Meu irmão estava irado comigo.
Onde quer que estivesse... Fosse o que fosse que estivesse fazendo... Eu podia sentir a fúria dele consumindo o meu juízo; comendo toda a minha sanidade um bocado de cada vez.
Porque eu fiz de novo. O exato oposto de tudo o que ele tinha me ensinado, e dessa vez a ponto de arriscar a minha vida diretamente.
Minha consciência tinha o rosto do Noah. Meus pensamentos tinham a voz dele - Menos quando eu decidia fazer coisas como cruzar um campo com 300 hospedeiros. Nessas situações, a voz na minha cabeça era totalmente minha, e tudo o que restava do meu irmão era um chiado no canto do meu cérebro... Um chiado que me chamava de todos os nomes possíveis e me fazia lembrar de toda a promessa que eu fiz no passado e que agora estava quebrando.
Eu me sentia culpada. Sempre que me aproximava mais de cada um deles, ou tentava salvá-los ao meu próprio custo... Sentia como se estivesse traindo a minha família; tudo o que eu aprendi. E isso fazia a minha cabeça pegar fogo.
Não, é claro, a ponto de me impedir.
Porque, sozinha, enfrentei um ninho por eles... E sozinha... Eu faria tudo de novo. Era isso o que me assustava.
Prova de que o apocalipse tinha mesmo me enlouquecido.
Especialmente porque, naquele momento, eu tinha certeza absoluta de que o que eu fiz não terminou bem para mim: eu tinha certeza de que eu simplesmente tinha morrido - A última coisa de que me lembrava era de ter despencado de uma altura grande... E do rosto do Tobias. Na minha cabeça eu ainda não sabia como juntar essas peças... Não me lembrava bem do que tinha acontecido... Mas, sabia que ninguém podia ter tanta sorte assim. Eu tinha que estar morta.
Vai ver era por isso que meu corpo estava dormente...
Talvez isso explicasse a sensação de estar flutuando...
Só o que não se encaixava em toda a minha teoria era o enjoo completo - Eu sentia como se estivesse prestes a botar minhas entranhas para fora, a qualquer segundo, tão forte e tão certo que meu corpo inteiro vibrou, e assim eu pude tirar forças sei lá de onde para abrir os meus olhos.
A primeira coisa que eu vi foi uma jaqueta escura e masculina, bem na frente do meu rosto - Franzi a testa, sem entender, e olhei em volta, querendo dar um sentido para o cenário. Voltei meu rosto para cima e vi o chão da floresta, coberto de folhas e galhos, em movimento constante e lento...
Só fui perceber mesmo o que estava acontecendo quando eu vi pés caminhando, por todos os lados a minha volta; especialmente os do Tobias, bem perto de mim. Então eu entendi que ele estava me carregando nos ombros.
"Elizabeth?" - Escutei alguém sussurrar meu nome assim que me mexi - "Ei, Tobias! Ela acordou!" - Era o James. Aquela voz rouca de quem tinha acabado de levantar só podia ser dele.
Mas, não tive tempo de tentar me virar para ver seu rosto. Na mesma hora o mundo girou diante dos meus olhos e meu corpo amoleceu mais ainda: era o Tobias me tirando de cima de seus ombros e me colocando sentada na trilha, para me examinar.
"Intervalo de cinco minutos, pessoal. Vou avisar lá na frente" - Leah também falou, e para reconhecer a voz dela, dessa vez, nem precisei pensar muito ou sequer ver seu rosto também.
Então, senti duas mãos bem quentes e grandes segurarem minha cabeça, enquanto eu tentava me livrar da visão embaçada.
"Você está bem?" - Tobias sussurrou perto das minhas bochechas, me passando a sensação de que eu tinha ficado muito tempo sem olhar para aquele rosto. Fechei os olhos e soltei um gemido, sem saber bem como responder aquela pergunta - "Chama o Stefan" - Ele completou com urgência para alguém.
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Polaris - Sobreviva Conosco
Ciencia FicciónMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...