Parecia bem simples para mim. Não tinha o que pensar. As coisas eram como eram, e nada podia ser feito para reverter aquilo. No entanto, mesmo assim, Liam não assentiu e recuou na direção da saída, como qualquer outra pessoa teria feito. Ele só ficou lá, olhando para mim e para o Nick, se recusando a se mexer e a escolher a opção mais óbvia que nos foi dada. Ele só manteve os pés firmes no chão, resoluto, sem parecer ter a mínima intenção de sair de lá.
"Ouviu o que eu disse, Heyden?" - Nick insistiu, com a testa franzida - "Estou dizendo ou a Elizabeth, ou todos. Não é uma questão tão complicada assim".
Mais uma vez, Liam não se mexeu - "Ei!" - Nick gritou - "Você sabe muito bem que eu não dou a mínima se eu morrer quando eu soltar esse isqueiro. Caramba, as pessoas com certeza vão me matar de qualquer jeito, e com as próprias mãos, depois que virem tudo o que eu fiz aqui. Eu sabia disso antes de fazer, e fiz mesmo assim. Não tem diferença para mim. Mas, você? Vai me dizer que não tem diferença para você?".
Dessa vez Liam respondeu - "E por que você se importa?".
"Eu não quero que seja rápido!" - Gritou de novo, perdendo o controle - "Eu quero que vocês sofram, como eu sofri, que fiquem de luto, como eu fiquei! Quero que vocês entendam, que vejam que eu sempre tive razão!".
Não reagimos - "Mas, se eu não tenho alternativa..." - Completou, amansando a voz - "Tudo bem também. Só o que eu sei é que não passa de hoje...".
"Vai embora, Liam" - Cortei o Nick, assim que percebi uma resolução perigosa se formando na expressão dele - "Vai e chama todo mundo, ele vai se entregar depois disso".
"Não".
Fiz uma careta - "Você enlouqueceu?!".
"Eu não vou embora".
Saí do sério - "Você tem uma responsabilidade" - Rosnei, sem conseguir controlar as lágrimas de raiva - "Não pode trocar a vida de todos só pela forma como eu vou morrer" - Ele começou a balançar a cabeça, mas continuei falando - "Porque se você não entendeu, Liam... A questão é que eu vou morrer. De uma forma ou de outra. E se quer saber, eu prefiro bem mais que seja esfaqueada do que queimada viva".
Tudo o que ele fez foi responder - "Você não vai morrer".
Fiquei mais irritada ainda. Não hesitei mais. Dei-lhe um empurrão e gritei - "Vai embora, Liam!!".
O rosto dele se contorceu de dor, como acontecia toda a vez que eu chorava, mas não mudou de resolução; ele sequer saiu um centímetro do lugar - "Não posso".
"Eu não preciso disso" - Empurrei-o de novo, fora de mim - "Essa é a última coisa... Que eu preciso agora!".
Dessa vez ele me segurou pelos braços e botou o rosto na frente do meu, para que eu olhasse em seus olhos enquanto ele dizia - "Sinto muito, de verdade. Mas não vou deixar que termine assim. Você vai sobreviver hoje".
Nick riu, enfim - "Pelo jeito você não escutou tudo o que eu falei".
"Ah, escutei, sim" - Garantiu, sem soltar meus ombros - "Inclusive, o shopping inteiro escutou também".
Olhei para a cara dele, sem entender o comentário. Nick fez o mesmo. Então, foi só por causa do silêncio que fizemos que deu para ouvir: o chiado baixo vindo do rádio do Liam, encaixado no seu cinto. Foi aí que eu entendi - Ele acessou a frequência aberta de todos os walkie-talkies do grupo. Todos os que estavam com seus rádios ligados ouviram a conversa inteira.
Nick deu um passo à frente - "O que você...".
E ele não pôde terminar a sua frase. Na mesma hora todas as luzes do mercado foram cortadas e o sistema de controle de incêndio foi ativado; uma tromba d'água caiu em cima da gente instantaneamente, distraindo o Nick por meio segundo. Liam se aproveitou. Me jogou para trás e voou em cima dele, atirando-o ao chão.
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Polaris - Sobreviva Conosco
Science FictionMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...