Eu já tinha ouvido falar sobre paparazzi de perseguição. São como bactérias super-resistentes aos antibióticos: não se contentam em esperar na porta de casa; seguem o alvo a qualquer lugar.
Sei que Zac é um jogador de futebol famoso e um escândalo de traição é um prato cheio para a mídia, mas precisa mesmo ter uma moto scooter lá embaixo pronta para a ação?
Se eu sair, me seguirão até a casa de Zac.
Já era ruim que me vissem com ele antes, no entanto a consequência disso seria apenas a confirmação de um relacionamento entre nós. Mas agora, ser vista chegando na casa dele depois de tê-lo "traído", venderia uma imagem pior do que a de corno: corno manso.
Não posso fazer isso com Zac. E é por isso que enfio um vestido e uma peruca na bolsa. Sou mais esperta que esses patifes.
Samira está se sentindo culpada por ter lançado o "vou ser a madrinha", mas não tenho tempo de ficar chateada com ela agora, preciso da sua ajuda, sobretudo para atravessar esse mar de câmeras.
No caminho para o Uber, enquanto Samira me puxa pelo braço em meio ao barulho ensurdecedor de gente gritando meu nome e flashes disparando, sinto uma vertigem tomar conta de mim.
O tumulto, o calor dos corpos ao meu redor e a sensação de sufocamento me empurram para o desespero. Meu corpo ameaça desabar, e me arrependo amargamente de ter saído de casa.
Como pude achar que conseguiria fazer isso? Eu deveria desistir agora mesmo e correr para dentro. Sem contar que quando eu voltar para casa terei que passar por isso sozinha. Esse pensamento me faz entrar em pânico.
Samira olha para trás, tentando entender por que eu desacelerei. Ela me puxa com mais firmeza, pois sabe que não estou dando conta.
Quando finalmente entramos no Uber, fecho os olhos com força e busco refúgio em algum lugar da minha mente, mas a gritaria, os clicks e os flashes ecoam na minha cabeça mesmo depois que avançamos duas ruas.
— Bex, eles estão vindo! — Samira vibra, empolgada.
Claro que estão vindo. Eu "traí" ninguém menos que a estrela do futebol Zac Dilan, qualquer passo que eu der agora será acompanhado de perto.
Por isso nosso destino é o shopping.
Dentro da cabine do banheiro, Samira rapidamente veste a calça de moletom de Zac por cima da sua jeans. A pele dela é muito clara, quase como leite, enquanto a minha é café com leite, um tom tênue de marrom. Por isso vim usando um casaco para facilitar esconder sua pele.
Ela coloca o boné de Zac e fico mordida de ciúmes ao vê-la usando os itens que arrecadei dele, mas não há tempo para racionalizar esse sentimento estranho.
— Ai, Bex! Não acredito que vou ser você por um dia! Você é tão famosa! Já estou sentindo o gostinho da sua fama! — ela exclama empolgada enquanto eu escondo seus cabelos loiros embaixo do boné.
Tomo uma curta distância dela e vejo que o cosplay de namorada traíra de Zac Dilan não está tão ruim, contanto que ela mantenha o rosto escondido ao máximo até eu conseguir entrar em um Uber.
— Se concentra, Sami. Preciso que você mantenha o foco. Eles têm que ir atrás quando você sair correndo — oriento.
Ela faz cara e postura teatralmente séria, mas está nítido como se segura para não dar gritinhos de euforia.
Se eu soubesse que precisaria desse esforço todo, não teria saído de casa.
Ou teria? Afinal, a companhia de Zac é boa e um momento de tranquilidade em seu apartamento sem burburinho de paparazzi vai me fazer bem. Além do mais, tenho que pegar minhas roupas na casa dele. O esforço faz sentido, acho.
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Jogada de Craque
RomanceAs probabilidades não poderiam estar mais enganadas ao afirmar que as chances de Zac Dilan - o grande camisa dez do Cruzeiro - chutar a bola na direção da arquibancada e acertar em cheio a cabeça de Rebeca - a odiadora número um do esporte - eram ze...