Confesso que meu coração parou por alguns segundos. Demorou um pouco para eu raciocinar que ela realmente havia se arremessado com a intenção de fugir de mim. Será que eu sou tão ruim assim a ponto de retirar a sua própria vida? Não, isso não podia estar acontecendo. Eu estava apático, com aqueles pensamentos retornando em minha mente. Pensamentos de luto assim como o dia que Aurora morreu.
Dez minutos haviam se passado, ou um pouco mais, quando eu reuni a pouca coragem que me restava e caminhei até o penhasco. O meu temor maior era encontrar o seu corpo sem vida, imerso a multidão de águas que o envolveria. Quando olhei, eu vi completamente nada. Isso era bom? Eu não sabia. O não saber se estava viva era terrível aos meus pensamentos, e o único que fiz foi ir embora daquele local.
Eu escondi de todos a fragilidade dos meus olhos. O pouco de lágrimas que se formaram foram imediatamente descartadas assim que cheguei a alcateia. Transformado em meu ser mais fraco, a primeira pessoa que encontrei foi minha mãe.
— A senhora é culpada disso tudo.
— Eu? Essa mulher mentiu para todos nós. Eu tinha razão! Eu sempre apostei que ela não era melhor opção para você. Olha o que aconteceu! Ela enganou a todos e lhe traiu com o seu beta.
— Cale a boca.
— Envergonhou o seu nome para toda alcateia, evidenciando que não te amava. Você virou motivo de chacota para todo mundo. Confiou em uma vulgar, que lhe enganou com o primeiro homem que apareceu.
— Estou lhe mandando calar a boca!
— E, além disso, levou o seu filho embora como se a sua autoridade não servisse de nada. Aliás, se Logan for realmente seu filho.
Em um passo largo eu avancei. Rosnando, a mantive estática na parede. Os meus dentes travaram, enquanto todo o meu corpo pedia permissão para avançar na mulher a minha frente. Minhas garras estávamos expostas, prontas para serem usadas. Elizabeth estava assustada, seus olhos arregalados e corpo trêmulo informavam seu nervosismo.
Ela sabia que havia ido longe demais. Nenhum membro tinha o direito de desafiar o alfa, mesmo que fosse de sua família. Arranhei as garras enquanto a vontade de avançar gritava ao meu peito. Set queria vingança, ele estava com sede de sangue e se eu ficasse por mais alguns segundos naquele local eu poderia fazer um ato impiedoso que poderia se arrastar pelo resto da minha vida.
Afastando-me gradualmente, eu decidi sair. Leona estava parada ao corredor. Observando-me transformado, ela sabia que não era o melhor momento de falar. Ignorou a minha presença e atravessou o local até chegar ao outro lado. Eu continuei a caminhar chegando ao lado de fora. O céu estava escuro, a chuva começou a cair evidenciando o meu estado interior.
Com a dor ao peito eu uivei o mais alto que pude.A dor de perder um grande amor era ruim, mas saber que esse grande amor lhe traiu doía o dobro. Não era possível que isso havia acontecido duas vezes. Primeiro Aurora ao me trair com Kairos, o homem que era um dos meus melhores amigos, e agora Kira com o meu Beta. O grande problema era que dessa vez havia uma criança no relacionamento. Eu caçaria Kira até os confins da terra, até recuperar o meu filho, depois iria analisar o que faria com os traidores.
Sentindo as gotículas grossas derivadas da chuva transcorrendo a minha pele, eu corria como um louco atravessando toda a cidade. Eu precisava extravasar o ódio que habitava em mim, e o único que pensei foi acabar com uma das alcateias que estava no meu alvo. Era um pequeno território localizado ao Leste de Montes Claros, uma pequena extensão do território, onde o alfa era um dos meus inimigos.
Imitando aquele mesmo dia em que invadi o território onde Kira habitava, eu ataquei os sentinelas que vigiavam o portão central. Eles não tiveram nem ao menos reação, não poderiam. Como um monstro irracional, abocanhei as suas cabeças em um só golpe. Os ossos quebrando eram minha música predileta. Os membros foram retirados, e assim que estive satisfeito eu avancei para o próximo.
As pessoas gritavam enlouquecidas pelo ataque inesperado. Nem eu mesmo esperava por isso. Posso dizer que a traição foi a faísca que faltava para liberar o monstro Lycan dentro de mim. Se me perguntassem de quem fosse a culpa, eu responderia com todas as leras: Kira. A mulher devassa que desgraçou com a minha vida, os meus planos de reconstruir um destino como alguém, uma família.
Enquanto eu matava um por um, usava o combustível de tudo que aconteceu ao meu favor. Eu não precisei ter visto uma cena romântica entre Christopher e Kira para poder imaginar o que eles estavam fazendo naquele momento. Ninguém me convenceria o contrário, que eles não nutriam um romance às escondidas. Eu percebia que aquele lobo era ousado e me desafiava a todo instante. Para ele, era um triunfo acabar comigo. Ficar com a minha mulher era uma cartada perfeita.
Então eu ataquei o alfa e confesso que não foi difícil matá-lo. Ele era um homem com mais idade, e muito inexperiente em seus ataques. Assim que acabei, vislumbrei a quantidade de corpos ao chão, amontoados em cima do outro, enquanto o sangue escorria sobre eles. Eu não matei todos, não precisava. Alguns eu usaria como os meus escravos, para trabalharem em minha alcateia. As mulheres também se salvaram, as mais novas e robustas.
As mais belas eu deixei viver para serem domesticadas pelo Alfa, e usadas quando eu bem-quisesse. Uma delas era uma mulher de pele queimada do sol, cabelos negros aterrizando em sua cintura. Naquele mesmo local eu decidi tomá-la para mim, possuindo seu corpo. Não preciso dizer que gostou de se entregar para o alfa, ainda mais quando prometi que viria comigo até minha alcateia, se tornando uma das minhas submissas.
Mesmo que eu tenha todas as mulheres, a minha disposição, eu jamais deixarei Kira ser feliz. Eu vou atrás dela e a encontrarei, custe o que custar.
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A companheira cega do alfa
Manusia SerigalaKira é uma loba comum, filha de uma alfa, anseia para encontrar seu companheiro. Em um dia fatídico, na batalha épica comandada pelos Lycans, ela é atingida brutalmente, isso a leva a uma cegueira total. Anos depois ela sofre uma desilusão amorosa...