Tape os ouvidos e feche os olhos

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Nunca achei que eu diria isso.

Mas a verdade era que eu preferia ainda estar em perigo; ainda estar correndo pela minha vida, sem saber se eu ia ver o sol se pôr de novo.

Porque assim, pelo menos, eu não teria tempo de pensar sobre o que aconteceu, nem sentir as consequências daquilo na minha pele. Afinal, com certeza não existia pergunta mais cruel que aquela, e disso eu sabia bem: será que todos morreram mesmo?

Eu e o Heyden não podíamos ter sido os únicos que deram sorte. Stefan tinha que estar vivo. Karoline tinha que estar viva. Tobias... Tobias não me parecia ser um cara fácil de se matar. Não, ele não. Ele estava vivo, com certeza; muito bem abrigado numa casa espaçosa e aconchegante que ele construiu em um dia ou menos, usando nada além de troncos e barro; só esperando que o grupo o encontrasse de novo.

Precisava ser verdade.

E isso me dizia que agora eu sabia de só uma coisa, pelo menos: noite passada, quando fui deitar, adormeci chorando, com a adrenalina abaixando e finalmente me dando tempo para pensar; me dando tempo para ver que eu não tinha ideia do que eu ia fazer da minha vida a partir daquele dia. Mas, por causa disso, agora não havia dúvidas: só o que tinha nos restado depois de tudo aquilo era descobrir o que aconteceu.

Mesmo assim, não tive tempo sequer de levantar da barraca de repente e fazer um estardalhaço a respeito, distribuindo ordens para todos os lados. Porque alguma coisa me fez levantar antes disso; uma coisa gelada e pesada, encostando no meu pescoço, bem em cima da minha artéria.

Virei-me, deitada mesmo, e encontrei o Heyden com dois dedos posicionados próximo a minha garganta.

Só podia estar de brincadeira.

"Estava tentando checar o meu pulso?" - Perguntei com descrença, ainda sonolenta.

Ele tirou a mão devagar e se afastou - "Não...".

"Eu estou viva, caramba".

"É, eu percebi, obrigado" - Deu de ombros, começando a vestir suas roupas mais secas - "Boa notícia, então: não foi infectada. O corte foi mesmo das corredeiras. Meus parabéns".

Bufei, irritada por ele não ter acreditado em nenhuma palavra que eu disse ontem - "Má notícia, então: ainda não tem como saber. O corte pode ter sido do hospedeiro. Meus pêsames".

"O quê?" - Ele parou com as mãos no zíper da calça, exatamente como fez na outra noite.

Revirei os olhos enquanto me levantava também - "O tempo do vírus se espalhar varia. Não vamos saber com certeza sem esperar no mínimo dois dias. Então, se eu fosse você, tomaria cuidado comigo. Posso acabar te mordendo a qualquer momento" - Falei com sarcasmo, só para perturbá-lo; o que funcionou perfeitamente.

Ele gritou, vindo atrás de mim quando saí da barraca, onde a luz do sol praticamente me deixou cega.

"Espera, você não tem certeza se foi infectada? Não foi isso o que você me disse ontem, Elizabeth!".

"De que isso importa, você nem acreditou em mim... Me acordou verificando se eu estava morta, esqueceu?" - Disse, me espreguiçando, tentando ficar debaixo dos raios do sol sem ligar para o show dele.

Mas, Heyden não se deu conta disso.

Continuou a se descabelar.

"Garota, eu dormi bem do seu lado, ficou louca?!".

"Até parece que se eu tivesse dito alguma coisa você teria dormido do lado de fora".

Ele riu - "Eu não... Você".

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora