Eu estou no comando

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Seis Meses Depois


"Beth! Preciso que confirme a excursão de amanhã e aprove a rota revisada" - Campbell veio por detrás de mim, me mostrando um papel gigante enquanto eu cruzava o acampamento. Parei e o encarei no rosto, ajeitando a mochila no ombro.

"Eu já fiz isso" - Respondi de má vontade - "Quantas vezes mais você vai precisar da minha confirmação?".

"O quanto for necessário para você perceber que estamos nos arriscando sem necessidade".

Sorri com deboche, examinando suas feições que eram jovens demais para um cara tão sádico quanto aquele; e por causa disso, até hoje eu ainda não sabia a sua idade, inclusive... Quando eu começava a olhar demais para o rosto dele e achar que ele devia ter uns 19 anos... Ele ia lá e torturava andarilhos com técnicas ilegais de guerra. Sem motivo nenhum. E mesmo assim, ele fazia mesmo o tipo que só gostava de riscos quando eles eram ideia dele. Do mesmo jeito que todos os homens daquele buraco do inferno - "Pode falar, Cam" - Provoquei - "Diz que o meu plano é um plano de merda, eu sei que você quer".

"Como se isso fosse fazer alguma diferença".

"Tem razão, não faz" - Dei de ombros - "Porque sou eu que mando e você obedece, não é?".

Ele fez silêncio e desviou o olhar. Do jeitinho que eu queria. Insisti, achando muita graça - "Não é?".

"É" - Respondeu finalmente, entre dentes, de má vontade. E isso foi o bastante para eu ficar satisfeita e sair andando.

Completei enquanto me distanciava - "A missão é minha e eu a aprovo, Campbell. Como sempre".

Pelas costas, senti ele se dar por convencido e sair também, nada feliz – Então, era mais uma tarefa do dia cumprida para mim: deixar o segundo no comando do Joshua com cara de tacho. Antes disso, tudo tinha sido feito nos conformes também; a manhã seguia normalmente até agora, pelo que eu via olhando em volta. Saí para tomar um banho e cacei um pouco enquanto todos dormiam... E cheguei na hora do café com já todo mundo de pé, movimentando o acampamento como uma feira. Recolhiam os sacos de dormir, acendiam as fogueiras, saíam de seus trailers já armados para as filas onde receberiam comida. 

Todo o som que eu ouvia era o de conversas, o da lenha estalando no fogo, e o de pratos e copos de alumínio sendo usados por centenas de pessoas ao mesmo tempo. Porque Joshua já tinha os mesmos números de pessoas de antes, é claro. De antes de a gente interferir. Como se nada tivesse acontecido.

A não ser pelas mulheres... Agora eles conviviam com mulheres também. E adolescentes. E crianças. Provavelmente para prevenir outro ataque como o que meu grupo organizou no passado. Afinal, seria bem mais difícil instaurar uma guerra contra assassinos e estupradores se gente vulnerável e inocente estivesse no meio. O que provavelmente, também... Foi ideia do Campbell.

Fui direto para uma das fogueiras perto do meu trailer, onde eu já via que o Oliver amolava sua coleção de facas - "Ei" - Chamei-o, sem parar realmente.

E ele ergueu os olhos para mim com despeito como se já soubesse que eu ia dizer alguma coisa que ele não ia gostar de ouvir. Porque toda a vez que eu abria a boca para falar com ele realmente era isso o que acontecia - "Que?" - Resmungou, com os olhos apertados na minha direção já que o sol batia no rosto dele.

"Peguei um cervo grande hoje, perto do rio. Vai até lá buscar e leva dois homens com você. O bicho deve pesar uns 200 kg".

Ele estalou a língua - "Não tinha nenhum pássaro no céu hoje?".

"Pássaros evitam locais com muitas cobras, Oliver. Já olhou para você e para os seus amigos? Isso aqui é uma infestação".

"Mesmo assim... Já deve estar ruim para consumo a essa hora" - Ignorou-me, cruzando os braços.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora