Noah's p.o.v.
Respira fundo.
Controla os batimentos, relaxa o corpo, conta até 100.
Fecha os olhos.
Quem você ama está seguro. Quem você ama vai sobreviver, e isso já é lucro, não importa o que aconteça no final.
Conta até 100 de novo.
Mais uma vez, porra.
Eu não vou morrer assim, entende isso de uma vez por todas. Não desse jeito, não agora, mesmo sendo culpa minha - Mesmo sendo ideia minha.
O fim não era para ter sido esse. Devia ser rápido, como foi com todos os meus homens, como eu fiz ser, aliás. E agora, já fazia uma eternidade que eu não escutava mais ninguém gritando lá fora. Tinha acabado para eles. Mas, eu ainda estava aqui. Soterrado debaixo de uma montanha de pedras, há já quatro dias.
Eu preferia mil vezes ter morrido de instantâneo. Eu não teria como lutar contra isso, teria só que assumir o que eu fiz. Só que agora... Lutar era tudo o que me restava. Sobreviver, depois que matei todo mundo.
Respira fundo, Noah.
Se você ainda está aqui, tem um motivo. Se ainda está aqui, tem que continuar.
Minhas mãos e cotovelos sangravam. Meus joelhos estavam completamente esfolados. Meus músculos travados, de tanta força que eu fazia para mover as pedras em cima de mim, o tempo todo. E nunca resultava em nada. Nem mesmo um centímetro de movimento.
Pelo menos eu tinha ar. Isso queria dizer que os encaixes entre as pedras não eram perfeitos. Tinha que ter algum ponto específico que se empurrado, se partiria. A questão era se se partiria para fora, ou para cima de mim.
A essa altura, nem importava mais.
Eu tenho que sair daqui. Eu preciso daqui, agora mesmo.
Merda, quando foi que eu fiquei claustrofóbico? Quando que o escuro começou a me incomodar tanto assim? Quando fiquei tão aterrorizado com o meu próprio sangue? Isso não é nada. Eu já fui enterrado vivo antes, mais de uma vez. É só sangue. Por toda a parte. É só sangue.
Um pedaço de ferro da viga principal me transpassou no abdômen na hora que tudo veio abaixo. Eu podia sentir a outra ponta do metal encostando no chão atrás de mim. Eu estava empalado. E a única coisa que me impedia de sangrar até morrer era o próprio ferro me atravessando. Se eu o arrancasse do lugar, só ia levar uns 25 segundos para eu sangrar tudo o que eu tinha no corpo. E depois de quatro dias, essa ideia não me parecia mais tão ruim. Seria tão pior assim do que sangrar gota por gota, lentamente, por sei lá mais quantos dias? Eu não sabia mais.
Pelo menos eu tinha uma solução rápida para o momento em que eu me desse conta de que eu não ia a lugar nenhum. Eu ia guardar aquilo. Se ficar pior é só tirar o ferro, Noah.
Do que é que eu estou falando? Como que isso poderia ficar pior?
Meu corpo já estava esfriando; meus dedos já formigavam; minha boca estava seca e minha cabeça embaralhada. Daqui a pouco o pânico ia perder força para o sono. Aí, viriam as alucinações. Minhas chances de sobreviver seriam mínimas a partir daí. Não vou aguentar outro dia. Cheguei no meu limite.
Empurrei as pedras acima da minha cabeça mais uma vez; pus toda a força que eu tinha, soltei um grito a plenos pulmões, sentindo minhas mãos queimarem de tão esfoladas. E não adiantou nada. Nada se mexeu. E dessa vez, me senti esgotado.
O sono já chegou?
"Eu vou morrer" - Admiti, finalmente, ofegante, sentindo meus olhos ficarem pesados - "Estou morto".
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Polaris - Sobreviva Conosco
Ciencia FicciónMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...