Porra.
Porra, porra, porra.
Deixei uma porcaria de meia vermelha dentro da máquina junto com os lençóis de todo mundo. Agora todas as camas do dormitório iam ficar rosa bebê.
Quem é que usa meia vermelha, pelo amor de Deus?
"Olha só o que você fez, seu idiota" - Joguei a meia desbotada e molhada na cara do James enquanto ele varria o chão por detrás das secadoras. Porque mesmo com a exigência que fizeram de nunca estarmos na mesma tarefa, James sempre dava um jeito. Se ele tinha que varrer e eu tinha que lavar a roupa, então ele com certeza ia varrer o chão da lavanderia.
Bem... Dessa vez ele escolheu o dia errado para estar perto de mim.
Ele parou na mesma hora e pegou a meia do chão para jogar ela de volta em mim - "Tá louca? Eu acabei de chegar aqui, como que eu já fiz merda?".
"Eu explico como. Ontem à noite, quando você tirou essa meia nojenta desse seu pé nojento e enfiou a cretina no meio das suas cobertas cretinas, foi assim".
"Ou, ou, ou, o que foi que te deu?".
Bufei e lhe dei as costas, sem responder. Então ele continuou - "No começo eu achei que você só estivesse de TPM, mas já fazem, o quê? Umas três semanas que você está sendo uma bruxa sem parar e sem motivo nenhum?".
Larguei o balde no chão na mesma hora e o encarei de frente - "Em primeiro lugar..." - Rosnei, puta da vida - "Essa foi a coisa mais machista que você já me disse. Em segundo lugar..." - James imediatamente apoiou um braço na vassoura, com cara despreocupada, como se estivesse se preparando para ouvir uma palestra - "Sem motivo nenhum? Você manchou todos os lençóis dessa porra de shopping".
"Tecnicamente, era você que estava encarregada da lavanderia. Tudo o que eu fiz foi dormir de meias, acordar, e vir varrer o chão".
"Mas isso não teria acontecido se você fizesse a sua cama!!" - Berrei, como se fosse mãe dele - "Se os seus lençóis estivessem forrados como os de todo mundo, eu teria visto a porcaria da...".
"A culpa foi sua, bebê".
Parei, indignada com a tranquilidade com que fui interrompida - "O que foi que você disse?".
"Assuma a responsabilidade. Encare o espelho. Aponte o dedo para você mesma. Ou qualquer outra frase de autoajuda manjada. Porque é bem disso que essa sua loucura está precisando. De ajuda. Agora me deixa fazer meu serviço em paz e não se esquece que eu gosto das minhas cuecas lavadas com bastante amaciante, ok?".
Assim que terminou de falar, James ainda me deu as costas para voltar a varrer, sorrindo como se nada tivesse acontecido, como se a discussão tivesse acabado perfeitamente para ele. Pois estava longe de acabar. Peguei o mesmo balde que larguei no chão, e num só movimento, atirei todo o meio galão de água ensaboada e gelada nas costas dele, sem hesitar.
Meio que só fui me arrepender quando o vi dar uma tremida de frio, assim que o atingi em cheio. Mas, durou pouco. Só o tempo que levou para ele se virar e me encarar de frente, com uma expressão completamente assassina - "Você pediu por isso" - Justifiquei, temendo o banho que eu provavelmente ia levar também. E tive essa teoria confirmada quando ele largou a vassoura no chão e começou a vir na minha direção, lentamente, feito um tubarão.
Recuei - "Isso é o que você ganha por ser imbecil, não posso fazer nada".
"Filha da puta".
"Como é que é? Fala direito com a sua líder".
"Filha da puta!" - Gritou, vindo devagar até mim enquanto eu sutilmente ainda recuava para o mais longe possível, tentando não agitar mais a situação.
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Polaris - Sobreviva Conosco
Science FictionMeu nome é Elizabeth Harlow. Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington, há seis meses atrás. E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que...