Entre nós dois

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Mais um dia, mais 24 horas brincando de "tudo certo, nada errado". E eu estava ficando boa nisso, finalmente.

Foram muitos anos de experiência, para dizer o mínimo. Porque minha casa não era tão diferente no quesito do ignorar seus problemas até que eles sumam - Meu pai, minha mãe e meu irmão me ensinaram bem. Então, aquilo não era nada. Minha casa agora tinha o tamanho de dois estádios de futebol. Muito lugar para eu me esconder. Muita coisa para eu fingir interesse.

O problema era só que, a cada dia que passava, eu parecia arrumar mais pessoas para entrar em confronto. O tipo estava se multiplicando... Se alastrando por todo o lugar que eu ia: David, Charlie, Alycia, Griffin, Kate... Stefan e... A pessoa que mais me assustava nessa vida. Estavam por toda a parte. E quando notassem que eu estava sempre indisponível de propósito, aí sim tudo iria por água abaixo.

O tempo estava contra mim. Seria ele quem ia deixar tudo óbvio demais. Mesmo assim, por algum motivo, achei que eu ainda teria algumas semanas; por algum motivo extremamente idiota, diga-se de passagem. Porque eu estava bem enganada.

Levantei às cinco da manhã naquele dia. Não consegui terminar a planilha na noite seguinte, porque Leah teve outro daqueles surtos de "claustrofobia" - De quando em quando ela ficava muito ciente das paredes que a cercavam e ficava puta da vida. Jason, coitado, tomou um soco na cara só porque disse que ela pesou demais a mão no sal num arroz que fez esses dias... Desde então tínhamos mais cuidado com ela. E foi o que aconteceu ontem. Senti que ela estava ficando ligada demais, então a levei para a nossa academia. Para cansá-la. Mas, acabou que quem cansou fui eu, quando fui dormir às 2 sem terminar minha principal tarefa do dia.

Meu horário de lazer daquela tarde ia ser para dormir, eu já tinha decidido.

Mesmo assim, consegui resolver tudo sem problemas. Imprimi a relação de nomes e horários, tirei umas 15 cópias e deixei os papéis na bancada do quiosque 1, no lugar de sempre. Então foi só eu me sentar e dar um gole na minha xícara de café que as luzes acenderam. Automaticamente. Junto com a música ambiente - Tínhamos descoberto como fazer isso há um tempo, o que foi ótimo. As pessoas estavam acordando muito tarde e acender tudo manualmente dava trabalho demais. Agora as manhãs e as noites eram todas regidas pelo computador.

Daí, cinco minutos depois do clarão, a fila sonolenta de pessoas começou a sair do dormitório; todos de pijama e olhos fechados feito eu. Desse jeito, vieram direto para a bancada saber o que iam fazer naquele dia. Como era de praxe. Fiquei cercada de pessoas enquanto voltava toda a minha atenção para a minha xícara azul e fumegante, deixando o vapor esquentar meu rosto e enganar meu cérebro para ele acreditar que eu estava confortavelmente descansada.

Alguém beijou o topo da minha cabeça. Nem olhei, mas sabia que tinha sido o Stefan. Era assim que ele me dava bom dia, todos os dias, do jeito mais italiano e natural possível. Ainda nem desconfiava que eu queria estrangulá-lo por estar com a Kate. 

Levantei da cadeira com cara de paisagem, querendo ir para longe sem corresponder o beijo. Mas ele nem se deu conta. Quando eu vi, ele já estava se servindo de café, em duas xícaras. Uma delas, provavelmente para ela.

Travei a mandíbula e lhe dei as costas, só para dar de cara com o James, que já estava esperando para fazer sua cena atrás de mim. Estava de cara feia, como era esperado; me mostrando a planilha com uma expressão parte tristonha, parte frustrada.

Sorri e cheguei mais perto, sabendo exatamente como ele se sentia. Joguei meus braços sobre seus ombros e o abracei, lhe dando um beijo no rosto enquanto ele só olhava para o papel, inconformado - Já faziam alguns dias que as pessoas praticamente organizaram uma intervenção para exigir que eu e o James nunca mais ficássemos juntos na mesma tarefa. Irritávamos todo mundo. E normalmente só deixávamos tudo pior do que estava antes.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora