Ainda estou agitada pelo confronto com o jogador salafrário quando o elevador chega ao terraço.
Como se não bastasse o incidente com Zac Dilan, no caminho para a cobertura algumas das pessoas que entraram no elevador reconheceram o meu rosto. Foi tão irritante a forma como eles falavam de mim como se eu não estivesse ouvindo.
Agora que estou na cobertura vejo que vai ser fácil me misturar entre as pessoas, que são muitas, e ninguém mais vai me reconhecer.
O lugar está tão lotado que tenho a impressão de que se chegar mais alguém vai acontecer o mesmo que acontece quando cai mais uma gota de água em um balde que está quase transbordando: ele transborda.
Pessoas transbordando pelas laterais de um prédio de vinte e dois andares. Ok. Isso seria trágico.
O som da banda seria agradável se não houvesse a voz de um homem se sobrepondo com uma ladainha besta sobre a vitória do time, comentando as imagens do telão à esquerda, onde estão sendo exibidos os momentos mais importantes do jogo.
Localizo o bar que se extende pela lateral, que é onde Samira geralmente fica e os caras lhe pagam bebidas.
Ando entre as pessoas temendo que, se ficar parada em um lugar por muito tempo, alguém vai acabar me reconhecendo. Vejo alguns rostos conhecidos, amigos de faculdade, mas não vou até nenhum deles.
O que quero mesmo é achar algo para comer e depois ir embora antes de o time subir e a algazarra aumentar.
O problema é que quanto mais eu ando, mais difícil se torna a passagem.
Quando finalmente vislumbro uma mesa de quitutes, um cara alto e loiro surge em minha frente.
— Você não é a garota que foi boleada pelo Zac hoje? — ele sorri como se tivesse encontrado um saco de dinheiro.
— Não sei do que você está falando — tento me esquivar.
— Sim, é ela! — um homem ao lado do loiro aponta para a minha testa. — Olha a marca, caraca!
Jogo o cabelo na frente depressa.
— Isso não foi uma bolada. Eu caí de bicicleta e bati a cabeça. — É uma boa desculpa, vou usá-la daqui em diante.
— Ei, é a garota da bola na cabeça! — um terceiro se junta. — Cara, foi uma porrada forte, viu? Deu muita dó na hora.
Por que isso seria tão interessante? As pessoas agem como se fosse algo grandioso.
— Você estão me confundindo, eu nem tava no estádio hoje — meneio a cabeça, mas meu pescoço dói com o movimento.
— Olha lá, é você no telão! — o loiro aponta eufórico.
Sigo a direção que ele aponta e vejo minha cara, e não é uma cara muito bonita.
O momento da queda foi o pior, uma queda desengonçada e desastrosa.
E por que raios eu joguei os braços para cima?!
— Urgh. Que porradão! — um dos garotos comenta, mas continuo olhando para a tela, pois agora a câmera mostra o rosto de Zac vendo o destino da bola que ele chutou.
Ele fez uma careta como se estivesse sentindo a dor e imediatamente correu para fora do campo, entrando na arquibancada e sendo ovacionado pelo ato heroico.
Engraçado como na hora eu também achei que ele fosse um herói. Mal sabia eu que, na verdade, ele era o vilão.
— Olha só, encontramos a torcedora atingida pelo craque hoje! — diz uma repórter, apontando um microfone de emissora na minha direção.
Ao lado dela, um cinegrafista ajusta a câmera, e a luz forte do equipamento me cega.
Pisco várias vezes enquanto tento seguir em qualquer direção, mas a luz e a jornalista me perseguem.
Eu não devia ter vindo para essa maldita comemoração.
Esfrego os olhos para tentar dissipar a cegueira da luz fluorescente, e eles começam a lagrimejar.
Quando penso que estou encurralada, um novo barulho desvia a atenção da jornalista e do cinegrafista: o time chegou na cobertura.
Sei disso pelos gritos e aplausos que explodiram de repente.
— Aí está o nosso time campeão! — o homem que comentava sobre o time no microfone anuncia e o barulho dobra.
O foco está nos jogadores, é a minha oportunidade de escapar sem muitos transtornos.
Jogo o cabelo na frente do rosto e me apresso na única direção possível.
Minhas pernas se movem rápido. Piso sem querer nos pés de algumas pessoas, mas estou tão apressada que não dá tempo de ouvir xingamentos.
Chego a um ponto onde não dá mais para avançar. Tento outra direção, mas também está bloqueada. Olho ao redor, desesperada, percebendo que estou cercada, encurralada. Não há como sair.
— Zac, olha pra mim! Eu te amo, Zac! — uma garota berra, chorando. — Sou sua fã número um!
Perto dela, uma brecha se abre na multidão. É a minha chance.
Corro na direção da liberdade.
Então acontece: colido com um corpo masculino que imediatamente me ampara.
Levanto os olhos e encontro um jogador me observando surpreso.
Minhas mãos estão agarradas à camisa dele, e um dos braços dele envolve minha cintura para dar suporte ao meu corpo desequilibrado.
Flashes disparam de todos os lados.
Ótimo. Pareço uma fã louca que se atirou no time.
Enquanto tento recuperar o equilíbrio, olho em volta assustada e vejo que o resto do time também está me olhando.
Um dos jogadores na frente se vira para olhar também e...
Zac.
Nossos olhos se encontram por uma fração de segundos, mas logo a voz do jogador que me segura atrai minha atenção.
— Ei, você não é a garota que Zac acertou bem na cabeça? — ele pergunta com um tom brincalhão.
— Não — respondo, me soltando dele e saindo depressa.
Vejo um caminho semiaberto por onde o time entrou e sigo por ele de cabeça baixa, evitando que vejam meu rosto.
— Olha a bola! — uma voz grita à minha frente e eu paro abruptamente.
Ao erguer a cabeça, sou surpreendida pelo flash de uma câmera.
Pisco os olhos, tentando recuperar a visão que o flash deixou preta, e retomo meu caminho, passando pelo fotógrafo sem responder suas perguntas sobre meu nome, idade e como estou me sentindo após interagir com meu ídolo Zac Dilan.
Dentro do elevador, respiro fundo e tento não pensar nas consequências que este dia terão para o resto da minha vida.
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Jogada de Craque
RomanceAs probabilidades não poderiam estar mais enganadas ao afirmar que as chances de Zac Dilan - o grande camisa dez do Cruzeiro - chutar a bola na direção da arquibancada e acertar em cheio a cabeça de Rebeca - a odiadora número um do esporte - eram ze...