A minha história

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"Você está morto" – Murmurei, mecanicamente, olhando para o teto como se ele fosse um farol no meio de uma tempestade - "Morto e enterrado".

E a voz do Noah soou claramente no meu ouvido, mais uma vez - "Não o bastante, aparentemente".

"Cala a boca... Cala a boca, cala a boca".

"Você sabe muito bem que isso não vai acontecer".

"Morto. Enterrado. Morto. Enterrado".

"Olha para mim, Elizabeth".

Fechei os olhos, contrariada. Pus as mãos nas orelhas. Até prendi a respiração - Eu podia fazer isso. Podia fingir que nada estava acontecendo até que realmente nada estivesse. Era bem mais fácil. Porque, dessa vez, era diferente. Noah não estava numa fumaça nublada que aparecia por alguns poucos segundos antes de eu ter um ataque. Agora, ele estava lá. Bem, tanto quanto poderia estar. Claro como o dia. Alcançável. E por horas dessa vez.

Eu devia mesmo estar morrendo.

"Olha para mim, anda" - Ele insistiu.

"Não. Você não é real. Você não está aqui".

"Errado. Eu não estou aqui, verdade, mas isso não quer dizer que eu não seja real".

Suspirei. Abri os olhos de leve. E lá estava ele, sentado no pé da minha cama, me encarando como se eu fosse uma flor rara. A imagem fez meu peito doer tanto que eu estremeci.

“Se não pode lidar comigo aqui, a solução é simples" - Deu de ombros, assim que viu minha reação - "Levanta dessa cama e vai buscar seus antibióticos. Juro que quando você ficar saudável, eu desapareço num instante".

"Não desaparece, não" - Rosnei, puta da vida - "Você sempre está aqui. Sempre. Como uma droga de assombração".

"Quer que eu te deixe em paz?".

Trinquei os dentes.

Ele repetiu - "Quer, ou não?".

"Quero, porra".

"Mentira" - Atirou, apontando para mim como se já esperasse que eu fosse dizer isso - "Se quisesse mesmo, eu não estaria aqui".

"Eu não preciso disso".

Ele riu e repetiu - "Outra vez... Se não precisasse, eu não estaria aqui".

Grunhi e me contorci, sentindo uma dor bem real por estar ouvindo a voz dele - "Sai... Da minha... Cabeça!".

"Não" - Ele disse tão firmemente, tão convicto, que tive que abrir os olhos para encará-lo - "Não vou sair da sua cabeça. Nunca. É importante deixar isso claro logo agora, então entende o que eu estou dizendo? Não vou sair".

Comecei a chorar. De puro desespero. 

O ouvi suspirar de imediato - "Lá vai você, se desidratar ainda mais. Sabe há quanto tempo você não toma água?".

"Foda-se!!" - Gritei, enxugando minha cara de qualquer jeito.

"Legal, muito bem. Bom ver que te treinei tão bem, tão direito, que você realmente vai ter a sorte de morrer dentro de um barraco no meio do nada, enterrada por uma montanha de neve. Valeu a pena".

"Melhor que morrer soterrada por uma montanha de pedras".

Ele bufou - "Se tem forças para fazer piadas, tem forças para levantar essa bunda daí e achar um jeito de sair dessa cabana".

"Não".

"Não?".

Fiquei em silêncio. Respirei fundo e me ajeitei, como se estivesse pronta para cair no sono de novo. Mas, é claro, ele não deixou - "Está bem, então. Já que vai ficar, vamos aproveitar o momento" - Falou alto, se levantando da cama e se virando para me encarar - "Vamos conversar sobre umas coisinhas".

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora