Estamos com você agora

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Aquele com certeza era o silêncio mais desconfortável que eu já tinha experimentado.

Tudo bem que depois de tudo o que tinha acontecido nos últimos dois dias a última coisa que qualquer um de nós estava querendo era conversar a respeito. Eu que o diga. Não queria discutir nem sobre a mentira que contei, nem sobre meu irmão, ou sequer a loucura que fiz em Winston City... Assim como eles com certeza sabiam que falar sobre terem me banido e me deixado para trás antes daquilo não terminaria bem para nenhum dos dois lados... Mas, um clima daqueles? Nenhum mísero som? Já estava demais. E de alguma forma parecia que era em cima de mim que a atmosfera decidiu desabar.

Estávamos no espaço de carga de uma das dezenas de vans que eles tinham. Eu, Liam, Stefan, Karoline, James, Jonathan, Nick e Leah. Sob a supervisão de apenas um dos homens de Joshua. O resto de nós estava espalhado e dividido nos outros furgões... Queira Deus em ambientes mais amigáveis que aquele.

Stefan parecia estar tentando a todo custo não olhar para mim; e bem que tive tempo e audácia o bastante para focar minha atenção em cada detalhe; nas suas feições italianas; no seu cabelo loiro desgrenhado; na tatuagem enorme de um olho logo abaixo de seu ombro. E mesmo assim ele continuou de braços cruzados, pernas esticadas sobre o chão, encarando o nada. Sabia que eu estava olhando para ele; sempre sabia. E mesmo assim, não levantou a cabeça.

Ao contrário de James e Karoline. Os dois estavam me encarando de graça, sem disfarçar. Karoline, como se estivesse me pedindo desculpa com os olhos, e James por admiração, cheio de orgulho de mim como se eu fosse irmã dele. Também como sempre.

Nick também estava observando; mas não só a mim. Na verdade, ele estava olhando para mim e para o Liam, que estava sentado do meu lado; olhando para nós dois como se fôssemos uma coisa só, num quadro disposto para contemplação. Tinha até um leve sorriso no rosto; nem piscava... Feito acontecia toda a vez que havia alguma tensão no grupo.

Talvez fosse isso. Talvez ele estivesse percebendo o conflito entre mim e o Liam e adorando a cena. Eu não estranharia.

Mas, Jonathan e Leah... Com certeza continuavam sendo os mais espertos da turma: porque não tiravam os olhos do estranho sentado conosco no furgão, enchendo o ambiente com a fumaça do charuto. Eu quase podia ver os cálculos de matemática e física que Jonathan já fazia mentalmente, se preparando para o momento em que Liam mandaria ele inventar alguma coisa que facilitasse a nossa fuga. E Leah... Só devia estar esperando ele fazer um mísero movimento brusco para rasgar a garganta dele com seu canivete. De qualquer forma, os dois nem estavam percebendo a tensão dentro do carro.

Inveja.

Talvez esse fosse o segredo para eu conseguir me distrair daquele sufocamento, então. Decidi fazer a mesma coisa - Comecei a examinar o cara na minha frente.

Parecia uma espécie de motoqueiro, não vou mentir. Mas não como aqueles contemporâneos; estava mais para um da velha guarda, do tipo bandana preta, óculos escuros, corpo coberto de tatuagens e motocicletas de 45 mil dólares, amostra de colecionador. Tinha o cabelo rente, mas a barba por fazer. Nariz e orelhas que com certeza já tinham aberto com socos frequentemente no passado, como se ele fosse um lutador de MMA. Tinha porte para isso... Não fosse a idade.

Devia ter uns 40 anos, talvez mais. Era o mesmo homem que ameaçou me jogar para os "cães" depois de me impedir de voar para fora do carro em movimento.
De repente ele olhou para mim, então - E não desviou o olhar, mesmo quando percebeu que eu o estava encarando. E claro, normalmente eu não fujo dessas situações; na verdade, adoro quando isso acontece. Porque não tem jeito melhor de provar que você não está intimidado do que olhando alguém nos olhos... Mas fui forçada a parar.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora