Não vamos nos separar

21 5 23
                                    

Jonathan's p.o.v.

Já eram dez da manhã e todo mundo ainda estava na cama.

As luzes se acenderam às seis, como de costume. E algumas pessoas até tentaram ir até o quiosque para ver a planilha do dia... Mas, não havia nenhuma. Porque, mais uma vez, ninguém sequer sabia onde estava a Elizabeth. Então mesmo esses poucos acabaram desistindo e voltaram para os dormitórios.

Tentei chamá-la pela frequência dela no rádio - Pelos walkie-talkies que eu tinha modificado para todo mundo. Mas o dela estava desligado; o dela e o do Heyden, inclusive. E ele também eu não sabia onde estava. 

Ruim, muito ruim.

Tive que sair vagando por aí para ver se os encontrava... Mesmo que levasse uma eternidade. E realmente levou. Andei por horas, sobre cada canto do shopping, e o dia já estava chegando ao fim sem que eu tivesse qualquer sinal deles.

Sentei em um banquinho no meio de um corredor qualquer e suspirei, cansado e decepcionado - O clima era insuportável. O silêncio era aterrador; como se tivéssemos entrado num túnel escuro sem nenhum fim à vista. 

Estava na cara de todos: tudo o que aconteceu na ceia de natal foi como ser atirado de cima da montanha mais alta. Porque estávamos felizes. Não havia nada de errado no mundo. E de repente assim, num estalar de dedos... Vimos de camarote o quanto estávamos errados; o quanto a bala e o sangue ainda faziam parte das nossas vidas. 

Era uma certeza bem drástica para se ter de um segundo para o outro. Várias pessoas ainda estavam em choque, e tudo bem, é uma reação mais que normal. O problema era só que os nossos líderes faziam parte dessas pessoas. Então, tudo parou de funcionar.

Vi um movimento pelo canto do olho, enfim; cinco minutos depois de eu ter me sentado só para lamentar a merda toda. Notei a luz do cabelo loiro dela antes de qualquer outra coisa, quase que flutuando dentro da loja escura há uns dez metros de mim.

Suspirei e me coloquei de pé, sem nem saber direito o que eu ia fazer. A essa altura, no entanto... Eu sabia que isso não importava tanto; só estar lá e dizer alguma coisa que fosse, já deveria fazer alguma diferença.

Pus um pé para dentro da loja, e fui logo ficando confuso de cara. Murmurei assim que a vi, sentada nos fundos, sobre um dos pufes de cor marfim - "Uma loja de vestidos de noiva?" - Perguntei, olhando para o mar de branco à minha volta - "Por que escolheu esse lugar para se esconder?".

Ela revirou os olhos e bufou, claramente decepcionada por ter sido encontrada - "Achei que aqui não tinha nenhum artigo de necessidade comum, e por isso eu não ia cruzar com ninguém. Estava errada, pelo jeito".

"De todas as formas. Esqueceu que temos uma noiva no grupo agora?".

Ela se virou para mim com uma sobrancelha erguida - "A Mel" - Esclareci, estranhando bastante a memória dela sobre o que tinha acontecido só há duas noites - "O Nick pediu ela em casamento durante o jantar, não se lembra?".

Era uma pergunta idiota, com certeza. Eu já sabia a resposta que ouviria antes que viesse - "É que aconteceram certas coisas um pouco mais complexas de lá para cá... Minha cabeça não comportou o jantar inteiro".

Assenti. Fui na direção dela e me sentei no pufe extremamente desconfortável na sua frente - "Enfim, eu queria falar com você sobre uma coisa. Pedir sua permissão, na verdade" - Falei baixo, estudando sua expressão - "Acho que já está na hora de pensarmos no nosso suprimento de comida a longo prazo. As frutas e verduras que conseguimos salvar não foram muitas e elas já estão com os dias contados. Mas eu posso planejar um cultivo. Uma plantação, uma horta, do que quiser chamar. Isso nos daria mais estabilidade ainda".

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora