Eu morro por você também

27 6 20
                                    

"É quase isso... Deixa os seus braços mais leves, desse jeito" - Agarrei as mãos do Tobias pela trigésima vez naquele dia e as coloquei na posição certa para fazer o sinal que significava "correr" na língua de sinais americana.

Sinal que, inclusive, eu já tinha ensinado para ele três vezes - Então, se antes eu tinha dúvidas, agora eu com certeza sabia. Ele estava errando de propósito.

Não que eu tivesse alguma coisa contra isso.

Ajeitei os dedos dele e fiz o movimento do sinal devagar, com as mãos dele debaixo das minhas, para que ele sentisse bem a posição - Coisa que seria bem mais fácil se estivéssemos parados no caminho, mas não podíamos mais nos dar ao luxo. Todos sabiam que quando chegássemos nas terras dele, precisaríamos de uma estratégia diferente para atravessar, o que exigiria tempo para planejar.

Então, simplesmente caminhávamos pela trilha, sem parar nem pelo descanso... Que dirá por aquelas aulas que, segundo meu novo aluno, tinham que ser particulares quando ele estivesse envolvido.

"Agora eu entendi porque você não queria aprender com os outros" - Sussurrei, não tanto porque não podíamos fazer barulho, mas sim porque eu sabia que todo mundo estava prestando atenção. Especialmente o Heyden, que já tinha nos mandado calar a boca umas vinte vezes.

"Ah, é? Por que seria?" - Perguntou, ainda com as mãos nas minhas.

"Porque você é péssimo" - Sorri e me afastei - "Ia passar vergonha".

Ele sorriu também, e por alguns instantes me olhou de cima a baixo - "É... Deve ser por isso mesmo... Mas você também não está pegando leve".

"É claro que estou, nem chegamos nas frases ainda".

"Talvez esse seja o problema" - Deu de ombros, jogando charme - "Talvez meu cérebro seja tão complexo que simplesmente decida ignorar aprendizados simplórios".

Eu ri - "Certo... Talvez seja isso. Então vou te passar uma frase como dever de casa, o que acha?".

"Manda".

Olhei bem nos olhos dele e o fiz parar de andar para que ficássemos frente à frente. E quando eu me concentrei no que eu ia fazer... Quando me concentrei mesmo... Cheguei a pensar duas vezes se valeria a pena passar por algo assim a essa altura; se era realmente inteligente entrar nessa enquanto eu procurava meu irmão e tentava manter dezenas de pessoas a salvo.

Mas, ele estava olhando para mim; olhando de verdade, e pensando em tudo, menos em sinais... E eu até poderia jurar que ele estava era pensando o mesmo que eu naquele momento: simplesmente que seria muito bom. Todas as partes, de todas as formas, em todos os sentidos. Eu e Tobias. Isso é que seria muito bom.

Era o que eu via quando encarava aqueles olhos verdes, sempre atentos em mim; era a única coisa que eu via. Então, não. Não consegui me refrear. Fiz o sinal da primeira frase que passou pela minha cabeça.

--- Eu quero você---

Ele franziu a testa e pediu - "Faz de novo".

Obedeci.

--- Eu quero você---

"Tudo bem, quer saber? Só me diz o que é. Eu tenho que saber o porquê dessa expressão do seu rosto agora mesmo".

"Que expressão?".

"Uma que não estava aí quando você me ensinou a dizer 'corra', Elizabeth. O que você me disse?".

Comecei a suar; voltei a caminhar na mesma hora - "Bons professores instigam a curiosidade dos alunos".

"Ou..." - Murmurou pelas minhas costas - "Eu podia simplesmente perguntar para o James, já que ele está tão avançado na matéria".

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora