Eu sou a confusão

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ALERTA GATILHO

Este capítulo contém descrições de cenas de violência contra mulher e pode ser sensível para algumas pessoas. A leitura é de critério do leitor.

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Estava sendo exatamente como eu tinha imaginado que seria.

Ele e eu, no silêncio completo e constrangedor, caminhando um do lado do outro como que fingindo que as árvores ali eram os únicos seres vivos servindo de companhia; fingindo que eu não queria sair correndo, ou que ele mesmo não adoraria pular no meu pescoço.

Eu o olhava de soslaio, pelo canto do olho... Torcendo para pegá-lo olhando de volta para mim enquanto caminhávamos, porque talvez isso quisesse dizer que ele também estava desconfortável; que ele também queria me dizer alguma coisa. Mas não era o caso. Liam seguia de cabeça baixa o tempo inteiro... Concentrado no caminho.

Deus, como eu queria dar um soco na cara dele. E pedir desculpas ao mesmo tempo.

Liam era um cara experiente. Tinha no mínimo uns 25 anos, e muitas histórias de combates já antes do surto, que dirá agora. Eu via isso quando o olhava: ele não fazia o tipo que tinha tempo de se ressentir ou voltar atrás em certos assuntos. Quando dava algo por encerrado, estava encerrado; e então, só lhe restava seguir em frente. O problema, no entanto, era que, dessa vez, esse “algo” era uma pessoa. Esse algo era eu. E por mais que tentasse, ele não conseguia se livrar de mim.

Por algum motivo, comecei a pensar em como teria sido se eu o tivesse conhecido antes. Muito tempo antes, sem a interferência do surto até. Provavelmente também não gostaria tanto dele naquela época... Porque com o Noah por perto eu era ainda mais influenciada... E uma coisa era certa: meu irmão não gostava de agentes. Para ele, os lutadores tinham que estar sempre na frente de batalha, e qualquer coisa fora disso se chamava covardia.

Caramba. Acho que eu não iria com a cara do Liam mesmo em circunstâncias normais. Mesmo sabendo que de covarde ele não tinha nada, e que eu é quem era a medrosa da história.

Suspirei alto, me desviando das pedras, diminuindo o passo e me afastando do Liam sutilmente, sem perceber, ficando para trás; só para sentir melhor o peso daquele clima de acusação, muito mais do que eu deveria.

Parei de andar.

Eu ia explodir... Não sabia como, mas sabia que ia acontecer, de um jeito ou de outro. Provavelmente em lágrimas. E teria sido naquela hora, com certeza; teria sido daquele jeito e naquele lugar que eu começaria a me desesperar feito uma louca... Não fosse o fato de que diminuir a velocidade me obrigou totalmente a prestar mais atenção no caminho: então não levei nem cinco segundos para perceber o pedaço de galho despontando há uns dois ou três metros da minha cabeça.

Sorri de leve, de imediato, sem querer... Porque finalmente uma vitória me aparecia.

Dei uma última olhada rápida no Liam, que continuava caminhando como se nem tivesse percebido que eu tinha parado, e sem pensar duas vezes larguei tudo para começar a escalar a árvore.

"Mas o que que..." - Assim que eu tirei meus pés do chão, ouvi ele reclamar ao longe, enquanto voltava pela trilha para se aproximar - "Será que eu posso saber o que você está tramando agora?".

Estranho finalmente ouvir aquela voz. Como se eu estivesse reencontrando uma pessoa que não via há muito tempo. Mas fingi que não era nada demais. Só respondi pausadamente, forçando meu corpo cada vez mais para o alto, um galho de cada vez - "Esse tipo de madeira... É perfeito para... Confeccionar arcos".

Ele grunhiu com sarcasmo - "Mas é claro que é".

Olhei para baixo na mesma hora, sem entender o comentário, e o achei de braços cruzados, com o rosto virado. Mais aborrecido do que nunca - "Tem alguma coisa para me dizer?" - Perguntei.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora