O monstro vai levar você

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Este capítulo contém cenas explícitas de violência sexual.

A leitura não é recomendada para pessoas sensíveis.

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Ela era pesada feito chumbo... E os obstáculos no caminho não ajudavam nenhum pouco. Sua pele estava gelada; meio molhada do suor do susto. Tudo isso fazia parecer que eu estava tocando num cadáver... O que, sinceramente... Também não ajudava nada.

Mas eu seguia. Colocando força nos joelhos, evitando as pedras, puxando a garota por um dos seus pulsos como se estivesse arrastando um mero saco de batata por uma corda. Estava escuro para caramba. Por um bom tempo, tudo o que eu vi foi a pele pálida quase translúcida da sua mão, praticamente refletindo a luz da lua... Até eu ver o que realmente me interessava: o grupo de cinco homens armados me esperando no final da trilha.

Fiz uma careta por nenhum deles ter se mexido para pegar a garota. Tive que literalmente depositá-la aos pés do Parker enquanto reclamava - "Ah não, não se incomodem. Eu consigo".

Ajeitei-a ali no chão mesmo, colocando seus braços jogados de qualquer jeito por cima do seu tórax - "Pronto" - Soltei, tomando fôlego e apontando para ela - "Até semana que vem, babacas".

E eu já ia me virando quando o Parker atirou - "Você está bem?".

"Ótima" - Não me dei por vencida e tentei sair de novo. Mas outra vez, ele me interrompeu.

"Parece cansada".

Bufei - "Bem, eu acabei de arrastar um corpo pela floresta por meio quilômetro. O que esperava?".

"Não. Eu quis dizer cansada, cansada".

Olhei para a cara dele. Sim, eu devia estar com olheiras bem visíveis; e devia estar mais magra, já que tinha perdido todo o apetite desde que Abraham decidiu ser um pé no meu saco com o censo. Mas, tudo bem. As coisas ainda estavam relativamente sob controle - "Na verdade, estou vivendo um sonho" - Debochei.

"É só você pedir que a gente te ajuda, sabe disso".

"Sei. Sei bem o tipo de ajuda que você quer me dar. Não, obrigada".

"Para de palhaçada. A gente consegue ser sutil quando necessário, Elizabeth".

O examinei de cima a baixo. O uniforme militar com estampa de camuflagem, o cinto com compartimentos para 9 facas e um rifle de precisão de quase meio metro no peito.

"Estou vendo".

Ele insistiu, colocando as mãos nos bolsos - "Você não está conseguindo. Vai acabar estragando tudo".

"Olha, vamos fazer o seguinte" - Levantei a voz, irritada com o quanto todo mundo estava dificultando tudo nos últimos dias - "Se eu precisar de tiro, porrada e bomba para fazer o meu trabalho, eu te chamo. Melhor ainda... Se eu precisar estragar a minha fuga completamente, pode deixar que você vai ser o primeiro a saber".

"O Abraham tem que morrer" – Disse, simplesmente.

Engasguei, sem acreditar no que tinha ouvido - "Eu nunca devia ter te falado sobre a merda do censo".

"A gente ia descobrir de qualquer forma".

"Não podemos matar o Abraham!" - Quase gritei - "O sistema dele funcionou, as pessoas já sabem que tem gente desaparecendo. Se ele for o próximo, vão saber que é alguém de dentro que está fazendo isso. E advinha quem eles vão achar que teria essa coragem?".

"Podem achar, mas não vão ter certeza. Não como o Abraham tem".

"Esquece. Não vai acontecer".

Ele endureceu o rosto, nada convencido. E eu precisava convencê-lo. Um tiro daquele rifle e tudo iria por água abaixo - "Eu mantive as entregas, não mantive?" - Insisti - "Vocês ainda estão recebendo, e esse era o trato".

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora