Agora era certo. Eu não tinha lugar para dormir.
Estava bem confortável passando as noites no chão ao lado da minha cama vazia há meses, mas agora era diferente. Agora todo mundo me tratava como se eu fosse um risco de vida manifestado em carne; uma pessoa em que eles eram obrigados a confiar por falta de opção; uma mentirosa sem correção como a figura política que eu era. O que não deixava de ser verdade. Eu assumia. Tudo o que eu fiz e tudo o que eu escondi... Faria de novo. Porque foi pelo bem de todos.
Pena que eu era a única que via assim. Mas ninguém me dizia nada, é claro. Além do James e de algumas poucas pessoas, ninguém tinha me posto contra a parede para que eu explicasse a história da infecção, ou qualquer uma das outras coisas que escondi. Não tinham coragem de me confrontar. E eu não sabia se isso era bom.
O clima, então, não estava dos melhores, aonde quer que eu fosse. Não me sentia confortável para dormir entre eles, porque eu sabia que eu deixava a atmosfera pesada... Também não podia ir para a cobertura, porque Liam ainda dormia lá praticamente todas as noites - E desde a nossa última conversa eu não conseguia ficar perto do cara sem tremer... Ao contrário dele, lógico. Liam agia como se absolutamente nada de fora do comum tivesse acontecido; como se ele não tivesse me dito na cara dura que só não tinha rolado nada entre nós dois porque não era a hora.
E eu me recusava a pensar a respeito no momento; me recusava a ficar me perguntando por quê eu não tinha coragem de subir até onde ele estava, forrar um colchonete e dormir de forma natural, como ele mesmo estava fazendo.
Então saí do dormitório, desistindo de tentar resolver essas equações. E só subi até o consultório do Doc com um travesseiro debaixo do braço, planejando visitar o Alex e obrigá-lo a dividir seu quarto comigo - "Já é a terceira vez que você me visita só hoje" - Ele sussurrou no escuro assim que me viu passar pela porta na ponta dos pés - "O que está aprontando lá fora?".
Sentei do lado dele como que cedendo ao meu peso, feito um saco de batatas despencando em cima de outro saco de batatas. E dei de ombros, sem abrir a boca - "Você sabe que eu já sei de tudo o que aconteceu, não é? Outras pessoas também me visitam" – Ele disse, erguendo uma sobrancelha na minha direção, pálido como só vários dias naquela cama de hospital podiam deixá-lo.
"Se sabe, então por que está me perguntando?".
"Porque de repente o que você precisa é desabafar. Vai saber".
Suspirei, recostando-me na cadeira... Concentrando-me no bip constante vindo do monitor ao lado dele - "Sei que eu não sou nenhum Stefan, mas..." - Completou - "Também sou seu amigo".
A escolha de palavras dele me sobressaltou - "Primeiro que o Stefan não é mais meu amigo. Segundo que você também não é".
"Não sou?".
"Você nunca discorda de mim em nada e sempre faz o que eu mando, Alex. Não é amizade se você age como se fosse meu capanga".
Ele riu - "Talvez eu seja mesmo, e daí? Você não é o tipo de pessoa que atrai muito mais coisas além de fidelidade. Olha em volta".
"A-ha!" - Apontei para ele como se eu tivesse feito uma grande descoberta - "Você não está sabendo de tudo coisa nenhuma. Se soubesse, não me diria isso".
"Não é porque as pessoas estão chateadas com você que agora são infiéis, Elizabeth. Aposto o meu rim que qualquer um lá fora ainda tomaria um tiro por você, assim como eu fiz".
"Se você está dizendo...".
"E o Stefan é um deles".
Travei a mandíbula e desviei o olhar - "Por que ainda estamos falando nele? Já disse que não somos mais amigos".
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Polaris - Sobreviva Conosco
Science FictionMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...