"Ei, novata!" - Escutei alguém me chamar atrás de mim, ao longe, e já fui revirando os olhos até que me voltei e vi quem tinha dito aquilo.
Leah. Leah Hunter. A única daquele acampamento que nunca tinha parado para trocar mais de três palavras comigo. E o fato disso ter acontecido no mesmo dia em que eu detonei a sua expedição por insulina não me deixava com um bom pressentimento. Me preparei para ser xingada.
"Ham... Oi..." - Parei no caminho e a cumprimentei quando ela finalmente me alcançou, meio que correndo, balançando o rabo de cavalo de um lado para o outro. Eu sabia quem ela me lembrava: as amigas militares do Noah, de quem eu morria de ciúmes. De vez em quando eu conhecia uma ou outra que me intimidava até a alma e me fazia sentir o ser mais frágil da terra. Ela era exatamente assim para mim... E eu não conseguia disfarçar.
"Não precisa me olhar desse jeito, eu estou desarmada" - Atirou com sarcasmo enquanto voltava a caminhar, dessa vez devagar, e do meu lado.
Assim que vi isso, sem perceber bem o porquê, olhei com uma expressão confusa para o Stefan, que caminhava na minha frente. E, de alguma forma, ele já estava olhando para mim, com a mesma cara que eu estava fazendo.
Concordávamos nisso, então. A Leah falar comigo era estranho, sim.
"Então... Sim... Heyden me contou tudo sobre o seu plano B. Mas acho que disso você já desconfiava" - Ela pensou alto, com um tom de voz duro, sem estar nenhum pouco enganada. Porque para mim era com certeza lógico que ele não assumiria a responsabilidade por uma coisa em que nem ele mesmo acreditava - Praticamente contei os segundos para que alguém viesse tirar satisfação... Só não esperei que fosse a Leah, apesar dela ser a maior interessada.
"Olha, eu sei que parece assustador agora..." - Comecei a tentar me explicar - "E sei que deve ter parecido que eu quis te jogar para escanteio, mas é que...".
"O bem maior é o bem maior" - Ela me cortou, sem deixar claro com o seu tom como ela realmente se sentia em relação a isso - "A segurança de todo mundo é bem mais importante que a saúde de uma pessoa".
Me encolhi - "Não, espera, não é bem assim".
"Qual é, Elizabeth. Você não é idiota, e nem eu. Não fala comigo como se eu tivesse seis anos".
"Leah, minha intenção nunca foi tomar a frente, nem arruinar essa espécie de tradição de buscar insulina, eu só queria...".
"Não era a sua intenção?" - Ela me cortou de repente, como se eu tivesse dito a maior loucura imaginável - "Então eu acho que não preciso te agradecer, não é? Já que foi um acidente".
Parei de andar. E ela foi parando logo em seguida, deixando todo mundo começar a passar por nós.
"Agradecer?" - Repeti a palavra que ela usou, sem entender bulhufas de onde ela queria chegar.
"Sim, o que achou que eu ia fazer? Brigar com você por possivelmente ter salvado a vida de todos os meus amigos?".
Engoli em seco - "Estava mais para brigar comigo por arriscar sua vida".
"Minha vida está em risco constante há um ano, Elizabeth. A de todo mundo aqui está. A diferença foi que você soube usar a minha necessidade para atender a necessidade de todo mundo. Porque cá entre nós... Mesmo depois de tudo o que aconteceu e todo aquele motim... O Heyden ia dar um jeito de manter todos no acampamento. Mas, você deu outro motivo para gente sair de lá. Deixou ele sem escolha. De novo".
Ela falava de um jeito que eu não sabia dizer se ela estava me elogiando ou me ofendendo. Mas, mesmo assim, assenti, e quando dei por mim, sem nem saber porquê, já tinha soltado - "Eu sinto muito, Leah".
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Polaris - Sobreviva Conosco
Science FictionMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...