escolha do homem. Verônica não era tão odiada assim.

- Eu anuncio a todos a futura princesa e rainha de Gardênia. Kira da alcateia Lua Negra!

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A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora