Me afogar em trabalho para fugir das minhas questões mal resolvidas pareceu uma boa ideia nos primeiros dois dias da semana.
Fiquei tão determinada a ignorar meu celular para não ceder à tentação de checar as manchetes de futebol, que minha mãe começou a reclamar da minha falta de resposta às imagens com frases fofas de bom dia que ela me manda todas as manhãs.
Minha tentativa de fuga mental parou de funcionar no meio da semana, quando Samira entrou no meu quarto gritando que Alessandra Costa queria conhecer seu trabalho.
O esforço para não pensar nele já se mostrava uma tarefa hercúlea com meus colegas de estágio fazendo bolões sobre quantos gols Zac Dilan marcaria na semifinal de domingo. E com Samira falando sem parar sobre seus encontros com a modelo pelo resto da semana, passou a ser impossível não ficar relembrando as interações daquela noite com Alessandra, Fabinho e, consequentemente, Zac.
Ele não falou comigo no dia seguinte. Nem no posterior. Logo entendi que sua falta de mensagens era, na verdade, uma mensagem.
Fiquei triste no início. Depois, magoada. Mas o que me abalou mesmo foi receber uma ligação de Dora, a faxineira que trabalha na casa dele, informando que esqueci coisas minhas lá.
Dora não tinha meu número, portanto, sei que ela comunicou a ele sobre os pertences que deixei para trás. Zac não teve a consideração de me falar ele mesmo.
Falei para Dora que eu estava muito ocupada e buscaria quando desse. Mas a verdade é que eu estava adiando ao máximo o momento de ir na casa dele. Eu não iria usar a senha para entrar no apartamento e não conseguiria ir no horário que Dora estaria por lá. Sendo assim, teria que encarar Zac.
Imaginei que ter que lidar com a nossa situação mal resolvida nesse momento seria um aborrecimento desnecessário para ele, pois as expectativas e a cobrança do penúltimo jogo estão sobre seus ombros. Também achei que ele estivesse muito ocupado com os treinos. E achava isso até um minuto atrás.
Mas agora, diante da manchete que estampa a tela do meu celular, sei bem com o que ele estava ocupado.
Cretino.
A raiva borbulha dentro de mim fazendo meus dedos tremelicarem enquanto percorro a manchete publicada ontem à noite, sobre o beijo no hotel Ritz com a loira misteriosa.
É ao ver as matérias seguintes, revelando quem é a loira misteriosa, que o vulcão dentro de mim entra em erupção: Pamela Tavares, a modelo que eu mesma falei para ele que ele deveria namorar.
Ele poderia ficar com qualquer mulher e decidiu ir atrás justo da que "escolhi" como seu par perfeito.
Canalha.
Vou agora mesmo buscar minhas coisas e depois cortarei todos os laços com esse ordinário.
Abro a conversa com o bandalho desclassificado e digito furiosamente:
"Estou indo pegar as minhas coisas!"
Ele fica online imediatamente e responde:
"Olá, Rebeca. Ok, estou aguardando."
A formalidade e a polidez de sua mensagem atiçam o pior de mim.
Parto em direção à porta a toda velocidade. Ignoro Samira na saída do apartamento. Agora faz sentido ela ter pairado ao meu redor ontem a noite, demonstrando uma preocupação exagerada com o meu plano de ficar em casa em uma noite de sexta-feira. Samira estava era com medo de eu ver as notícias. Bom, eu já vi, mesmo com um dia de atraso.
Nem o percurso de ônibus, nem os dez minutos de caminhada do ponto até o condomínio do boboca são capazes de aplacar a minha ira.
Antes de tocar o interfone na portaria, a biometria lê meu rosto e o portão se abre automaticamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jogada de Craque
RomanceAs probabilidades não poderiam estar mais enganadas ao afirmar que as chances de Zac Dilan - o grande camisa dez do Cruzeiro - chutar a bola na direção da arquibancada e acertar em cheio a cabeça de Rebeca - a odiadora número um do esporte - eram ze...