Nós caminhamos sem parar para acampar por cerca de um dia e meio; com apenas poucas paradas para respirar pelo caminho, não mais que cinco minutos cada. E eu não sabia bem onde estava. Tinha um mapa na minha mochila, mas Heyden não seguia nenhum padrão. Ora ia pelas trilhas, ora ia mata adentro; ora ia em direção ao sol, e pouco tempo depois se afastava dele, como se estivesse seguindo só sua intuição.
E o fato de caminharmos à noite não ajudava. A verdade era que seguindo aquele cara eu não me encontraria nem se tivesse um GPS. E isso me deixava nervosa, diferente de todo mundo: ninguém parecia ter problema algum em seguir o Heyden cegamente pela floresta. Era tanta confiança que eu era obrigada a me sentir desconfortável. Porque eu nunca confiaria nele assim. Ou pelo menos era o que eu pensava. Ainda mais pelo fato de que desde que eu o conheci, tudo o que eu fiz foi me afastar do meu caminho.
Pela primeira vez em meses eu não estava indo para Fort Brave; pela primeira vez em meses eu não pensava naquele lugar 60 vezes por dia. Agora, por causa dele, eu me via mais ocupada pensando em sobreviver aos meus novos amigos o suficiente para acabar morrendo de alguma causa natural. Provavelmente de cansaço.
Eu não dormia há dias.
James e eu nos aproximamos mais - Ele se responsabilizou por trocar meus curativos sempre que possível, enquanto me contava histórias sussurradas sobre o ginásio. Ele me fez sorrir; contando sobre como apenas correu o mais rápido que podia para longe da sua cidade até que viu um vulto azul vibrante passar por ele na floresta. Hailee. Aquele grupo de pessoas foi a única coisa capaz de fazê-lo parar de correr. Tínhamos isso em comum, então.
Ao mesmo tempo que me dei conta disso foi que eu também percebi o quando eu mesma estava longe; de repente assim, notei que a vegetação que me cercava agora era outra; os pinheiros estavam ficando escassos... Agora a maior parte do verde vinha de vegetação rasteira.
Então, sim, eu estava muito, mas muito longe de Fort Brave. E a sensação de estar falhando na minha única missão e perdendo minha última esperança só piorou quando comecei a sentir cheiro de água; como se estivéssemos perto do mar ou de um lago bem grande. Não demorou muito para eu descobrir que dessa vez eu não estava alucinando. Logo me vi percorrendo um barranco, vendo o azul claro e corrente por entre as árvores e cipós, refletindo a luz do sol para todos os lados.
Era um lago. E como eu previ, um lago bem grande.
Entrei em estado de alerta de imediato, assim que percebi o que Heyden fez; aquela quantidade de água era como fumaça indicando fogo... E o fogo em questão era a civilização. Lagos assim atraíam gente. E onde costumava haver gente, nós com certeza não devíamos ir.
Então, me dei conta de tudo. Heyden não estava se guiando pela sua sombra ou pelas estrelas, como eu faria. Estava seguindo o vento. O cheiro de água. Sinais de vegetação fácil de profanar. Era lá mesmo que ele queria estar. Aquele idiota era completamente louco.
Parei de andar.
Poucos segundos depois ele ergueu a mão, sinalizando para que parássemos, junto à água.
Respirei aliviada. Se ele quisesse que eu continuasse a partir dali, teríamos um problema.
Mas, todos apenas se agacharam, assim como ele. E eu ignorei a cena e continuei de pé, assistindo ele tirar um binóculo da mochila – Então, concentrei minha visão para onde ele apontava e descobri o porquê dele estar arriscando as nossas vidas: havia um cais. Uma espécie de deque com um pequeno posto para barcos e lanchas de temporada. Era um estabelecimento onde, com certeza em outra vida, gente rica parava seus esportes radicais na água para abastecer suas embarcações, comprar iscas e encher a cara.
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Polaris - Sobreviva Conosco
Science FictionMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...