Vou te dar o que você quer

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Aquela foi uma noite longa e estranha.

Na verdade, estávamos passando por uma sucessão sem fim de noites longas e estranhas desde que decidimos ir embora... Noites mais escuras e assustadoras que o normal.

Começava, de algum jeito, quando parecia que havia uma espécie de névoa à nossa volta, nos escondendo e nos mantendo sonolentos dentro da cerca, como que embalados por uma canção de ninar esquisita - O sol mal desaparecia e já estávamos todos espalhados na clareira, uns em suas barracas, e outros, como eu, de cara para a lua, apoiados em pedras.

Estávamos cansados. E era isso o que o medo fazia; era isso o que a certeza de que uma hora teríamos que sair dali fazia. Talvez fosse tristeza o nome verdadeiro daquilo. Mas, de qualquer forma, nossa reação principal, por mais incrível que parecesse, era dormir. Sem hora para acordar.

Bem, pelo menos eles estavam assim. Já eu, naquela noite, acordei no meio da madrugada e não consegui mais pregar o olho nem por um decreto. E não era a primeira vez que aquilo acontecia. Desde que Heyden e eu discutimos na frente de todos o clima não era dos melhores; eu e ele passamos uns três dias nos odiando à distância, em silêncio, como todo o resto do acampamento: porque, sim, as pessoas realmente levaram à risca a ordem de banimento total de barulho que ele deu.

Evitávamos conversar; evitávamos fazer coisas; evitávamos até mesmo caminhar perto da cerca. Durante aquela semana inteira só existimos, enquanto eu assistia de camarote o que a notícia de falta de segurança podia fazer com as pessoas. Todos estavam no limite; cedendo ao limite, de jeitos diferentes.

Karoline não dizia uma palavra, por mais impossível que parecesse. Stefan não olhava para ninguém, a não ser para a cerca. James não sorria mais. Alycia não largava a faca. Leah vivia limpando as armas do estoque repetidas vezes, sem parar... E Heyden... Bem, ao contrário dos outros ele continuava o mesmo - Todas as noites umas três garotas entravam na tenda dele e só saíam de manhã. E, durante o dia, ele sequer aparecia... Quando mostrava a cara era só para me ameaçar com os olhos de novo - Parecia pensar que eu sempre estava armando alguma coisa; sempre me preparando para ferrar com tudo... Não confiava nenhum pouco em mim. Porque eu também não confiava nenhum pouco nele.

E esse tipo de coisa podia tirar meu sono facilmente.

Então, lá estava eu, perto de uma fogueira, observando o céu escuro por umas duas horas e respirando devagar, como se o tempo tivesse parado. Só existindo, como todo mundo... Até que escutei um som; um barulho abafado, mas real e provocado, como eu já não escutava há muito tempo.

Franzi a testa, estranhando a sensação, e já fui logo me sentando enquanto coçava os olhos, para descobrir o que estava acontecendo e quem estava "ousando" desobedecer o Heyden... E na mesma hora vi a fonte do barulho - Havia um homem do lado de fora da cerca, encapuzado, desatando os nós da passagem de entrada com tanta facilidade que eu tinha certeza: ele já tinha feito aquilo antes - Por isso não me preocupei, por mais que não conseguisse ver o seu rosto - Nick e Katherine também estavam de vigia do lado de fora naquela noite. Deixaram ele passar.

Então, continuei sentada, entre as outras pessoas adormecidas, observando em silêncio aquele homem entrar na clareira de forma decidida, como se estivesse chegando em casa depois de um longo dia de trabalho.

Ele caminhou firmemente até a tenda de Heyden, e deixou um embrulho deslizar de seus ombros bem na porta, sem cerimônias. De longe, vi uma espécie de penugem aparecer do lado de cima, escapando quando caiu no chão. Era um animal morto ali dentro. Um animal grande.

Aí descobri quem era aquele homem. Finalmente, era ele. E por eu saber exatamente quem estava por debaixo daquele capuz é que eu pensei que depois de deixar o embrulho ele simplesmente viria até mim e me daria o que tinha prometido, devagar e silencioso, como da primeira vez. Mas, não foi bem assim. Em vez de se dirigir até mim calmamente para me dizer como estava a situação do lado de fora, ele começou a voltar, exatamente pelo mesmo caminho pelo qual entrou, quase pisando em suas próprias pegadas. E rápido como chegou, se foi. Passou pela cerca com facilidade e desapareceu no meio das árvores escuras.

Polaris - Sobreviva ConoscoOnde histórias criam vida. Descubra agora