É só acender a luz

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Estava difícil de dormir naquela noite.

Não que qualquer outra já tivesse sido fácil, mas dessa vez o clima estava especialmente pesado. Sufocante e estranho, para todo mundo. Não só por causa da briga que nos deixou completamente calados por 24h, mas porque algumas coisas mudaram rápido e inesperadamente - Agora, por exemplo, eu me sentia doente e fraca. Não tinha ânimo para sequer ficar em pé ou fazer qualquer movimento brusco; andei vomitando no banheiro da loja; o que também era péssimo para as pessoas presas comigo, tendo que assistir.

Além disso, o Jason não voltou mais. Mesmo que a gente soubesse que depois das ameaças do Liam essa era uma das possibilidades, ainda assim achamos que ele tomaria o outro caminho; que tentaria trazer as vitaminas escondido. Bem... Ou ele não estava disposto, ou foi pego. Porque agora quem trazia a comida era um loiro debochado chamado Klaus, que nem se dava ao trabalho de responder às reclamações do Ethan. Só sorria. Como se tivesse tudo sob controle.

Era o que a gente ia ver.

Suspirei pela milésima vez, olhando para o teto escuro. Olhei para o lado. Liam estava deitado na cama dele, com o rosto virado para o lado oposto. Mesmo assim eu sabia que ele não estava dormindo. Ele não ficava quieto daquele jeito quando estava, por mais irônico que fosse.

Levantei em silêncio, sentindo meus ossos pesarem 5kg cada, e despenquei na cama dele, ao seu lado, já com falta de ar e sem o menor jeito. Roubei um pedaço dos lençóis para me cobrir enquanto Liam se virava com uma expressão de "o que está acontecendo" no rosto.

"Você está bem?" - Sussurrou, franzindo a testa para mim.

"Não consigo dormir" - Respondi simplesmente, me acomodando sem cerimônias.

"E você acha que a minha cama é a solução do seu problema?".

"Calor humano é a solução do meu problema".

"Nem vem, a gente não vai transar na frente das crianças".

Dei-lhe uma cotovelada - "Não é desse tipo de calor humano que eu estou falando".

Ele sorriu e não brincou mais. Passou um braço por cima dos meus ombros e deixou que eu deitasse minha cabeça em seu peito. Ele estava quente. Meus pés gelados ficaram gratos.

"Vai dar tudo certo, não vai?" - Perguntei, mais baixo ainda, depois de um minuto.

Ele suspirou devagar antes de responder - "Bem... Se não der, a gente morre. Então de que adianta se preocupar?".

Fiz um breve silêncio e soltei - "Nossa".

"Só estou dizendo que não faz sentido a gente...".

"Eu quero dormir essa semana, se não se importa".

Ele riu baixinho - "Vai dar certo. A situação está toda sob controle aqui".

"Ótimo, obrigada".

Parei para pensar na deixa que ele me deu. Eu não podia deixar passar. Respirei fundo, tomando coragem para perguntar - "E você?".

"Eu o quê?".

"Também está sob controle?".

Nem esperei pelo silêncio ou a careta que eu sabia que viria. Olhei para cima assim que soltei essa e o encarei nos olhos com despeito. Aí o vi fazer a exata cara que eu achei que faria: a de uma criança que não liga para a opinião de ninguém.

"O Nick mereceu" - Respondeu com a voz dura, desviando os olhos de mim.

"Eu sei".

"Ele tem que entender que não estamos mais no meio do nada. Pelo contrário, estamos no meio de tudo. E o tempo de ele dizer e fazer o que bem entende ficou para trás. Já passou da hora de ele se assumir como parte desse grupo ou nos deixar em paz".

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora