Marcamos de nos encontrar em uma cafeteria no centro da cidade. Como eu estava mais perto, cheguei primeiro e escolhi uma mesa recuada no fundo, sem janela.
O aroma de café fresco paira no ar, misturando-se com o burburinho suave das conversas ao redor. Estou me concentrando nas sensações externas para não focar nas internas e assim conseguir controlar a ansiedade e o nervosismo pela expectativa de vê-lo.
De repente, um cara de boné preto atravessa a entrada.
Zac.
Meu coração dispara furiosamente.
Sou pega desprevenida pela lembrança do nosso primeiro encontro no Soho. Como tudo parecia mais simples naquela época...
O gesto casual com que seus olhos sérios varrem o ambiente à minha procuram e de repente suavizam ao me ver faz um frio na barriga me atormentar.
Ele caminha até mim e eu recolho as mãos no colo para tentar esconder a ansiedade que cresce em meu interior.
— Oi — ele diz ao se sentar diante de mim, seu tom carregado de uma tensão que ambos reconhecemos.
— Oi — respondo com a mesma tensão.
Zac tira o boné e o deixa de lado na mesa. Queria não reparar em como seu cabelo fica bonito quando está crescido. Na nuca, faz uma leve curva para fora; abaixo da orelha, curva para frente; sobre a testa, algumas mechas caem bagunçadas.
Por um momento, apenas nos olhamos em silêncio. É desconfortável, mas ao mesmo tempo sinto uma espécie de gratidão por poder ao menos olhar para ele.
— Eu conversei com Ricardo — começo, quebrando o silêncio.
— Que bom. Vocês deveriam conversar mesmo — ele responde, mas há uma nota de cautela em sua voz.
Olhar para esses olhos marrons claros causa infinitos sentimentos contraditórios. Lembranças de momentos românticos de troca de olhares durante o café da manhã no apartamento dele me atingem ferozmente, me fazendo desviar o olhar.
Aperto as mãos no colo e respiro fundo. Preciso ser forte para lidar com isso, por mais difícil que seja.
— Descobri uma coisa estranha conversando com ele — falo baixo, buscando os olhos de café ralo.
— O quê? — ele pergunta, inclinando-se ligeiramente para frente ao mesmo tempo em que coloca os braços dobrados na mesa.
Os pelos de seu braço esquerdo estão bagunçados apontando em direções diversas. A vontade de alinhá-los é algo que reprimo com todas as minhas forças.
— Ricardo afirma que se separou da minha mãe há quase vinte e três anos, quando descobriu que sua mãe estava grávida — falo devagar. — Mas a minha mãe diz que foi há quase vinte e um anos, quando estava grávida de mim. Algo não se encaixa. Acho que pode haver uma possibilidade de nós dois não sermos... — deixo no ar. Ainda não sou capaz de pronunciar essa palavra na frente dele.
Os olhos de Zac brilham com uma esperança repentina, que ele parece tentar suprimir, mas que não consegue esconder completamente.
— Becky, não brinca comigo — sua voz está carregada de uma emoção que me faz estremecer.
— Eu não quero criar falsas esperanças. Isso já é doloroso demais — digo, meu coração agitado com a possibilidade que acabei de levantar.
Zac franze as sobrancelhas e o olhar vagueia em uma direção qualquer, como se seus pensamentos estivessem trabalhando a mil por hora.
— Como o teste de DNA poderia dar compatível? — ele pergunta, confuso.
Confesso que essa parte é a mais complicada. Por mais que eu tenha me empolgado imaginando a possibilidade de algum erro naquele laboratório de ponta, sei que as chances disso ter acontecido são mínimas, quase nulas.
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Jogada de Craque
RomanceAs probabilidades não poderiam estar mais enganadas ao afirmar que as chances de Zac Dilan - o grande camisa dez do Cruzeiro - chutar a bola na direção da arquibancada e acertar em cheio a cabeça de Rebeca - a odiadora número um do esporte - eram ze...