O fim do mundo é uma merda

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"Me solta!!" - Alguém abafou meu grito lançando a mão sobre a minha boca e agarrando meus braços. Continuei tentando falar - "Eu vou lá fora! Eu vou lá fora!".

Me derrubaram. Todas as pessoas dentro do meu furgão se fecharam em cima de mim a ponto de eu não poder ver nada além de seus rostos. Kyle foi o que chegou mais perto, sussurrando e rosnando - "Cala a boca, caralho! Não podemos fazer barulho, ainda tem hospedeiros aqui!".

"Tem muito mais lá dentro com ele!".

"Eu não sei o que aconteceu, Elizabeth, ninguém fazia ideia de que ele ia fazer isso! Mas se acalma agora mesmo, não está ajudando ninguém!".

Fiquei uns segundos parada, olhando nos olhos dele, respirando ofegante, como um animal encurralado, preso no chão. Me esforcei para parecer o mais centrada possível para convencê-los a me soltar: controlei a altura da voz e sussurrei também - "Me soltem".

Eles se entreolharam. Repeti - "Me soltem, eu estou bem".

Kyle teve que fazer um sinal de cabeça para eles acreditarem que era mesmo seguro fazer o que eu estava mandando. Foi quando eu entendi que eu tinha perdido toda a minha credibilidade ali. Se fosse fazer alguma coisa... Teria que ser na violência.

Levantei. Peguei meu rádio e chamei o Jonathan - "O que foi que aconteceu?".

Escutei o choro da Alycia por detrás da voz dele - "Não sei, ele... Acabou de se sacrificar, eu acho".

Sacrificar uma ova - "E agora o quê?" - Cuspi - "O caminho está livre e simplesmente vamos embora? É isso o que ele quer?".

As pessoas me olharam atravessado ali, e eu sabia o porquê. Eu usei verbos no presente. Estava falando como se ele ainda estivesse vivo, o que acabava ainda mais com a minha credibilidade. Todo mundo estava morrendo de medo demais para lembrar que não podíamos ir sem ele.

"Eu vou dizer o que vamos fazer" - Soltei no rádio, na frequência aberta, olhando bem na cara do pessoal no furgão - "Vocês vão passar por aquele portão... E eu vou voltar para o shopping".

O grupo inteiro começou a falar ao mesmo tempo. Ignorei-os - "Não é uma discussão. Está decidido".

Charlie grunhiu do volante - "Não temos tempo para essa conversa toda, porra, temos que ir antes que a passagem se feche de novo!".

Agarrei meu arco e minhas flechas enquanto mandava para alguém - "Abre a porta".

"Não vamos abrir porta nenhuma, enlouqueceu?" - Charlie rebateu de novo. Mas eu já estava pronta.

"Vocês vão dirigir até o fim da avenida e nos esperar na esquina. Tem um acesso de esgoto lá que eu e Liam vamos usar para sair. Esperem só quinze minutos. Contados de relógio. Se passar disso, e não aparecermos... Vão sem a gente".

Um monte de pessoas começou a falar ao mesmo tempo na frequência aberta. 

Kyle deu um passo à frente, decido a me deter - "Não, você não pode...".

Não deixei que ele terminasse. Ergui minha pistola e a apontei para a testa dele.

Todo mundo parou e ergueu as mãos - "Abre a porta" - Mandei.

"Elizabeth...".

"Me desculpa, Kyle. Mas eu não vou embora sem ele".

"Isso é besteira" - Charlie grunhiu do volante mais uma vez, e dessa vez ligou o motor do carro. Como se fosse arrancar comigo ainda lá dentro. Nem hesitei. Atirei contra o chão.

O grupo inteiro gritou – E o barulho reverberou inteiro dentro do furgão, como se estivéssemos dentro de uma caixa para-raios de metal selada: todos cobriram as orelhas e se encolheram com o estrondo que fez os ouvidos de cada um ali dentro apitar. Eu não. Eu mal escutei o que eu fiz, só queria sair dali.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora