Abraham's p.o.v.
Ela passou o dia inteiro sorrindo... Olhando para mim de soslaio, como se quisesse ter certeza de que eu estava prestando atenção; vendo-a circular por toda a parte, falar com todo mundo, ser simpática. Como ela nunca foi.
Elizabeth estava armando o próximo desaparecimento, eu tinha certeza. Ia ser hoje. E por algum motivo, ela não estava tentando disfarçar; chegou a me olhar nos olhos umas três vezes durante a tarde. Até sorriu e me deu um tchauzinho num certo momento, como se a minha expressão para ela estivesse receptiva. Não estava. Se ela não ia sequer fingir que não estava planejando alguma coisa, eu é que não ia fingir que não estava percebendo. Pelo contrário. Se só eu sabia quem ela era de verdade, então eu era o único que não podia virar o rosto.
Na primeira chance que ela me desse de provar que ela era a culpada de tudo... A imbecil ia voltar para a gaiola, e dessa vez nunca mais ia sair.
Não tirei os olhos dela para nada. Desde às seis da manhã, até anoitecer, fiquei em cima da garota, sem perder nenhum movimento, nenhuma atitude, nenhuma troca de palavras com quem quer que fosse. E quando todo mundo se retirou para dormir, eu reuni um grupo de cinco ou seis caras. Íamos ficar de tocaia esperando que ela cometesse o erro da noite.
Não que alguém tenha ficado feliz com isso - "Abraham, pelo amor de Deus. São três da manhã" - Começaram.
"Eu passei o dia inteiro carregando água e pedras. Estou quebrado. Era meu direito pelo menos poder dormir".
"Você está parecendo um doido. Está falando e agindo feito um doido, sabia disso?".
"Falem baixo!" - Sussurrei, sem tirar os olhos nem a concentração do trailer da Elizabeth.
"Olha, a gente sabe que não é a primeira vez que você faz isso. O acampamento inteiro vê que você não come, nem dorme. E agora, olha para você mesmo. Conseguiu alguma coisa com isso tudo? Tem alguma pista dos desaparecimentos? Qualquer que seja?".
Travei a mandíbula.
"Você está fazendo as mesmas coisas e esperando um resultado diferente. A própria definição de loucura".
"Eu quero dormir, caralho".
"Shhhhhh!!" - Sibilei, virando para eles finalmente - "Não é possível. Será que sou só eu que me importo?! Toda a semana pessoas estão desaparecendo sem explicação nenhuma. E tudo bem, claro, como exigir empatia por desconhecidos de criminosos feito vocês? Mas semana passada, foi a Summer. Ela tinha um nome para vocês, não tinha?".
Um deles bufou - "O nome da pessoa mais irritante do acampamento. Já foi tarde".
"Não é esse o ponto aqui, imbecil" - Tranquei tanto os dentes que minha mandíbula doeu - "O ponto é que quem está fazendo isso acabou de ficar mais ousado. Não está mais indo atrás de gente que ninguém vai sentir falta. O próximo pode ser um de vocês".
Todos eles fizeram caretas - "Até parece".
"É por isso que estamos vigiando o trailer da Elizabeth, então?" - Um deles disse com deboche - "Está achando que ela está em perigo?".
Dois deles riram enquanto eu me engasgava de raiva - "Perigo? Ela? Aí já é loucura demais, não acha?".
"Até que seria bom. Se essa "coisa" que está fazendo todo mundo sumir fosse atrás dela... Seria o fim dos nossos problemas com os sumiços".
Fiquei pronto para estourar em um segundo por escutar aquilo. Mas, fui interrompido por um barulho em uma das fronteiras do acampamento, na linha da floresta; como o som de algo caindo, seguido de passos apressados.
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Polaris - Sobreviva Conosco
Ciencia FicciónMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...