Tudo o que temos é um ao outro

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"Como assim o portão vai cair?" - Perguntei num sussurro quase que inaudível, sentindo um nó imenso na garganta sufocando a minha voz. Meu estômago gritou. Como se eu tivesse despencado de um lugar muito alto de repente. E com isso, tudo o mais se desregulou. O sangue fugiu do meu rosto. Minhas mãos gelaram. Meus pés pareciam duas bigornas de cimento encravadas no chão.

Liam olhou para mim em silêncio. Prestando atenção no jeito descontrolado que eu respirava. Não sei por quê, mas isso só me deu mais desespero ainda; só mais vontade de chorar - "Diz que você está brincando" - Implorei, fora de mim, recuando - "Diz que é mentira, Liam, por favor, eu não posso...".

"Nós vamos ficar bem" - Ele me cortou então, dando um passo à frente para me segurar pelos ombros como se minha reação o tivesse desconcertado - "Vamos dar um jeito, a gente sempre dá".

"Como?!" - Me afastei - "Não tem jeito de sairmos daqui, sabíamos disso desde o início! A gente falou para todo mundo que se ficássemos, seria um caminho sem volta!".

"Eu sei".

"Eu não posso voltar lá para fora" - Comecei a sentir as lágrimas queimando minhas bochechas - "Não dá, eu não posso passar por tudo aquilo de novo!".

"Ellie...".

"Não! Eu achei que tinha acabado, a gente prometeu para eles que tinha acabado, eu não posso voltar para as montanhas, Liam, não consigo..." - Ele me puxou então, quando todo o meu fôlego foi embora. Quando dei por mim, estava nos braços dele.

Senti sua mão proteger minha nuca e sua boca falar baixo, bem perto do meu rosto - "Não vou deixar nada de ruim acontecer com você" - Garantiu num sussurro - "Nós vamos sobreviver, loira. Você e eu, como sempre. Eu te prometo".

O calor do peito dele me envolveu em um segundo. E fácil assim, eu me senti segura... O que só piorou as coisas. Porque tudo o que passou pela minha mente foi que aquele abraço não ia durar para sempre, e que agora eu corria o risco de não poder mais contar com um momento como aquele nunca mais. Chorei descontroladamente, pensando não só que era impossível sairmos, mas que se saíssemos, eu não aguentaria. Não podia voltar a viver em silêncio pelas florestas, passando fome, frio e medo; vendo o Noah toda a vez que eu surtava ou que atirava uma flecha. Mal sobrevivi da última vez. Não dava para fazer de novo. Talvez fosse melhor que o shopping nos derrubasse.

Despenquei até o piso; e Liam veio comigo. Continuamos abraçados no chão enquanto eu colocava para fora todo o meu desespero... E ele esperou pacientemente, me apertando com firmeza, escondendo meu rosto e afagando minha cabeça sem dizer nada, mas com concentração extrema. Provavelmente já estava tentando pensar em algum plano.

Se não fosse por ele, já estaríamos mortos, então. Porque eu com certeza não conseguiria sair daquele estado nem tão cedo - "Uns garotos me procuraram essa manhã" - Ele de repente falou baixo e devagar, sem me soltar, assim que me acalmei - "Disseram que tinha uma coisa que eu devia checar no portão... Não achei que fosse nada. Sabia que você estava com o Alex e que não vinha dormindo direito... Não quis incomodar" – Suspirou - "Estavam jogando bola no hall de entrada, foi assim que começou" - Completou - "A bola escapou para longe, através das portas automáticas... E rolou para o estacionamento. Então um deles foi lá buscar. Foi assim que eles ouviram".

Franzi a testa e me afastei do seu peito, para encará-lo nos olhos - "Disseram que parecia um ranger de metal" – Falou, enquanto secava meu rosto com as duas mãos - "Como o barulho estridente que uma porta velha faz quando abre. Só que mais alto, e... Mais persistente" - Só aí ele olhou nos meus olhos também - "Os ferrolhos estão com os dias contados, Elizabeth. O que o David fez, o que o Nick fez... Foi demais para o portão. Não vamos sobreviver se acontecer algo assim de novo, e não vamos sobreviver ao tempo também. Mesmo se nenhum hospedeiro nunca mais encostasse no portão... Ele está caindo".

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora