47° Passe

813 80 137
                                    

Assim que as palavras saem da boca de Pérola, ela curva os ombros como se tivesse tirado o peso do mundo das costas.

A frase ecoa em minha cabeça enquanto um silêncio absoluto preenche a sala.

— Você só pode estar brincando com a minha cara — digo, incrédula com o que acabo de ouvir.

Ela coloca a mão na testa e suspira, parecendo exausta e preocupada.

— É a verdade. Izac... ele... é filho biológico de outro homem. Mas naquela época... eu queria muito ficar com Ricardo. Por isso o fiz acreditar que o bebê era dele.

Minha mente luta para processar a revelação, mas é tão absurda que é difícil assimilar.

— Está me dizendo que você fez a minha mãe ser abandonada pelo marido para ele ir criar o filho de outro homem? — indago, perplexa.

Os olhos dela se enchem de culpa enquanto ela respira fundo.

— Sim, é isso que estou dizendo — Pérola assume com remorso pesando em sua voz.

Sinto meu estômago revirar.

— Você é a maior vilã dessa história — digo com escárnio.

— E você é a heroína, então salve o dia e vá buscar o meu filho.

Meu coração muda de sinfonia.

Zac.

Ele precisa saber imediatamente.

Precisa saber que não somos irmãos!

Minhas mãos tremem enquanto pego o celular apressadamente, mas Pérola coloca a mão sobre a minha com delicadeza.

— Sei que você quer contar para ele e não posso te impedir de fazer isso, mas esse não é o tipo de coisa que se conta por telefone — ela diz baixo, com um olhar apreensivo.

Ela tem razão. Não posso contar assim. Preciso contar olhando nos olhos dele, ver como ele vai processar tudo. Preciso está lá por ele.

Pérola está aflita, provavelmente preocupada com o impacto que a revelação do segredo terá em sua vida conjugal. Mentiras... tantas mentiras ao longo de tantos anos. Mas o que mais me perturba agora não é o passado, é o impacto que isso vai ter sobre Zac.

Pouco me importa se haverá danos colaterais no casamento dela, Zac tem o direito de saber a verdade.

— Preciso ir atrás do amor da minha vida — digo para mim mesma, com uma determinação renovada.

— Você vai?! — o rosto de Pérola se ilumina de esperança.

— Claro que vou!

Ela pega a bolsa do sofá com gestos decididos.

— Pegue suas coisas. Vou levar você até o aeroporto.

Então me lembro de um detalhe importante.

— Eu não tenho dinheiro para a passagem — falo com desânimo.

— É claro que eu vou pagar a sua passagem. Você está indo buscar o meu filho, nada mais justo que eu pagar o frete.

Recusar a oferta nem passa pela minha cabeça. O orgulho não tem vez agora. Não quando preciso correr para os braços do homem que eu amo.

⚽︎

Meu passaporte foi um presente que tia Laís me deu aos dezessete anos. Ela sempre dizia que um dia eu viajaria o mundo inteiro e carimbaria as páginas de ponta a ponta.

Jogada de CraqueOnde histórias criam vida. Descubra agora