"Prontos ou não, aí vou eu!" - David cantarolou da porta da loja, num tom completamente diferente de qualquer coisa que eu já tinha ouvido na vida. Feroz, gutural, numa mistura de riso e rosnado. Estava louco. E com certeza ia nos matar ali dentro se nos encontrasse, sem nem hesitar - Acreditei nele; realmente acreditei no perigo que estava correndo de ganhar uma bala no crânio de imediato se eu cometesse algum erro. Então eu não ia errar. Não ia lhe dar essa chance.
Virei para o Alex e sussurrei - "Fica aqui, eu já volto".
Ele agarrou meu braço quando tentei sair; seus olhos assustados e arregalados para mim eram praticamente tudo o que eu podia ver com clareza na minha frente - "De jeito nenhum, aonde você vai?!".
"Vou pegar meu arco".
Ele parou, examinando meus olhos e minhas palavras. Pareceu que só naquele momento se deu conta de que eu não ia cair sem causar um estrago; que nós três não íamos sair vivos daquela loja. Alguém ia morrer em poucos minutos.
Por isso, Alex me largou: quase pude ver em seu rosto que ele prometia a si mesmo que esse alguém seria o David.
Saí agachada por entre o labirinto de araras e manequins enquanto o psicopata ainda cantava - "Ihuuuu! Onde estão vocês?!" - Daí um estrondo metálico e cacos de vidro se espalhando no chão; David chutou alguma coisa grande; e ia continuar fazendo isso com tudo na sua frente até nos encontrar.
Engatinhei quando entrei na linha de visão dele - Corri e me pus de costas contra uma bancada cheia de bolas de basquete. Já vi os arcos dali.
"Por que vocês ainda estão lutando?!" - Perguntou - "Dentro de alguns míseros momentos vocês já vão morrer de qualquer forma! E eu não sei vocês, mas eu prefiro morrer com um tiro do que morrer devorado. Então aceitem esse favor que eu quero fazer para vocês antes que os zumbis cheguem, que tal?".
Aproximei-me do varal com os arcos - Agarrei um e o puxei para fora da forma mais silenciosa possível; e num movimento só agarrei também uma aljava cheia de flechas de metal. Aí me movi mais uma vez e me encolhi atrás de outro balcão; coloquei o cinto da aljava no meu peito e já fui arrancando uma flecha de lá: coloquei-a em posição no arco e esperei para ouvi-lo cantar de novo afim de descobrir sua localização.
"Não tem mais jeito, crianças!" - Gritou, derrubando outro manequim - "Facilitem para vocês mesmos e eu prometo que vai ser rápido e sem dor. Porque aquele portão vai cair hoje. E se não cair, o incêndio vai dar conta do recado. Tarde demais para tentar bancar os heróis!".
De repente o alarme ensurdecedor e a chuva pararam ao mesmo tempo, deixando um silêncio profundo para trás, sem mais nem menos. Olhei pelo cantinho da bancada e vi o contorno do David ao longe, só uma parte do seu rosto, olhando para o teto com cara de confuso.
Leah conseguiu. Cortou o alarme e direcionou toda na água para o subsolo, como o Liam mandou.
Aproveitei a distração dele e corri de volta para o Alex. Íamos ter que ser bem mais silenciosos agora - "Vamos pedir ajuda pelo rádio" - Ele já foi sussurrando contra o meu rosto quando me agachei ao lado dele.
"Não, não vamos trazer mais ninguém para a mira da arma desse louco".
"Mas, Elizabeth...".
"O Liam não pode saber. Se ele souber, ele vai vir. E a gente precisa dele lá embaixo".
"Acho que estou ouvindo vocês sussurrando, hein!" - David berrou ao mesmo tempo em que derrubava um outro trambolho, bem mais perto de onde estávamos. Estremeci no lugar e quase caí no chão, mas Alex me segurou pelos braços; agarrei os pulsos dele também, com os olhos vidrados na direção do barulho.
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Polaris - Sobreviva Conosco
Science FictionMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...