A companheira cega do alfa

Capítulo 19- A fúria do alfa

Uma terrível dor de cabeça se alastrou. Assim que acordei, pisquei algumas vezes ainda sem entender onde eu estava. Era uma tristeza acordar desse modo e eu sabia o porquê. O motivo era a desgraçada da bebida forte de Montes Claros. A mais pura essência é vendida livremente, podendo causar estragos como o de ontem.

Junto as sobrancelhas quando vejo o desenho delicado do corpo de Leona, envolto somente com um fino pano branco. Ela está deitada ao meu lado. Eu me perguntei qual o momento nós paramos aqui, ou melhor, até onde nós fomos. Flashes da noite passada refletem em minha mente, me forçando a lembrar do ocorrido.

— Merda.

Eu realmente pensei que quem estava em minha frente era Kira, somente com ela que eu poderia me entregar totalmente sem restrições. Irritado comigo mesmo, eu caminhei até o chuveiro, a fim de um banho gelado, o qual me faria recordar de quem realmente eu sou. Parece que as pessoas me manipulam de um jeito surreal. Eu não posso deixar, eu sou o alfa.

Estou entristecido com a partida de Kira. Perder minha companheira pela segunda vez, é a pior sensação que eu já tive. Aurora me decepcionou de diversas maneiras, mas em Kira eu podia enxergar uma doçura e um amor genuíno no qual a minha ex não havia. Encosto a testa no azulejo, buscando compreender o porquê da sua desobediência.

— Por que você levantou e não me chamou?

Senti as unhas de Leona arranharem o meu peito. Eu erguei as mãos e retirei as suas.

— Talvez seja porque eu queira tomar meu banho em paz.

— Não me trate assim. Ontem à noite parecia estar gostando bastante. Apertei os olhos, controlando o meu lobo interior. — Eu sei que nós somos destinados a ficar juntos. Nós nos amamos. Não negue a realidade.

Eu girei o meu corpo a fim de olhar os seus olhos claros.

— Quem eu amo é a minha companheira, Kira. A fêmea que eu desejo passar o resto da minha vida. Recolha a sua insignificância e se coloque em seu lugar de segunda opção.

Ultrapassei o seu corpo e logo estava arrumado. A minha intenção era reunir o máximo de lobos e procurar imediatamente a minha companheira. Uma noite inteira havia se passado, e não havia notícias dela. Depois do que ocorreu com William coisas piores poderiam acontecer.

— Meu filho! Venha tomar café comigo.

Olhei para Elizabeth. O único que sentia por minha mãe, era raiva de sua dominação. Por muito tempo ela havia comandado a alcateia Lycans junto ao meu pai. Ele faleceu, O reinado acabou.

— Porque está assim, olhando-me com indiferença. O que eu fiz?

— A senhora deveria ficar quieta. Eu não sei quando irei lhe perdoar pela humilhação que fez Kira passar. Ela é a minha escolhida, entenda isso.

Caminhei até o lado de fora somente para ver o irmão de Leona com uma de nossas armaduras. Ele estava treinando com os outros lobos. Poderia achar isso comum, se eu houvesse o chamado para a minha alcateia. Eu juntei as sobrancelhas e caminhei lentamente em sua direção.

— Alfa. Ele inclinou a cabeça me cumprimentando. — Eu tomei a liberdade de comparecer antes que me solicitasse. Como agora eu sou o seu Beta, devo me preparar para as batalhas grandiosas que estão por vir.

— Então você se autoconvidou? Bom. Vejamos o seu potencial.

Eu me transformei em meu lobo. Ele me olhava indecifrável. Será que o meu tamanho ou pelos negros, o assustaram de alguma forma? O questionei pela demora e logo ele mostrou as suas garras. Não queria cometer um assassinato, mas a raiva que eu sentia era propicia a isso. Em poucos segundos eu avancei. Ele recuou, não tão rápido o suficiente para desviar do meu ataque. Para se defender ele usava as suas garras, tentando arranhar a minha face. Era inútil. Ao final de duas investidas que ele inseriu, eu já havia rasgado toda a extensão de sua barriga. Seu lobo chorou sentindo um forte impacto.

— O que está acontecendo aqui? Era a voz de ninha mãe. Logo em seguida ouvi a voz de Leona implorando para que eu interrompesse. Não podia parar! A minha Kira ainda estava perdida na floresta e alguém deveria arcar com as consequências. Nossos corpos rolaram ao chão, enquanto tentávamos encaixar um golpe fatal um no outro. Obviamente eu estava ganhando como sempre. A minha força era três vezes superior ao do pequeno lobo. Rasguei o seu corpo por completo, quando consegui abocanhar sua pele.

— Chega Tyson!

Somente na hora em que meu beta se transformou em sua forma mais fraca, que eu pude paralisar os movimentos. Eu soube que havia saído de mim, e não era mais eu naquela batalha, mas sim o meu lobo vingando-se pela perda de sua amada.

— Você está louco!

Leona correu em direção ao seu irmão. Apertei os olhos, tentando redirecionar os meus pensamentos. Talvez eu tenha ido longe demais. Infelizmente a dor da perda era maior do que qualquer outra e eu não consigo me controlar. Eu corri pela mata, querendo esquecer de toda aquela cena. O sangue derramado no chão, a pele saindo do corpo do pobre lobo. Oh! Merda! Todos devem estar achando que eu sou um Alfa descontrolado. Ninguém sabe da minha dor. Perder Aurora foi terrível e devastou todo o meu ser, e agora sem a minha segunda companheira, a dor aumentou ainda mais.

Desesperado, eu uivei o mais alto que pude. Aquela era uma esperança que ela pudesse me escutar da onde estivesse, percebesse o meu sofrimento e voltasse para nossa casa. Isso era tudo que eu queria. Os nossos momentos a sós foram únicos na minha vida, e eu faria de tudo para eles voltarem. Era tarde da noite quando eu retornei para alcateia. Suado, desnudo, eu atravessei a sala de estar. Revirei os olhos quando a minha mãe me seguiu.

— O que a senhora quer?

— Não vou falar do seu descontrole mais cedo. Eu só vim para te avisar que o seu casamento com Leona está marcado, e será nessa semana.

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