Kira
Confesso que estou enfrentando o meu pior medo. Estar em uma floresta sozinha e desamparada. O único que me consola é saber que o meu filho está bem. Apesar de tudo, dos conflitos e desafios, ele está com o pai. Tyson não é necessariamente o modelo perfeito de paternidade, contudo, eu sei que irá cuidar do meu Logan.
Para me alimentar tem sido um desafio. Com a pouca prática que tenho com caça me fez conseguir somente um pequeno servo para o almoço. Minha barriga está roncando, e eu nem ao menos sei quando será minha próxima refeição.
Lua está desolada, querendo retornar para alcateia dos Lycans. É difícil acalmar a minha loba, pois ela insiste em querer perdoar Tyson. Se ele realmente me amasse, teria convencido os membros que eu deveria ocupar o lugar de Luna. Ele disse que esse casamento seria só por conveniência, unindo uma forte aliança, eu não me interesso por isso, e ele também não deveria se interessar.
Cansada de caminhar, sento a um extenso tronco de árvore. Fecha os olhos tentando me conectar com a natureza. Eu queria ser uma loba com poderes surreais, a deusa Luna não me abençoou com isso. Não passo de uma luba cega, sem poderes algum, sendo um estorvo para todos. Por isso eu não continuei no alojamento, porque ninguém se interessa por alguém como eu. As folhas voaram com o vento indicando-me que alguém está a me vigiar. Movendo a cabeça para todos os lados, lembranças do que aconteceu naquele dia em que escapei de William revisitaram-me. O medo me abateu, eu senti irradiar por todo meu corpo.
— Quem está aí?
Ninguém respondeu. Eu senti a presença da pessoa, o seu cheiro, misturado com outra fragrância que entendi ser sangue. Um caçador, talvez?
— Quem está aí? Perguntei novamente. Meu coração saltou pela boca, quando ouvi passos caminharem lentamente. Com certeza era um caçador. Eu estava pronta para fugir quando eu escutei as suas falas.
— Por favor. Me ajude!
Como eu não podia enxergar, não sabia se de fato era alguém a pedir socorro ou uma armação para me prender. Desconfiada, eu esperei que ele falasse mais.
— Eu sou um lobo, pode confiar em mim. Estou ferido, e preciso da sua ajuda. Ele pausou por alguns instantes. Senti da sua respiração ofegante — Por favor, me ajude!
Lentamente eu caminhei até o som de sua voz. Mesmo que meu coração gritasse por medo daquela pessoa eu sabia que precisava ajudá-la. O meu lado bondoso insistia para eu seguir adiante. Encostei em seu corpo e percebi estar sem suas vestes. Repousei as minhas mãos em sua face, em busca de reconhecê-lo. Era um estrangeiro. Continuei a tocá-lo, até que senti um rasgo profundo em sua barriga. Automaticamente eu deduzi que aquilo não era um corte de faca ou algo do tipo, havia sido de um lobo.
— O que aconteceu com você?
— Só me ajude, está bem?
— Ok!
Eu o ajudei a deitar ao chão. Enquanto ele descansava, eu procurei ervas que ajudassem a cicatrização. Eu poderia ser uma loba que não sabia se defender, ou lutar, mas Carlota havia me ensinado tudo sobre plantas medicinais, felizmente eu era ótima isso. As feridas dos soldados de meu pai era eu que cuidava. Com calma, reuni algumas folhas, repousei em uma rocha e com auxílio de um galho forte eu apertei, até formar um caldo. Com elas em mãos, eu andei até o forasteiro e coloquei sobre a sua ferida. Ele rosnou, de uma forma que eu não escutasse, mas eu percebi o seu incômodo.
Enquanto ele estava no processo de cura, eu continuei a tatear o seu rosto. Ele se assustou e recuou.
— Você é cega?
— Sim. Soltei um suspiro, cansada de falar isso diversas vezes. — Preciso analisá-lo por completo para saber quem é que estou ajudando.
— Tudo bem. Me desculpa. Pode olhar a vontade, quer dizer tocar. Merda! Não faço nada certo.
Eu sorri pelo seu jeito. Voltei a tocar o seu rosto, passei pela ponta do nariz, analisei o maxilar e por último os seus cabelos. Eles eram sedosos, como um veludo. Inclinei minimamente o pescoço a fim de sentir o seu cheiro. Havia um pouco de whisky com outras bebidas alcoólicas. Como eu ainda estava tocando em seu braço, eu percebi que seus pelos se arrepiaram. Eu voltei a minha posição inicial questionando-me se eu havia ido longe demais.
— Qual o seu nome? Ele me perguntou.
— Kira. E o seu?
— Christopher. Mas pode me chamar de Cris. Ele pausou por um instante. — O que uma fêmea bonita como você faz em uma floresta como essa? Você sabia que é uma das mais perigosas.
— Sim, eu sei. Muitas coisas aconteceram comigo, que não caberiam em apenas uma noite. Precisaria de mais tempo para lhe explicar, e eu preciso continuar a minha caminhada.
Eu iria sair, porém, ele segurou os meus braços.
— Eu não quero te assustar. Por favor, fica comigo apenas essa noite. Apesar das suas plantas serem medicinais, elas levam um tempo para recuperar. Eu não quero ficar nessa floresta sem você.
Apesar da minha loba insistir para que eu continuasse, por outro lado, eu queria ajudar aquele homem. Algo dentro de mim me dizia que ele era uma boa pessoa, e que eu podia confiar. Então eu decidi ficar. Deitei ao seu lado e lhe contei um pouco sobre minha vida, ocultando os últimos acontecimentos.
— Você é uma mulher incrível. Possui uma deficiência que não é fácil conviver, ainda mais sendo alguém de nossa espécie.
— Não devemos nos limitar a nossa condição. Não é porque eu sou cega que eu sou coitada, ou preciso da piedade dos outros. Eu posso ir, eu posso me ajudar sozinha. Sem precisar que outra pessoa me ampare. Sou forte o suficiente para isso.
O silêncio reinou como sempre. Eu sentia que ele olhava para o meu rosto. Me senti constrangida.
— Porque está me olhando, lobo?
— Você é linda demais Kira.
Sem ao menos esperar, eu senti quando levantou e os seus lábios encostaram aos meus. Ele estava me beijando!
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A companheira cega do alfa
WerewolfKira é uma loba comum, filha de uma alfa, anseia para encontrar seu companheiro. Em um dia fatídico, na batalha épica comandada pelos Lycans, ela é atingida brutalmente, isso a leva a uma cegueira total. Anos depois ela sofre uma desilusão amorosa...