Capítulo 51- Alívio

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Eu estava paralisada. Não podia acreditar no que havia feito. Richard não expressava nenhum movimento e isso me fazia pensar o pior. Não seria tão ruim se ele não estivesse mais presente, contudo, essa não era a minha intenção. Eu só queria me defender, me libertando de um homem que me fazia mal. Será que entenderão isso?

Então eu me afastei, imediatamente me coloquei embaixo do chuveiro e comecei a me banhar. Queria incansavelmente que aquele cheiro referente ao perfume de Richard saísse de mim. Jamais acreditei que seria capaz de me agredir desse modo, obrigando-me a fazer algo que eu não queria. Inutilmente as lágrimas caem aos meus olhos, se confundindo com as gotas de água. Eu me perguntava se não teria um minuto de paz. Desde o começo, eu queria somente cuidar do meu filho, viver uma vida tranquila com o meu companheiro. Era pedir muito?

Com uma roupa qualquer, que fica jogada ao canto do quarto, permaneci sentada no cômodo, até que o outro dia chegasse. Senti quando a porta foi aberta, e automaticamente eu levantei. Um grito insurredor se fez presente. Com certeza era uma das empregadas, surpresa com a cena encontrada.

— O que você fez com ele?

Eu arregalei os olhos, fiquei sem reação. Em alguns instantes o quarto se encheu, sentia que todos os grupos haviam se reunido. O meu pai também estava presente, podia sentir o seu cheiro.

— Ele ainda está vivo!

O alfa gritou acalmando o coração de todos. Confesso que eu respirei melhor a saber que eu não o assassinei, mesmo que por dentro eu ainda odiasse Richard pelo ato cometido.

— Levem seu corpo, para que seja examinado.

E de repente do mesmo modo que se encheu, o quarto esvaziou. Ainda sentia que alguém estava presente, era o meu pai. Ele se aproximou de mim, ouviu os passos da sua bota acopladas ao chão. Eu dei um passo para trás, um tanto acuada não sabendo que ele iria fazer.

— Você realmente é uma decepção. Quando me pergunta o porquê de tê-la deixado viver, era para que pudesse arranjar um casamento bom, com uma pessoa digna. Quando isso aconteceu, olha o que você me fez passar. É uma vergonha ser minha filha.

— O senhor não sabe o que ele fez.

— Calada! Eu segurei o choro. — Agora você vai me ouvir. Cansei das suas rebeldias, como se fosse uma criança de seis anos. Você não tem que ter vontade própria, simplesmente me obedeça e pronto.

— Ele tentou abusar de um, papai. Você acha isso certo? Eu parei de falar, ele simplesmente não respondeu. — Acha certo que um homem tente tomar o corpo da mulher sem a sua permissão?

— Vocês não eram casados? Ele tinha os seus direitos. Não se faça de sonsa.

— Não de um jeito obrigado. Eu balancei a cabeça incrédula da sua confissão. — Me incomoda o fato do meu próprio pai estar contra mim. Você deveria me defender, me proteger, não virar as costas como e os meus sentimentos não importassem.

— Realmente não importam. Ele soltou um suspiro pesado, nitidamente cansado dessa conversa. — Um a zero para você, querida Kira. Dessa vez você ganhou, da próxima você irá obedecer tudo o que Richard ordenar.

Então ele me deixou sozinha, a porta foi fechada em um estrondo, e o único que eu queria era que aquele dia passasse. Eu me joguei na cama e chorei desesperadamente. Era agoniante tudo o que estava acontecendo. Uma luta interna que eu enfrentava entre conseguir escapar das mãos do meu pai, e encontrar o meu filho.
Se ao menos eu pudesse tocar em Logan, saber que ele estava bem, isso aliviaria o meu coração. Era uma pena que tudo parecia estar contra minha vontade. Cansada, com os pensamentos em desordem, eu adormeci ao colchão.

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Acordei assustada. Coloquei a mão no peito, com o coração acelerado. Tive um pesadelo terrível no qual Richard tentava abusar do meu corpo. Parecia tão real, eu gritava de uma forma tão fervorosa mas ninguém vinha me socorrer. Novamente eu me coloquei a chorar. Que droga Kira! Você precisa fortalecer as suas emoções. Eu não podia ser tão fraca e permitir que tudo me magoasse, me atingisse dessa forma.

Eu levantei e coloquei a mão na maçaneta, com a mínima esperança que não tivessem me trancado nesse quarto. Eu sorri brevemente quando a porta abriu, e logo eu estava ao lado de fora. Precisava comer um pouco, minha barriga estava roncando. Não havia almoçado, muito menos jantado, então as minhas carnes já estavam fracas. Senti um cheiro gostoso, identifiquei ser almôndegas de carne com macarrão, com cheiro idêntico que Carlota preparava.

— Está com fome, menina?

— Carlota! Eu corri para a direção da voz, abracei o seu corpo como se fosse o meu bote salva-vidas. Foi assim desde que minha mãe faleceu, Carlota sempre foi o meu refúgio.  — Que delícia de cheiro!

— Fale baixo. O alfa não pode saber que saiu do quarto. Acredito que ele ainda não iniciou a sua viagem. Ande, coma o macarrão antes que esfrie.

Eu não sei o que me causou mais felicidade, o sabor delicioso do seu macarrão, com aquele molho grosso de carne moída e as almôndegas grandes e recheadas, ou saber que o alfa iria viajar e me deixar por alguns instantes em paz. Com o prato ao balcão, eu comi sem pensar no dia de amanhã.

— Mastigue! Não engula a comida, Kira!

— Me Desculpe, estou com muita fome!

Ela sorriu e automaticamente eu sorri junto. Era desse mesmo modo que passávamos a maior parte do dia. Ela preparando guloseimas extremamente gostosas, e eu as devorava em um piscar de olhos.

— Você cozinha como ninguém!

— Diz isso somente porque está com bastante fome. Quando estamos assim, qualquer alimento se torna saboroso.

— Não mesmo. A sua comida tem um tempero especial, tempero de mãe.

Nada ela disse, mas eu tinha certeza que estava sorrindo e emocionada com o que eu falei.

— Mas eu sei de algo que você gosta mais do que a minha comida.

— O que poderia ser? Perguntei intrigada. O silêncio predominou no ambiente até que eu pude ouvir uma voz familiar gritando-me. Isso me causou euforia.

— Mamãe!

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A companheira cega do alfaOnde histórias criam vida. Descubra agora