Ela fica

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Já era de manhã e ainda estávamos caminhando sob a chuva fina. 

Ele, há uns três passos na frente, marchando como se estivesse só, e eu, tremendo de frio há uns cinco passos de distância atrás, me desviando dos galhos que ricocheteavam na minha direção.  E tudo o que eu queria o tempo inteiro era perguntar quanto tempo mais faltava para chegarmos. Mas, de novo, não consegui dirigir-lhe a palavra; quase tanto quanto ele mesmo não conseguia: pelo resto da madrugada desde que tinha me encontrado ele continuou em silêncio, sequer olhou na minha direção uma única vez; e nem parecia desconfortável por isso.

 Mas, de novo, não consegui dirigir-lhe a palavra; quase tanto quanto ele mesmo não conseguia: pelo resto da madrugada desde que tinha me encontrado ele continuou em silêncio, sequer olhou na minha direção uma única vez; e nem parecia desconfortáv...

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Pelo contrário. Pela sua postura parecia que aquele era mais um dia qualquer... E eu, outra sobrevivente qualquer de muitos outros sobreviventes que ele levava todos os dias para o seu suposto acampamento - E eu sabia que isso era baboseira. Da mesma forma que era para mim, ele também ficou petrificado; eu também era a primeira pessoa viva que ele descobria longe do seu território em muito tempo. Soube disso assim que ele pôs os olhos em mim. A diferença é que um de nós não parecia esperar que a vida fosse mudar completamente por causa disso... 

Bem... Um de nós estava redondamente enganado.

"Chegamos" - Ele murmurou de repente, diminuindo a velocidade da caminhada - "Não que vá fazer diferença para você, aparentemente".

Eu sabia. Ele também estava estranhando o fato de eu não ter feito pergunta nenhuma o caminho inteiro. Foi quando finalmente olhou para mim. De soslaio, mas olhou.

"Então eu fico feliz de ter dado tudo certo para você dessa vez. Mas, da próxima, tenta não seguir um completo desconhecido pela mata, especialmente não sem questionar". 

Ele estava mesmo me chamando de idiota por eu ter feito exatamente o que ele me disse para fazer? Não fui eu quem não pensou direito ali. Matar um homem do tamanho dele, mesmo armado, era uma das coisas que eu tinha sido treinada para fazer aos 15 anos de idade. Não que eu fosse apontar esse fato. Vai que ele também tinha essa habilidade.

Quando me dei conta disso propriamente, sem toda a adrenalina e o medo para me impedir de pensar logicamente, foi que eu me aterrorizei de verdade pela decisão que eu tinha tomado. Ele podia ter razão. De repente eu era mesmo uma idiota. Uma idiota que podia quebrar o queixo dele, mas ainda assim. 

Fiquei tão alarmada que mal notei a cerca de ferro no caminho, marcando a entrada. Não até ele parar e começar a desatar os arames que mantinham uma abertura no ferro lacrada.

Dei um passo para trás, assim que percebi. Droga, qualquer coisa que me lembrasse remotamente qualquer traço de civilização me deixava a ponto de cuspir meus pulmões. Mas, ele não se deu conta; ou se sim, não deu a mínima. Desfez todo o arame, se socou para dentro da cerca de três metros de altura, fincada na terra, e se virou para segurar o corte, achando que eu passaria logo depois, sem problemas. Só que eu paralisei. Fiquei lá, parada, só olhando para a cara dele.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora