Eu não sou uma boa pessoa

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AVISO

O capítulo a seguir contém cenas fictícias de violência sexual.

Não recomendado para pessoas sensíveis.

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"Tudo bem pessoal, prestem atenção nas regras!" - Exclamei por cima do barulho das conversas, voltando meus olhos para o papel na minha mão. E foi só eu dizer a palavra "regras" que escutei alguém me vaiar com toda a força do mundo. Claro que foi o James.

Ignorei-o - "Primeiro... Se alguém se machucar, a brincadeira acaba, então façam o seu melhor para não machucar ninguém, pelo amor de...".

"Você está morto, Griffin!" - Escutei James rindo e falando alto, ao mesmo tempo que eu. Nem ouviu o que eu disse. Provavelmente ninguém ouviu, inclusive. Ninguém além da Leah, que olhava para mim com concentração, agarrada ao guidão da bicicleta como se eles fossem seus pulmões. Fora isso, o resto era algazarra completa.

"Alô!! Dá para vocês me ouvirem?! Eu estou tentando..." - Ninguém dava a mínima. Todos riam e falavam alto, animados até à alma atrás da linha de largada que eu desenhei no chão com tinta spray.

Caramba, eu sabia que eles iam gostar daquilo, mas não a ponto de ficarem loucos.

"Eeeeeei!!" - Alex berrou por cima do turbilhão, do meu lado - "Atenção, cambada de moleques!! A Elizabeth quer falar!!".

Quase fiquei surda. Igual a todo mundo, aparentemente, porque todos fizeram silêncio na mesma hora. Respirei fundo - "Como eu estava dizendo... Se alguém se machucar, a brincadeira acaba".

"Mas é óbvio que alguém vai se machucar, darling!" - Klaus exclamou com seu sotaque britânico insuportável - "Porque isso aqui não é uma brincadeira coisa nenhuma, eu vim para destruir todos vocês!".

Pronto. A confusão começou de novo. Tentei falar outra vez, mas não consegui, então Alex soltou um daqueles assobios estridentes que viajam quilômetros de distância, fazendo meus ouvidos tinirem - "Para de fazer isso" - Grunhi baixo, só para ele, como uma mãe faria com seu filho na casa de estranhos.

"Eu só quero ajudar... Esse povo não tem o menor senso" - Respondeu sussurrando também, com aquela expressão fiel e dedicada a mim que só ele tinha.

Dei um sorrisinho e afaguei seu ombro antes de continuar a falar - "Segunda regra...Vocês só têm até o final do dia. É a hora em que o pessoal da janta tem que parar e ir para cozinha, e tem vários deles brincando com vocês, não seria justo".

"Por que que eles estão participando, então?" - James reclamou - "É questão de lógica, para quê estragar para todo mundo se...".

O fuzilei com os olhos. Ele parou de falar.

"Terceira regra..." - Metade das 40 pessoas ali bufou ao mesmo tempo, olhando para o teto.

"... Não quero ver ninguém incomodando as pessoas que decidiram ficar de fora. Inclusive eu. Então não me torrem a paciência, esqueçam que eu existo, porque eu não vou dar dica nenhuma de nada".

"Mas e se a gente precisar de...".

Eu já estava por aqui - "Sei lá, formem alianças, não ligo. Contanto que não envolvam ninguém de fora e...".

A confusão começou de novo. Já foram formando seus grupinhos e distribuindo seus high-fives antes mesmo que eu terminasse de falar. Revirei os olhos.

Dane-se então - Tomei a arma de som da mão do Alex e apontei para o teto, puxando o gatilho sem cerimônias: e assim, o estalo alto ressoou na mesma hora, dando início à maratona de caça ao tesouro que eu planejei por três dias.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora