41° Passe

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Meu coração estronda em um ritmo frenético e desesperado pela possibilidade que acabo de considerar.

Olho para Zac em pânico.

— Zac... naquela noite que ficamos bêbados... a gente... ah, meu Deus — enfio as mãos nos cabelos sentindo o chão ameaçar me engolir.

— Não. Não aconteceu nada. Fica tranquila — ele afirma com convicção.

— Como você tem tanta certeza? Você também estava bêbado! Pode ter perdido parte da memória também!

— Nada no mundo seria capaz de me fazer esquecer uma memória dessas com você, Becky.

As palavras dele me acertam com a força de um tornado.

Zac percebe o impacto do que acabou de dizer e desvia os olhos, constrangido, culpado, arrependido.

O banheiro é grande, mas a tensão faz ficar pequeno demais para nós dois.

Sentimentos contraditórios se digladiam dentro de mim.

Sem que eu possa evitar, um pensamento irracional atravessa todas as barreiras da moralidade:

Eu queria que tivéssemos essa memória.

Sinto o rosto queimar de vergonha por tal pensamento. A razão me reprime e me condena por pensar isso. Por outro lado, a emoção me lembra que isso faria parte de um momento em que estávamos agindo de forma inocente.

Enquanto tento dissipar a contradição dentro de mim, busco os olhos de Zac desejando encontrar pistas do que se passa em sua mente.

O olhar dele sobre mim é cheio de uma emoção que ele parece tentar conter, mas falha. É um olhar apaixonado.

— Zac, não me olha assim — peço baixinho.

— Eu não consigo, Becky — ele meneia a cabeça bem devagar.

Meu coração erra uma batida. Não, ele erra a sequência toda de batidas.

— Mas se você não conseguir, eu vou ter que ir embora.

O rosto dele se contorce, como se pensar em minha partida fosse doloroso.

— Por favor, não vai. Eu vou me esforçar mais — ele dá um passo atrás, aumentando a distância entre nós.

Me sinto tonta de repente e me encosto na pia. Zac não desvia os olhos nem por um segundo.

— Você ainda está me olhando daquele jeito.

Ele desvia os olhos, constrangido.

— Desculpe. Vamos voltar para a sala — ele diz e sai sem me olhar.

De volta à sala, cada um se senta em um sofá, mantendo uma distância que parece maior do que realmente é. A tensão entre nós é quase tangível, uma corda esticada que pode arrebentar a qualquer momento.

Mas estamos aqui por um motivo: descobrir a verdade. Então retomo o assunto.

— Eu vou conversar com a minha mãe. Vou pessoalmente exigir a verdade. Não será necessário desenterrar a minha tia para fazer um teste de DNA.

Uma carga emocional de dor ameaça me tragar. Fecho os olhos com força, tentando me manter firme à vontade de chorar.

— Você não merecia passar por nada disso, Becky. Não tenho palavras para dizer o quanto eu lamento — Zac diz em tom gentil.

Abro os olhos e encontro o olhar preocupado dele.

— Você também não merece nada disso — respondo baixo, a altura que o nó em minha garganta permite.

Jogada de CraqueOnde histórias criam vida. Descubra agora