"O segredo está nos joelhos" - Murmurou com convicção; o mesmo tom diário de professor, mas dessa vez com um toque de divertimento - "Não se trata da sua pontaria, da velocidade da bola, nem a força que for aplicar. É tudo a postura, lembra disso".
Coloquei o taco em posição, ansiosa - "É, eu sei, vai lá e joga".
"Não sabe, não".
"Mas eu estou curvando os joelhos, droga".
"Está curvando sua coluna. E seu objetivo não é jogar charme para o lançador, é rebater a bola".
Abaixei o taco finalmente e me virei para o Noah - "Nossa, como você é vulgar, viu" - Reclamei.
E ele sorriu, colocando o boné para trás - "Só conheço a irmã que eu tenho. Olha para mim, é assim que se rebate um lançamento".
Não pude evitar. Caí na gargalhada assim que vi a cena dele se agachando com as pernas afastadas e os braços flexionados, feito o Homem-Aranha aterissando de um prédio; ri tanto que tive que apoiar as duas mãos nos meus joelhos. Então, é claro, Noah pulou em cima de mim na mesma hora, jogando a mão em cima da minha boca - "Shhhhh!! Fica quieta, se alguém ouvir a gente...".
"Devia estar mais preocupado com a possibilidade de alguém te ver, isso sim" - Zombei - "Pelo jeito, esse esporte é a única habilidade que fuzileiros não têm, né?".
"Essa é a posição certa, sua trouxa".
"Nunca vi nenhum jogador esperar a bola assim".
"Isso é porque você está sempre ocupada olhando para o jeito que eles andam... Ou falam... Ou suam".
Dei-lhe um empurrão, revirando os olhos.
"Quer saber? Rebater é uma aula avançada demais para o seu nível" - Debochou enquanto me dava as costas e caminhava na direção do centro do campo - "Vamos treinar só recebimentos por enquanto".
Dei de ombros, largando o taco no chão e colocando a luva - "Manda a ver".
Eu sabia bem o que estava acontecendo ali. Noah entrou no meu quarto às duas da manhã e me deu o maior susto da vida - Eu estava tendo um pesadelo com o meu pai; estava vendo ele na guerra, correndo para se salvar... E de repente... Dei de cara com o meu irmão, sacudindo meu ombro enquanto me mandava sair da cama.
"O que que foi? O que você quer, inferno?".
"Levanta".
"Sai daqui".
"Levanta!".
De nada adiantou perguntar o que estava acontecendo. Ele só me deu um casaco, me mandou calçar umas botas... Pegou as chaves do carro, e quando eu vi... Lá estávamos nós dois, só de pijama, dirigindo em meio à névoa cinza de Denton.
Escolhi a pior noite para ir dormir com o meu conjunto de seda azul estampado com flores rosas.
Só que isso tudo nem foi o que me entregou o jogo - O que me fez ver que Noah estava realmente tentando chamar a minha atenção para me dizer algo foi o fato de que invadimos o campo de futebol da minha escola. E para jogar baseball. Então, obviamente... Tinha coisa errada.
Não era a primeira vez que meu irmão me tirava de casa de madrugada para fazer uma estupidez. Ele já tinha armado algo assim antes, quando simplesmente me pôs no carro e dirigiu até o Estado vizinho só para comermos um hambúrguer num bar de beira de estrada. Foi nesse dia que ele me contou que tinha se alistado. E por isso também que fomos parar na cadeia, já que, na hora da raiva, dei um soco num cara só por ele ter me olhado estranho.
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Polaris - Sobreviva Conosco
Science FictionMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...