Polaris - Sobreviva Conosco

Você não sabe o que fazer comigo

"Que merda está acontecendo aqui?!".

Heyden apareceu de repente, abrindo caminho à força por entre a multidão de pessoas que me cercava de perto.

E vi o exato segundo em que o olhar dele caiu em mim - Queria poder dizer que ele pareceu surpreso ao me ver bem no meio da confusão, mas não foi o que aconteceu. A expressão no rosto dele era bastante decifrável: eu era, com certeza, a única pessoa que ele esperava encontrar lá; a única que daria algum sentido para aquela comoção no acampamento que definitivamente nunca estourava...

Afinal, um monte de coisas que nunca aconteciam passaram a explodir na cara dele várias vezes desde que eu cheguei.

Ele saiu de manhã cedo naquele dia. Não estava lá quando tudo se desenrolou. E por mais que pudesse parecer... Não... Eu não tinha planejado aquilo. Na verdade... Eu não tinha planejado absolutamente nada do que aconteceu desde que cheguei no acampamento. Mas, era como Noah sempre me dizia: "Seu sobrenome devia ser encrenca, Elizabeth".

Aquele tipo de porcaria sempre dava um jeito de me encontrar, não importava se o mundo tinha acabado. A caçada continuaria até eu morrer, provavelmente.

"O que pensa que está fazendo?" - Heyden me perguntou, vindo na minha direção com a testa franzida; e de novo, sem grande tom de surpresa na voz. Porque, é claro, nós dois sabíamos. Nada mais seria o mesmo depois de ele ter me jogado em uma arena na frente de todo mundo. Ainda que eu não movesse um dedo sequer para ajudar meu destino depois disso.

Mesmo assim, não fazia diferença para ele... Tudo o que interessava ao Heyden era o resultado daquilo, fosse culpa minha ou não; tudo o que ele queria era saber por que o povo dele estava me cercando, atentos em mim como se eu estivesse fazendo um discurso enquanto ele estava fora. Não estava. Caramba, nem eu mesma sabia o que estava acontecendo àquela altura.

"Heyden, só presta atenção no que ela tem a dizer antes de sair distribuindo socos, ok?" - Karoline se colocou entre nós dois, tentando remediar, como sempre. Talvez porque ela soubesse que a culpa era dela... Bem, pelo menos uma pequena parte era. O culpado mesmo era o Heyden.

Porque eu nunca quis dizer nada. Nunca tive nada a dizer para ele. E mesmo assim quem estava encurralada contra a parede agora era eu. De novo.

"E o que você tem a ver com isso, Karoline?" - Ele a examinou de cima a baixo, lentamente; e quando não recebeu uma resposta, ficou bem mais fácil juntar as peças - "Isso foi ideia sua, não foi? Seja lá o que estiver acontecendo aqui... Foi você que começou, como você sempre faz".

"Ela não começou nada" - Quando dei por mim, já tinha falado; quando vi já estava puxando ela para fora do caminho e ficando frente a frente com o Heyden - "Se tem alguém responsável por isso é você e o seu fascismo. Porque se não sabe, essa a lei natural das coisas: tiranos sempre caem".

Ele sorriu para mim por uns três segundos que levaram uma eternidade. Por um instante achei que fosse tomar um tiro na cara. Mas ao invés disso, ele entrou na minha - "E como exatamente isso funcionaria?" - Perguntou - "Quem vai fazer o tirano cair dessa vez? Você?".

"Tá, tudo bem, foi culpa minha, sim!" - Karoline se meteu de novo, provavelmente por medo do Heyden se descontrolar - "Eu só achei que... Ela devia ter muito a dizer depois desse tempo todo calada, e eu tinha razão. Todo mundo tem o direito de ouvir. Se trata da segurança de todos".

"Não precisa assumir o risco da ideia, Karoline" - Eu disse para ela - "Ele não vai me ferir" - Completei, olhando nos olhos dele - "Não vai me ferir, nunca mais".

Ela me disse que eu não devia fazer aquilo, essa era a verdade. Pelo contrário. Ela disse "vamos conversar com o Heyden e botar isso em prática". Mas, o que eu entendi dessa frase foi que tínhamos que pedir permissão. E que se ele dissesse não... Seria não e ponto final. De jeito nenhum eu ia deixar essa decisão ficar nas mãos de só uma pessoa. Ainda mais essa pessoa sendo ele.